Vacinação contra febre-amarela contempla Huambo e Benguela
20 de abril de 2016 Desde que começou, em dezembro de 2015, o maior surto de febre-amarela no país em décadas já fez 250 mortos e há registo de 1.908 casos suspeitos, dos quais 617 foram confirmados laboratorialmente, informou esta quarta-feira (20.04.) a OMS em comunicado.
A transmissão local da febre-amarela regista-se em cinco províncias, mas a maioria dos casos está concentrada nas províncias de Luanda, Huambo e Huíla.
Para conter o surto fora da capital, quase 2,15 milhões de pessoas serão vacinadas em cinco distritos urbanos densamente povoados das províncias do Huambo e de Benguela nas próximas semanas, acrescenta o comunicado da OMS, segundo o qual cerca de um milhão de pessoas já foram vacinadas naquelas duas províncias.
Milhões de pessoas já vacinadas
Em Luanda, quase seis milhões de pessoas foram abrangidas pela campanha de vacinação em curso desde 02 de fevereiro.A par da vacinação, o ministério angolano da Saúde, a OMS e os parceiros estão a reforçar a vigilância da doença e a capacidade de diagnóstico, tanto em Angola como nos países vizinhos, além de aumentar o controlo do mosquito vetor, incluindo através de campanhas de educação para a saúde pública realizadas na comunidade.
Três países já registaram casos de febre-amarela importados de Angola: a China, com 11 casos; a República Democrática do Congo (RDC), com 10 casos, um dos quais em Kinshasa; e o Quénia, com dois casos.
Registaram-se ainda três casos de febre-amarela no sul do Uganda, mas os doentes não tinham história de viagem para Angola.
A OMS diz estar a trabalhar com países vizinhos de Angola, como a RDC, a Namíbia e a Zâmbia, para aumentar a vigilância transfronteiriça e a partilha de informação para prevenir e reduzir a propagação da doença.
Angola é um dos 34 países africanos onde a febre-amarela existe e é recomendada a vacinação.
Campanha de recolha de donativos em Portugal
Os hospitais angolanos estão superlotados por causa da epidemia da febre- amarela, sendo o combate à doença encarada com várias medidas de emergência, apoiadas nomeadamente pela Organização Mundial da Saúde (OMS).Para apoiar este esforço das autoridades angolanas, está em curso em Portugal a preparação de uma campanha de recolha de donativos diversos destinados às vítimas da doença.
Face ao surto da epidemia, decorrem nesta fase ações de sensibilização junto de várias comunidades, que contam com o suporte de uma equipa técnica, como revelou à DW Jerónimo David, coordenador da Plataforma Solidária para Angola, patrocinada pela Federação das Associações Angolanas em Portugal (FAAP).
“Tendo em conta a grande carência que existe no país e o esforço que o Governo angolano tem feito face ao execesso de procura, nós entendemos aqui fazer o esforço de podermos também ajudar com o nosso contributo porque sentimos na pele aquilo que muitas famílias também estão a sofrer. E aqui como há possibilidade de podermos ter meios para conseguir angariar [apoios] com maior sensibilidade das coisas, então entendemos unirmo-nos e criarmos uma plataforma onde angolanos e portugueses, amigos de Angola, nos pudessem ajudar”.Para Jerónimo David, o apoio é diverso. “Vamos mobilizar em espécie material gastável, nomeadamente seringas, algodão, álcool, mobiliário para hospitais, roupa para médicos e enfermeiras, medicamentos, etc... O país está numa situação tal que tudo que aparecer é útil”.
Recolha de donativos será nos principais distritos
A mobilização de donativos será feita nos principais distritos do território português, a exemplo do que já aconteceu no passado domingo (17.04.), na margem Sul, com a parceria do Centro Bom Samaritano, dirigido pelo bispo angolano Afonso Eduardo.
Na altura, o médico Miguel Kiassekoka fez uma palestra sobre os desafios do sistema de saúde em Angola.
O consultor em Saúde Pública disse que a situação é crítica, porque ultrapassa a capacidade de resposta dos hospitais. O principal problema – adianta – prende-se com a grande concentração de lixo, agravado pelas chuvas, em cidades como Luanda e Huambo. No entanto, considera que a decisão em taxar os cidadãos para a recolha de lixo não é a medida mais correta.“Pessoalmente penso que há várias alternativas mas a mais importante é a organização das próprias comunidades dentro da cidade de Luanda. Antigamente, tivemos as comissões de moradores, as brigadas populares de vigilância, ou seja, uma estrutura que permitia mobilizar a população para resolver os seus problemas. E penso que não podemos em relação a todos os nossos problemas pensar no dinheiro, porque o mais importante é a organização que nós devemos ter sobretudo para o tratamento do lixo e combate ao mosquito”, disse Kiassekoka para em seguida questionar “como é que podemos mobilizar a própria população a participar neste combate? Não é aumentando um fardo financeiro em cima dessas populações, mas ajudando-lhes a organizar para o fluxo que o lixo deve ter de casa até ao local de tratamento. É isso o mais importante”, destacou Kiassekoka.
O ex-funcionário da OMS diz que, face aos poucos recursos disponíveis, o mais importante no combate à epidemia é atacar o problema de raiz, ou seja acabar com os mosquitos vetores da doença nas zonas mais críticas onde surgem novos casos.