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Angola: Abandono de cadáveres gera crise no Namibe

Adilson Liapupula
1 de agosto de 2022

O hospital Ngola Kimbanda, na província angolana do Namibe, está a registar um alto índice de abandono de cadáveres na sua morgue. A denúncia é feita pela própria instituição, que cobra uma solução do Governo.

Morgue do hospital Ngola Kimbanda tem 14 gavetas para armazenar os cadáveresFoto: Adilson Liapupula/DW

As denúncias sobre o abandono de cadáveres na morgue do principal hospital da província angolana do Namibe têm preocupado os responsáveis daquela instituição. Só nos últimos 30 dias, o hospital registou o abandono de pelo menos cinco corpos.

José Ntyamba, responsável da morgue no Namibe, conta que os pacientes internados no hospital, muitas vezes, são esquecidos pelos seus familiares. "Então, esses pacientes acabam por falecer e [o corpo fica] aqui pela morgue", relata.  

Diante desta situação, as dificuldades multiplicam-se, explica Ntyamaba. "É mesmo muito preocupante, porque não temos como fazer. Fazemos comunicados pela rádio por 72 horas e, após três dias, recorremos à entidade superior para fazer a sepultura dos cardáveis, mas a documentação atrasa um bocado devido ao transporte dos serviços comunitários", lamenta.

Ampliação da morgue

A casa mortuária do hospital Ngola Kimbanda tem 14 gavetas para armazenar os cadáveres. Mas José Ntyamba defende a ampliação desta infraestrutura, porque "nessas 14 gavetas não é suficiente [armazenar todos os cadáveres]".

Governo provincial avançou à DW que pretende construir uma morgue provincial para resposta à criseFoto: Adilson Liapupula/DW

"[A infraestrutura] é muito pouca mesmo e se o Governo olhar a casa mortuária provincial Ngola Kimbanda, que acresça mais gavetas. Temos muita gente que faleceu, então fazemos o transbordo [para outras morgues]", apela Ntyamba.

Apelo às famílias

Falando sobre o abandono de corpos naquele hospital, o responsável da morgue admite: "Certas situações que acontecem [tem a ver com] famílias vulneráveis. Elas podem aparecer na morgue e dizer que não têm condições para fazer o funeral e, nós, como administração, podemos ajudá-las". 

Paulo Cassala Joaquim é familiar de um paciente internado no hospital provincial Ngola Kimbanda. Aguardando a recuperação do seu ente querido, ele pede às famílias que já perderam os seus familiares internados para não abandonarem os corpos na morgue.

"As pessoas que abandonam os mortos é [pela] falta de consciência, porque a pessoa que morreu não vai vir mais. Você tem que ter a paciência de acompanhar [o seu familiar] até ao fim. Isso é o salário do outro e o teu também amanhã virá", afirma.

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Corpos de desconhecidos 

Por outro lado, o diretor-administrativo do Hospital Provincial Ngola Kimbanda, Micardo Miguel, afirma que a maior parte dos corpos abandonados na morgue são de desconhecidos. E em alguns casos, os corpos chegam a ficar mais de 25 dias à espera do funeral.

"Geralmente, grande parte dos corpos que ficam mais tempo na morgue do hospital são aqueles corpos de vítimas de acidentes, desconhecidos apanhados na rua ou que às vezes a polícia traz, os bombeiros… [Nestes casos,] primeiramente a gente coloca um anúncio na agenda pública para que se alguém conhecer aparece no hospital, caso não haja um manifesto, acionamos os Serviços de Investigação Criminal e a Administração Municipal Gabinete da Saúde", avança o diretor-administrativo. 

Numa nota enviada à DW, o diretor do Gabinete de Saúde no Namibe, Miguel Ferreira "Coríntios", diz que o seu executivo planeia construir uma morgue provincial para dar resposta a estes casos. O responsável sublinha, no entanto, que o objetivo fundamental não é ampliar a morgue, mas diminuir as mortes e abandonos de cadáveres.

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