Em tempo de eleições, os governantes e deputados tentam aproximar-se dos cidadãos. Mas quase não são vistos por eles durante os seus mandatos. Populares ouvidos pela DW dizem que pouco ou nada sabem sobre os políticos.
Publicidade
Será que, pelo menos, em tempos de campanha eleitoral os governantes se aproximam do cidadão comum?
Joaquim Mateus, de 24 anos, diz que não conhece nenhum deputado da atual legislatura. Este residente no município de Luanda também desconhece quem é o administrador da sua zona. "Nunca o vi, nem pela televisão", afirma.
Agora, em ano de eleições, espera que, pelo menos, os deputados e os governantes se aproximem mais dos governados.
Também Adérito Kassule, residente da zona do Kilamba Kiaxe, em Luanda, pouco sabe sobre os políticos. Diz que conhece alguns, mas não sabe como se chamam: "Já cheguei a ver o administrador da minha zona, mas não conheço o nome."
Angola: A "distância enorme" entre governantes e governados
"Distância enorme"
Existe "uma distância enorme" entre governantes e governados, afirma Hélder Kafala. O docente universitário é autor do livro "Educação Política", publicado no último fim-de-semana, na capital angolana.
"É difícil vermos uma reunião, por exemplo, entre alguns parlamentares e a sociedade civil", exemplifica Kafala.
Depois de eleitos, os deputados angolanos e membros do Governo recebem salários chorudos e andam em viaturas de luxo. Muitos esquecem-se dos seus eleitores.
Educação política
Para combater este distanciamento, o académico defende uma "educação política", tanto para os cidadãos como para os próprios políticos.
"Ao invés de nos tentarmos aproximar dos políticos e os políticos dos cidadãos, vamo-nos educar politicamente", propõe Hélder Kafala. A tarefa de cada angolano seria "olhar para os programas eleitorais e perceber quem é o deputado que vai naquela lista porque, às vezes, elegemos deputados que não conhecemos. Isso é analfabetismo político", diz.
Ao escolher alguém que não conhecem, as pessoas põem os seus direitos em causa, alerta o professor.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.