Presidente de ONG angolana de apoio aos albinos defende que discriminação ainda existe no país, e que, apesar de avanços, representação política é pequena.
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Os albinos angolanos ainda são alvo de discriminação e enfrentam dificuldades de integração na sociedade. É o que defende presidente da Associação de Apoio de Albinos de Angola, Manuel Domingos Vapor, que lembra que apenas um deputado albino faz parte do grupo de 220 deputados que compõem o Parlamento em Luanda. Recentemente, o comunicólogo Celso Malavoleneke foi nomeado secretário de Estado da Comunicação Social.
"A discriminação começa no berço e depois termina no seio da sociedade, no caso da vizinhança e das pessoas na rua por aí a fora", avalia Domingos Vapor.
Segundo ele, "essa discriminação ainda existe embora que tenha um número já reduzido em relação ao passado por causa da campanha que associação tem feito. O olhar de desdenhar a pessoa tem reduzido".
Pouca representatividade
Entre os problemas relatados pelos albinos em Angola, a associação destaca a falta de acessibilidade nalgumas instituições do Estado. Albinos não conseguem emprego e, às vezes, não são atendidos nos hospitais por causa da sua condição, explica. "São barreiras sobre o desafio do emprego e também a barreira no atendimento hospitalar".
Não são muitos os albinos que ocupam lugares de destaque no Governo. A nomeação de Celso Malavoleneke para o cargo de Secretário de Estado da Comunicação Social é vista como um avanço por Manuel Vapor.
"Vai despertando a sociedade porque a pessoa albina não veio ao mundo apenas para acompanhar outras pessoas. Também tem os seus dotes e o seu nível de conhecimento e de escolaridade. Também sabe trabalhar".
O parlamento angolano é composto por 220 deputados, mas apenas um é albino. Trata-se de Manuel Savihemba deputado da UNITA. Claudio Fortuna afirma que o processo de integração ainda precisa de muito trabalho. "Deputado Savihemba é o caso pioneiro. Há também de Celso Malavoleneke que começou como agente da sociedade civil e o Guilherme Santos da ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais)".
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Realidade africana
Em países africanos como a Tanzânia e Moçambique, partes do corpo da pessoa com albinismo são usadas em rituais difundidos pela crença popular para atrair sorte. Mas em Angola, de acordo com o presidente da associação, não há queixas desta natureza. "Nunca recebemos dos meus associados que haja casos deste tipo. Em Angola não temos".
Também para Cláudio Fortuna, investigador do Centro de Estudos e Investigação Cientifica da Universidade Católica de Angola (CEIC), a realidade angolana é diferente. "A nossa sociedade não está tão mal comparativamente a outras realidades africanas".
Valorização dos albinos
A Associação de Apoio de Albinos de Angola conta com 600 associados entre albinos e não albinos. A organização está representada em apenas seis das 18 províncias do país e debate-se com problemas de falta de recursos e de transporte para se expandir nas demais regiões. Ainda assim, a luta pela valorização da pessoa albina deve continuar, encoraja Manuel Vapor.
"Não podemos cruzar os braços. É momento de arregaçarmos as mangas para podermos enfrentar essas barreiras porque se nós voltarmos para trás quer dizer que não estamos a fazer nada e que o preconceito vai continuar".
Albinos em África: "Não se escondam!"
São ostracizados, ameaçados e perseguidos. Para muitos africanos com albinismo, o dia-a-dia pode ser um pesadelo. Algo que é preciso mudar, dizem albinos que diariamente lutam contra o preconceito. Conheça alguns deles.
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba
Moda contra o preconceito
Thando Hopa é uma advogada sul-africana de 20 anos. Cresceu com muito protector solar, roupas compridas e complexos. Sempre escondida na sombra, recorda. Agora, Hopa luta abertamente contra os preconceitos enfrentados pelos albinos em África - também como modelo nas passarelas.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Vencer complexos nas passarelas
Thando Hopa foi descoberta há quatro anos num centro comercial pelo designer sul-africano Gert-Johan Coetzee, que surge atrás da modelo nesta foto. Hoje, ela é uma das modelos mais conhecidas na África do Sul. Há muitas fotos suas publicadas nas principais revistas de moda. Em 2013, por exemplo, Hopa foi capa da primeira edição da Forbes Life Africa.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Quebrar mitos
Muitos africanos acreditam que os albinos não são seres vivos, mas fantasmas, e que partes do seu corpo podem trazer sorte e prosperidade. O albinismo é uma doença genética caracterizada por falta de pigmentação na pele. Uma em cada 20 mil pessoas no mundo nasce com este distúrbio congénito. O albinismo é muito comum no leste e no sul de África – tal como a superstição.
Foto: Getty Images/AFP/O. Andersen
Superstição mortal
Os criminosos caçam albinos, matam-nos e vendem os seus corpos a curandeiros tradicionais, que acreditam que estes têm propriedades mágicas. Segundo a ONU, o corpo de um albino pode valer mais de 60 mil euros no mercado negro. Uma perna pode ser vendida por cerca de 2.000 euros. A Tanzânia já proibiu os curandeiros tradicionais não registados. Mas outros países, como o vizinho Malawi, ainda não.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
Viver com medo
Dorothy Mausen, da província de Machinga, no Malawi, diz que nunca se sente segura. Há cerca de 10 mil albinos neste país do sudeste africano. De acordo com a Amnistia Internacional, pelo menos 18 albinos foram assassinados no último ano e meio. A polícia do Malawi registou mais de 60 ataques violentos contra albinos. Mas calcula-se que o número real de ataques seja muito maior.
Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia
Proteção constante
Razik Jaffalie nunca deixa os seus filhos fora de vista. Teve de deixar o emprego para proteger Cassim, de três anos. Os malawianos têm orgulho da sua reputação de pessoas gentis e pacíficas. Mas após os ataques mais recentes contra albinos, o Presidente do Malawi, Peter Mutharika, disse estar "envergonhado" pelos assassinatos no país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Uma canção para Mandela
Salif Keita é uma das estrelas mais conhecida da música pop africana. Nasceu no Mali e sabe bem o quanto pode ser difícil crescer com albinismo em África. O músico mudou-se para Paris em 1984 e tornou-se famoso quando se apresentou no Estádio de Wembley, em Londres, em 11 de junho de 1988, no concerto para celebrar o 70º aniversário de Nelson Mandela, que na altura ainda estava preso.
Foto: Imago/CHROMORANGE
Afirmação do orgulho albino
Um festival na República Democrática do Congo em 2015 iniciou uma pequena revolução. "Fièrement Ndundu" - "Orgulho de ser albino", que decorre durante três dias em Kinshasa, é uma plataforma para partilhar experiências, desafiar estereótipos e criar autoconfiança. Algo que muitos africanos também já fazem online - por exemplo, no Twitter com a hashtag #AlbinismIsJustAColor.
Foto: DW/S. Mwanamilongo
Cuidado com o sol
O albinismo não é "apenas" uma questão de cor de pele. Quem é afetado pela falta de melanina na pele tem de proteger o corpo dos raios solares. Esta deficiência significa que os albinos correm sérios riscos de desenvolver cancro da pele. Muitos também têm problemas de visão por causa da falta de melanina nos olhos. O uso de protector solar é essencial para a sua sobrevivência.
Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba
Chutar o preconceito
Na capital da Tanzânia, Dar es Salaam, os treinos de Said Seremani e da sua equipa "Albino United" só começam quando o sol se começa a pôr. Só têm um campo pequeno e empoeirado, mas os seus sonhos são grandes. Querem ser estrelas do futebol internacional e provar que os albinos podem jogar tão bem como os ídolos Didier Drogba ou Pierre-Emerick Aubameyang.