Apesar da queda do volume de negócios entre Angola e Alemanha nos últimos anos, o Governo alemão decidiu regressar, este ano, à Feira Internacional de Luanda, que decorre até 13 de julho. Presença alemã é para continuar.
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Depois de falhar três edições da Feira Internacional de Luanda (FILDA), a Alemanha regressa este ano à maior bolsa de negócios de Angola, que arrancou esta terça-feira (09.07), no espaço da Zona Económica Especial (ZEE), no município de Viana.
Nesta edição de 2019, que reúne empresas que atuam no ramo da tecnologia de construção de máquinas, arquitetura, eletrotécnica, energia, proteção ambiental, transporte, processamento alimentar, turismo e tecnologia de resíduos, a Alemanha está representada por 11 empresas.
Preço do petróleo prejudica negócios
Em entrevista à DW África, Marcus Knup, diretor da Agência de Investimento e Comércio Exterior da Alemanha (GTAI), explica que o baixo preço do petróleo é uma das causas para o fraco intercâmbio comercial entre o seu país e Angola. Mas não só: "É efeito de dois fatores. O baixo preço do petróleo faz com que o volume das exportações de Angola seja mais pequeno. Por outro lado, as exportações da Alemanha para Angola nos anos de 2016 e 2017 ficaram a dever-se a grandes projetos de instalações industriais, mas em 2018 o volume de investimento baixou", explicou.
São várias as empresas alemãs que operam em Angola. No entanto, acrescenta o diretor do departamento de investimento externo alemão, não existe nenhuma empresa angolana a atuar neste país europeu. Por isso, Marcus Knup espera que esta edição da FILDA abra portas para novas oportunidades entre os dois países, principalmente, "nesta fase em que Angola está com programas de reforço à produção local, e que procura, por exemplo, equipamentos para a indústria". "As empresas alemãs têm justamente esses equipamentos para reforçar a indústria e para construir fábricas", frisou Marcus Knup.
Angola: Alemanha está de regresso à FILDA
Explorar o potencial angolano
Um dos expositores alemães na Feira Internacional de Luanda é o Grupo Siemens, empresa do ramo tecnológico com foco nas áreas de eletrificação, automação e digitalização.
Em declarações à DW, Sérgio Filipe, CEO do grupo em Angola, fala do seu projeto de formação em Berlim: "É uma escola patrocinada pela Siemens, na égide do sistema atual que conhecemos muito bem da Alemanha, onde formamos alunos durante três anos e meio, nas áreas da mecatrónica e de eletrónica industrial", explica.
Em exposição no stand da empresa estão igualmente as principais áreas em que a Siemens opera em Angola, nomeadamente, a geração de energia e sua a transmissão e distribuição. "Com destaque muito particular àquilo que é a nossa participação no petróleo e no gás, onde temos várias aplicações de equipamento rotativo, por exemplo, quer onshore, quer em offshore", disse Sérgio Filipe.
Em declarações à imprensa, o embaixador da Alemanha em Angola, Dirk Lölke, afirmou que o regresso do seu país à FILDA é sinal de que o Governo alemão acredita no potencial económico de Angola. "É um sinal de que o Governo alemão acredita que Angola está num bom caminho. É a minha primeira vez na Feira Internacional de Luanda. Vamos participar nas edições futuras", disse.
Angola: O recinto-fantasma da FILDA
As instalações da Feira Internacional de Luanda, no Cazenga, estão há mais de três anos ao abandono. Com a crise, a gestora original do evento deixou o negócio e 90 funcionários sem emprego e sem salários.
Foto: DW/B. Ndomba
Do Cazenga para Viana
Há muito que este espaço no município do Cazenga perdeu o "brilho" da FILDA. O Grupo Arena, atualmente responsável pela organização da maior feira de negócios em Angola, tem realizado os eventos fora do recinto original. Em 2017, a FILDA teve lugar na Baía de Luanda e em 2018 na Zona Económica, em Viana, o mesmo espaço onde decorre, a partir de 9 de julho, a edição deste ano.
Foto: DW/B. Ndomba
Culpa da crise
Segundo o Jornal de Angola, o espaço original encontra-se ao abandono devido a uma indefinição que remonta a 2016, período em que a Feira Internacional de Luanda (FIL), sociedade gestora das instalações e que se especializou na organização de exposições, abandonou o negócio na sequência da crise económica, que se instalou em 2014, afugentando os investidores.
Foto: DW/B. Ndomba
Um espaço da tutela das Finanças
A gestão das instalações da FILDA passou a ser da responsabilidade do Ministério das Finanças, que superintende as empresas públicas. As operadoras móveis e bancos comerciais que, até ao ano passado, eram os únicos que operavam no local, também abandonaram o espaço. O problema: a falta de clientes.
Foto: DW/B. Ndomba
Mais de três hectares abandonados
O parque ocupa uma área de 3,4 hectares. A zona de exposições incluía cinco pavilhões com cerca de 5 mil metros quadrados, adequando-se às necessidades dos diferentes certames e eventos.
Foto: DW/B. Ndomba
Escombros de um calendário preenchido
Para além da Feira Internacional de Luanda, o espaço também acolhia a Feira Internacional de Minas de Angola (FIMA), da construção, Projeckta, Expo Lwini, Agro Angola, Ambiente Angola, Expo Tics, Okavan-go Angola, Educa Angola e ExpoTrans.
Foto: DW/B. Ndomba
O leão que resiste
A não utilização do espaço motivou alguns populares que vivem ao redor da antiga FILDA a vandalizarem o espaço. As instalações estão aos pedaços. Não sobrou nada, além da estátua de leão, a mascote da FILDA.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem teto e sem chão
Aos poucos, os munícipes levaram a cobertura da FILDA e usaram as chapas na nas suas residências. Até o chão desapareceu. "Construí um anexo no quintal do meu pai, como não tenho dinheiro para comprar chapas, tirei mesmo os da FILDA", disse um jovem que não quis se identificar.
Foto: DW/B. Ndomba
Pilhagens à luz do dia
Cerca de 30 pessoas, entre jovens e crianças, passam diariamente no recinto para levarem o pouco que resta dos pavilhões das antigas instalações da Feira Internacional de Luanda. À chegada da DW África ao local, quem por ali recolhia material pôs-se em fuga.
Foto: DW/B. Ndomba
Fazer negócio com a antiga Feira de Negócios
Os muros e o chão dos pavilhões são quebrados para retirar as instalações elétricas. Os cabos, por exemplo, são comercializados nos mercados informais, segundo um adolescente no local, que se identificou como Loló.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem trabalho, sem salários
A paralisação da empresa deixou cerca de 90 funcionários da Feira Internacional de Luanda (FIL) sem emprego e com salários em dívida há 36 meses. Os trabalhadores continuam a exigir o pagamento das remunerações à direção da firma liderada por Matos Cardoso - que recusa prestar declarações à imprensa.