Autoridades da província angolana do Bengo alegam que a falta de recursos financeiros está a condicionar o processo de desminagem na região e lamentam a existência de um único operador de desminagem na província.
Publicidade
Não é fácil obter dados financeiros exatos sobre os projetos que estão a operar em Angola. No caso da desminagem, não é diferente.
Ao certo, sabe-se que o país obteve apoios de cerca de 1,7 milhões de euros do Japão, em janeiro de 2021, e mais de 9 milhões de euros dos Estados Unidos, em outubro de 2020. Em três meses, foram liberados pelo menos 10 milhões de euros para a atividade. A União Europeia também havia disponibilizado 20 milhões de euros para apoiar a desminagem em 2014.
Mesmo com o apoio mais recente endereçado ao país, o governo da província do Bengo alega que a campanha massiva de desminagem tem conhecido um abrandamento por apertos financeiros. Nos últimos três anos, segundo uma fonte consultada pela DW África, foi possível limpar cerca de 975 mil metros lineares.
Municípios que mais preocupam
A comissão local de desminagem suspeita que existam mais de 50 áreas minadas. O oficial de ligação da Comissão Nacional Intersetorial de Desminagem para o Bengo, Florentino Quileba, preferiu não falar sobre valores exatos para financiar a desminagem na província. Quileba lamenta a existência de um único operador de desminagem no Bengo.
"Nós temos um único operador que é do Instituto Nacional de Desminagem, este tem estado a dar-nos soluções de alguns problemas no que tange à recolha de minas, mas a desminagem como tal, nós não estamos a realizar por falta de recursos", explica.
Em função de alguns projetos de grande impacto - incluindo o porto marítimo - as zonas da Barra do Dande e Lembeca aparecem nas prioridades para se declarar regiões livres de minas, tal como explica Florentino Quileba.
"No caso do projeto que está previsto ao local do Lembeca, está parado porque nós não arrancámos. Aquela é uma zona que o governo quer [construir] infraestruturas. Já teve o projeto da nova cidade, mas está parado. Também existem focos na zona da Barra do Dande. Não está a impedir que o projeto ande, não é isso. O projeto do porto vai sair, mas também carece de verificação e desminagem daquela área."
Publicidade
Especialista pede transparência
O especialista do Meio Ambiente e Ordenamento do Território, Amílcar de Armando, pede transparência em relação aos fundos destinados a este processo e lamenta a falta de dinheiro para continuar a desminar Angola.
"Parar agora, a questão da desminagem por falta de recursos seria mal porque é preciso ver o longo conflito que nós tivemos. Não permite aferir as zonas onde poderão ter sido colocadas minas, são muitas zonas que ainda estão minadas", sublinha.
Desde 2017, o governo estima ter recolhido cerca de 600 engenhos explosivos - entre minas, granadas e outros. O município do Pango Aluquem é apontado como o que menos preocupa.
O secretário provincial da UNITA reconhece o trabalho feito em prol da desminagem no Bengo e espera ver implementados projetos em zonas já desminadas.
"Nós aqui no Bengo, temos terrenos bastante férteis. Uma vez que já estão livres das minas, era de todo desejável um investimento em massa para que a nossa província possa conhecer o desenvolvimento", apela.
Angola: A luta contra o colonialismo em monumentos
Na província do Bengo, monumentos históricos retratam a luta angolana contra o domínio português e resgatam parte da cultura local. Alguns estão em estado de degradação.
Foto: António Ambrósio/DW
"Chalé", um antigo tribunal
Este edifício é popularmente conhecido como "chalé". Durante a era colonial, aqui era o local onde portugueses ditavam sentenças aos angolanos que tentavam reivindicar os seus direitos. Naquela época, foi uma espécie de tribunal e cadeia. Por isso, ganhou o nome de "casa da morte". Depois de algum tempo, passou por uma reforma e, atualmente, é sede do Governo Provincial do Bengo.
Foto: António Ambrósio/DW
"Cova da Onça"
Para este local vinham os restos mortais dos sentenciados à morte. É um cemitério que fica bem atrás da "casa da morte". Ali jazem os corpos de vários que lutaram pela pátria. Por isso, o local é conhecido como "Cova da Onça", mas também como Memorial aos Heróis da Pátria. Reabilitado em 2011, o monumento já está a carecer de obras de restauro.
Foto: António Ambrósio/DW
A resistência
Na luta contra o poder colonial, há quem se tenha destacado. Vários angolanos mostraram bravura e conseguiram sobreviver, o que levou os combatentes angolanos a cerrar fileiras para ir atrás dos colonizadores. Este monumento simboliza esse momento. Com se pode ver na imagem, um homem está a romper a corrente para a liberdade.
Foto: António Ambrósio/DW
Quebrar barreiras
A bravura do povo angolano aos poucos estendeu-se a outros pontos do país. Isto também está representado no monumento sobre a resistência. Na província do Bengo encontra-se a primeira região político-militar angolana.
Foto: António Ambrósio/DW
Hospital aos Heróis da Pátria
A doença preocupa qualquer ser humano, não importa se é colonizador ou colonizado. Em 1955, foi construído o hospital dedicado aos "heróis do Caxito" para acudir algumas situações ligadas à saúde. Hoje, o edifício continua funcional e ganhou a categoria de Hospital Municipal do Dande, comportando vários serviços.
Foto: António Ambrósio/DW
Jacaré Bangão
Este famoso monumento retrata uma lenda popular. O jacaré na imagem segura com os dentes uma bolsa de dinheiro. Reza a lenda que o animal terá pago um imposto ao chefe da vila de Caxito como forma de repúdio da população contra a imposição colonial. A lenda também relata a existência de um feitiço no Bengo, que terá sido o responsável pelo pagamento supostamente efetuado pelo réptil.
Foto: António Ambrósio/DW
"Porque não tentar?"
Este é o Museu da Tentativa. Trata-se de uma antiga propriedade, construída na década de 1930, onde se plantava cana-de-açúcar. O nome surgiu depois de os portugueses, na era colonial, tentarem plantar noutras regiões, sem sucesso. Ao chegarem aqui, perguntaram "Porque não tentar?" O sucesso foi certeiro e o nome vingou. Em 2011, com objetivo de preservar a história, foi criado o museu.
Foto: António Ambrósio/DW
Transporte de escravos e mercadorias
Este barco chama-se "batelão". Era usado para o transporte de escravos e produtos da "Tentativa" para Luanda, mas só chegavam até a barra do Dande. De lá, em embarcações maiores, os produtos seguiam para a alfândega de Luanda e depois para a Europa.