Angela Merkel no norte de África com refugiados na agenda
Stephanie Höppner | gs | AFP | Lusa
2 de março de 2017
A chanceler alemã viaja esta quinta-feira para o Egito e sexta-feira estará na Tunísia. Além da crise dos refugiados, o combate ao terrorismo é outro dos temas principais a abordar durante a deslocação de Angela Merkel.
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O Governo alemão pretende apoiar na proteção das fronteiras, a fim de combater o tráfico de pessoas no Mar Mediterrâneo, que todos os anos causa milhares de mortos. Berlim quer também acelerar os procedimentos para deportar requerentes de asilo rejeitados para os seus países de origem.
No Egito, Angela Merkel deverá falar sobre a guerra civil na vizinha Líbia, de onde muitas pessoas partem todos os dias em barcos rumo à Europa. A chanceler alemã deverá também abordar a questão de um possível acordo sobre os refugiados, como aconteceu com a Turquia, prevê Joachim Paul, diretor da Fundação alemã Heinrich Böll na capital tunisina Tunes.
"O Governo Federal e a União Europeia (UE) estão a fazer tudo para trazer uma mudança à política de migração. Neste contexto, a UE pretende que sejam tomadas medidas no norte de África para evitar que migrantes e refugiados atravessem o Mediterrâneo com destino a Itália e à Grécia", explica.
No entanto, a Human Rights Watch (HRW) apelou à chanceler alemã a não prosseguir com acordos que possam fazer com que os refugiados fiquem encurralados na Tunísia e no Egito. Países "que não podem garantir um tratamento digno ou um acesso significativo ao asilo", segundo a organização de defesa dos direitos humanos.
Críticas ao regime egípcio
Aos olhos de Berlim, o Egito é "um país importante" pelo seu tamanho e influência na região. No entanto, subsistem fortes críticas ao regime. "O regime comete as piores violações dos direitos humanos da história moderna do Egito, tal como denunciou a Human Rights Watch", sublinha o diretor da Fundação Heinrich Böll, próxima dos Verdes.
Angela Merkel visita norte de África com refugiados na agenda
A chanceler Angela Merkel disse recentemente que o Egito é "elemento estabilizador" na região do norte de África em crise. No entanto, Joachim Paul tem algumas reservas.
"Duvido que o regime garanta a estabilidade, tendo em conta o atual Presidente e a situação económica, mas sobretudo a política de diretos humanos", explica.
O especialista lembra ainda que a segurança tem piorado em vez de melhorar. "E a luta contra o terrorismo não é apenas contra organizações jihadistas, mas tem sido também usada para eliminar a oposição política", conclui.
Combate ao terrorismo
Na Tunísia, Angela Merkel deverá centrar-se na questão do terrorismo, devido aos problemas que surgiram depois do atentado que fez 12 mortos em dezembro, em Berlim. O autor do atentado, o tunisino Anis Amri, viu o seu pedido de asilo rejeitado, mas não foi possível deportá-lo.
O Governo alemão garantiu que a chanceler Angela Merkel não irá abordar a possibilidade de criar no Egito ou na Tunísia campos para os refugiados que pretendem chegar à Europa – uma ideia avançada pela Áustria que já foi rejeitada por Berlim.
Milhares de migrantes atravessam Níger rumo à Europa
São jovens oriundos da África Ocidental e fazem tudo para chegar à Europa. Estão mesmo dispostos a arriscar a vida, atravessando o deserto, rumo ao Mediterrâneo. Mas nem todos são bem sucedidos.
Foto: DW/A. Cascais
Apoio aos "menos bem sucedidos"
Em Niamey existe um centro de acolhimento da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Aqui são acolhidos os jovens "revenants", que não conseguiram atravessar o deserto e se veem obrigados a regressar aos seus países de origem. A OIM, que faz parte do sistema das Nações Unidas, dá-lhes abrigo provisório, alimentação e apoio na obtenção de passaportes e outros documentos.
Foto: DW/
À espera do regresso a casa
Os jovens que procuram apoio no centro da OIM vêm dos mais diferentes países: Guiné-Conacri, Mali, Senegal, Gâmbia ou Guiné-Bissau, movidos sobretudo por objetivos económicos. Muitos tiraram cursos superiores, mas não arranjam trabalho. Muitas famílias apostam na emigração de pelo menos um filho. Caso esse filho seja bem sucedido poderá eventualmente apoiar economicamente o resto da família.
Foto: DW/A. Cascais
Frustrados por terem falhado a Europa
Muitos investiram todas as suas economias, pediram dinheiro a familiares e perderam tudo. Agora esperam pelo regresso aos seus países com a sensação de terem sofrido grandes derrotas pessoais. Os assistentes sociais falam de casos em que os jovens não se atrevem a voltar ao seio das suas famílias, "por sentirem vergonha". Precisam de apoio psicológico, mas esse apoio não existe.
Foto: DW/A. Cascais
Otimismo apesar das derrotas
Alguns dos migrantes sofrem lesões e contraem doenças durante a travessia do deserto, mas mesmo assim não perdem o ânimo. Em muitos casos, os jovens tentam várias vezes, ao longo da vida, atingir a terra prometida: a Europa. Muitos nunca o conseguem, mas não perdem o otimismo. Em 2016, a OIM prestou apoio a mais de 6 mil "revenants" - migrantes que não foram bem sucedidos no Níger.
Foto: DW/A. Cascais
Espancado na Líbia
Dumbya Mamadou, de 26 anos de idade, oriundo do Senegal, conseguiu atingir a Líbia, depois de uma "odisseia de 5 dias e 5 noites" pelo deserto do Níger. Mas na Líbia foi maltratado. "Os líbios apontaram-me armas e espancaram-me, não têm respeito pelo ser humano", afirma o jovem. Dumbya volta ao seu país de origem com um sentimento de derrota: "Queria estudar na Europa, agora não sei o que fazer".
Foto: DW/
Roubado no Burkina Faso
Mamadou Barry, de 21 anos, oriundo da Guiné-Conacri, tinha um sonho: aplicar em França os seus conhecimentos de marketing e os seus talentos musicais. Mas a viagem rumo à Europa correu-lhe mal. "Fui roubado no Burkina Faso, o primeiro país pelo qual passei", conta. Mesmo assim, Mamadou aprendeu uma grande lição para a vida: "coisas que nunca teria aprendido se nunca tivesse saído de Conacri".
Foto: DW/A. Cascais
Rap contra a frustração
Mamadou Barry tenta digerir as suas derrotas e decepções através da música. Há três anos que o jovem canta e interpreta temas de rap e hiphop de sua autoria. O seu último tema foi escrito em Niamey, capital do Níger, e tem a seguinte letra: "A migração arrasou-me / e ninguém me pode consolar / O Mar Mediterrâneo já matou muitos / e nós cá continuamos: sem comida, sem cama, sem saúde".
Foto: DW/
Central de autocarros de Niamey: uma placa giratória
É da estação de autocarros de Niamey que partem diariamente centenas de furgonetas, muitas delas repletas de jovens migrantes, em direção ao norte. Os migrantes tornaram-se um fator relevante para a economia do Níger. Há muita gente que ganha a sua vida prestando diversos serviços aos migrantes: viagens pelo deserto, alimentação e mesmo cuidados médicos.
Foto: DW/A. Cascais
Mais migrantes tentam atravessar deserto do Níger
O número de migrantes que viajam através dos vastos territórios desérticos do Níger para chegar ao norte da África e à Europa não pára de aumentar, tendo alcançado os 200 mil em 2016, segundo estimativas do escritório da Organização Internacional para as Migrações. Outras fontes falam de 10 mil migrantes que atravessam o Níger por semana. A situacão geográfica do Níger é o fator determinante.
Foto: DW/A. Cascais
Agadez, o "olho da agulha"
Agadez, cidade desértica no Níger, é um dos principais pontos de trânsito no Saara para os imigrantes em fuga de nações empobrecidas do oeste da África. As "máfias" do tráfico humano têm beneficiado do caos na Líbia para transportar dezenas de milhares de pessoas para o continente europeu em embarcações precárias. Os migrantes muitas vezes sofrem abusos dos passadores.