A organização não governamental "Friends of Angola" (FoA) lançou uma campanha de apoio a Ana Gomes. A ex-eurodeputada portuguesa está a ser julgada em Sintra, no sequência de uma queixa movida por Isabel dos Santos.
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Numa nota enviada à imprensa, a FoA frisa ter a "obrigação moral" de estar ao lado de Ana Gomes pela "sua longa luta por uma Angola democrática” e pelo "seu exemplo de integridade". Para além de apoiar Ana Gomes, o grupo exige que a filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos explique publicamente a origem da sua riqueza
A posição da FoA é expressa numa nota que é subscrita por mais de 30 artistas, ativistas, jornalistas e profissinais de outras áreas.
Ana Gomes está a ser julgada num tribunal de Sintra, Portugal, na sequência de uma queixa movida por Isabel dos Santos, filha do antigo chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos. A empresária diz que foi difamada de forma reiterada por Ana Gomes. A ex-eurodeputada acusou a angolana de branquear capitais e enriquecer de forma ilícita.
A DW África entrevistou Rafael Morais, membro da FoA.
DW África: Esta campanha é uma forma de retribuir o apoio que a ex-eurodeputada Ana Gomes deu a Angola na luta contra a corrupção?
Rafael Morais (RM): Não é só isso. O povo angolano tem acompanhado a posição da Ana Gomes em relação a casos relacionados com países em África, como Moçambique, Angola e não só. Achamos que ela é uma senhora que trabalha em prol do bem do povo africano e, em particular, do povo angolano.
Nesta base achamos que a acusação feita contra ela por Isabel dos Santos não tem praticamente nenhuma relevância, porque sabemos que Isabel dos Santos ficou rica graças ao seu pai que foi Presidente da República de Angola. Ela foi uma das grandes beneficiárias e acreditamos que se o seu pai não tivesse sido Presidente da República talvez ela hoje estivesse com fome como os outros cidadãos angolanos.
DW África: Neste momento em que há um processo na justica, pretendem apoiar Ana Gomes de alguma forma mais concreto, como por exemplo em tribunal?
RM: A Friends of Angola (FoA) é uma voz solidária. Acredito que ela já tem advogados que seguem o caso. Acompanhamos a posição dela, até porque ela já veio a Angola algumas vezes e nunca teve nenhum receio de se pronunciar sobre a situação em que o povo angolano se encontra. É mais uma voz solidária, porque ela não está sozinha nesta luta e nós estamos todos com ela na posição que ela defende.
DW África: O que é que a FoA tem feito para exigir que Isabel dos Santos justifique a origem da sua riqueza?
RM: Foi a sociedade civil angolana que pressionou, de uma forma geral, para que houvesse mudanças em Angola, como a retirada do Presidente José Eduardo dos Santos. Foi a sociedade civil que pressionou para afastar todos aqueles que têm delapidado o erário público. A sociedade angolana tem pressionado diretamente o Estado angolano para afastar todas as ações maléficas que lesam o cidadão angolano e que continuam a colocar o povo angolano na pobreza extrema. É esse o trabalho que estamos a fazer e que vamos continuar a fazer.
Ana Gomes "não está sozinha nesta luta e nós estamos todos com ela", dizem cidadãos angolanos
DW África: Acha que Isabel dos Santos processou Ana Gomes porque acredita que foi realmente injustiçada e difamada ou é um gesto que visa limpar a sua imagem?
RM: Sim, acho que é um gesto que visa limpar a sua imagem lá fora. Na verdade, o que Ana Gomes fez foi um favor ao povo angolano. Isabel dos Santos fez muita asneira em Angola e parece-me que até tem um processo aqui, que ainda não respondeu. Isabel dos Santos nunca vai conseguir limpar a imagem dela, do meu ponto de vista. Só se ela voltar para Angola e pedir desculpas.
Ela tem muitas empresas e empregou muita gente, mas foi tudo graças ao que pertence ao povo angolano. Isabel dos Santos e José Eduardo dos Santos não têm pais ricos para serem herdeiros de riqueza. Todos os ricos angolanos só se tornaram ricos depois de estarem no poder. Aliás, a maior parte dos empresários em Angola são aqueles que estão no poder. Acho que Isabel dos Santos está a lutar para limpar a imagem dela lá fora.
Quem são as mulheres mais poderosas de África?
Nove mulheres africanas dão que falar no mundo da política e dos negócios, geralmente dominado por homens. Saiba quem são e como se têm destacado.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/B. Fonseca
Primeira mulher Presidente em África
Ellen Johnson Sirleaf foi a primeira mulher eleita democraticamente num país africano. De 2006 a 2018, governou a Libéria, lutando contra o desemprego, a dívida pública e a epidemia do ébola. Em 2011, ganhou o Prémio Nobel da Paz por lutar pela segurança e direitos das mulheres. Atualmente, lidera o Painel de Alto Nível da ONU sobre Migração em África.
Foto: picture-alliance/dpa/EFE/EPA/J. Lizon
Um grande passo para as mulheres etíopes
Sahle-Work Zewde foi eleita, em outubro, Presidente da Etiópia. O poder no país é exercido pelo primeiro-ministro e o Conselho de Ministros. Entretanto, a eleição de uma mulher para a cadeira presidencial é considerada um grande avanço na sociedade etíope, onde os homens dominam os negócios e a política. Mas isto está a mudar. Hoje em dia, metade do Governo é formado por mulheres.
Foto: Getty Images/AFP/E. Soteras
Mulher mais rica de África
Isabel dos Santos tem uma reputação controversa em Angola. É filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que a colocou na administração da Sonangol em 2016. Mas o novo Presidente, João Lourenço, luta contra o nepotismo e despediu Isabel dos Santos. Mesmo assim, dos Santos ainda detém muitas participações empresariais e continua a ser a mulher mais rica de África, segundo a revista Forbes.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/B. Fonseca
Magnata do petróleo e benfeitora da Nigéria
1,6 mil milhões de dólares norte-americanos é a fortuna da nigeriana Folorunsho Alakija. A produção de petróleo faz com que a dona da empresa Famfa Oil seja a terceira pessoa mais rica da Nigéria. Com a sua fundação, a mulher de 67 anos apoia viúvas e órfãos. Também é a segunda mulher mais rica de África, apenas ultrapassada pela fortuna de Isabel dos Santos de 2,7 mil milhões (segundo a Forbes).
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Ajayi
Oficial da dívida da Namíbia
Na Namíbia, uma mulher lidera o Governo: desde março de 2015, Saara Kuugongelwa-Amadhila é primeira-ministra – e a primeira mulher neste escritório na Namíbia. Anteriormente, foi ministra das Finanças do país e perseguiu uma meta ambiciosa: reduzir a dívida nacional. A economista é membro da Assembleia Nacional da Namíbia desde 1995.
Foto: Getty Images/AFP/H. Titus
Discrição e influência
Jaynet Kabila é conhecida pela sua discrição e cuidado. Irmã gémea do ex-Presidente congolês Joseph Kabila, é membro do Parlamento da República Democrática do Congo e também é dona de um grupo de meios de comunicação. Em 2015, a revista francesa Jeune Afrique apontou-a como a pessoa mais influente do Governo na RDC.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
Triunfo diplomático
A ex-secretária de Estado do Ruanda, Louise Mushikiwabo, será secretária-geral da Organização Internacional da Francofonia em 2019. Isto, mesmo depois de o país ter assumido o inglês como língua oficial há mais de 10 anos. A escolha de Mushikiwabo para o cargo é vista como um triunfo diplomático. O Presidente francês, Emmanuel Macron, foi um dos apoiantes da sua candidatura.
Outra mulher influente: a nigeriana Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas desde 2017. Entre 2002 e 2005, já tinha trabalhado na ONU no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio. Mais tarde, foi assessora especial do então secretário-geral, Ban Ki-moon, e, por um ano, foi ministra do Meio Ambiente na Nigéria.
Foto: picture-alliance/empics/B. Lawless
A ministra dos recordes no Mali
Recente no campo da política externa, Kamissa Camara é a mais jovem na política e primeira ministra do Exterior da história do Mali. Aos 35 anos, foi nomeada para o cargo pelo Presidente Ibrahim Boubacar Keïta e é agora uma das 11 mulheres no Governo. No total, o gabinete maliano tem 32 ministros.