OGE para 2018, o primeiro da governação de João Lourenço, aprovado esta quarta-feira (14.02) no Parlamento angolano com 136 votos a favor, 50 contra e 18 abstenções.
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Aquando da aprovação na generalidade do Orçamento Geral do Estado (OGE), em janeiro deste ano, houve duras críticas sobre a pouca fatia orçamental destinada ao setor social em detrimento da defesa e segurança. Mas no âmbito da discussão na especialidade do OEG, o Governo decidiu aumentar em 10% o orçamento para a função da Saúde assegurada pelo Estado em 2018, correspondente a mais 34.994 milhões de kwanzas (135 milhões de euros), face ao inicialmente previsto. Este aumento permitirá ao setor da Saúde passar a ter um peso de 4% de todas as verbas alocadas para despesas do Estado em 2018.
Na sua aprovação final esta quarta-feira (14.02), o documento contou apenas com o voto favorável do MPLA, partido no poder.
A UNITA votou contra, FNLA, PRS e CASA-CE, abstiveram-se, apesar de reconhecerem melhorias nos setores da educação e saúde em relação ao documento inicial.
Reações das bancadas parlamentaresLucas Ngonda, o único deputado da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) no Parlamento angolano, disse que "apesar de terem sido introduzidos vários ajustes para melhorar o projeto inicial apresentado pelo Governo este orçamento conservou ainda muitas penalizações de direitos que demonstra uma regressão dos direitos já consagrados por lei em vez de ter uma opção do alargamento da base tributária".
Benedito Daniel do Partido de Renovação Social (PRS) apelou à fiscalização do orçamento embora tenha considerado que se trata de uma lei que não vai satisfazer as necessidades da população.
"Saudamos porém o esforço empreendido, mas ainda consideramos que este esforço veio apenas colocar o orçamento num nível possível de funcionamento para o ano económico de 2018 e não um orçamento necessário que pode colmatar as necessidades do país", sublinhou.
Este "não é orçamento da CASA-CE”, destacou por seu turno André Mendes de Carvalho, líder da única coligação na Assembleia Nacional de Angola, apesar de reconhecer o esforço do executivo no reajuste de algumas situações.
"Nos anos anteriores o nosso grupo parlamentar sempre votou contra o Orçamento Geral do Estado, mas desta vez optamos pela abstenção porque notamos ter havido um esforço no sentido de se alterar o processo de aprovação do orçamento face aos anos transatos... mas a verdade é uma: este orçamento não é o nosso orçamento".
A União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), foi o único partido que votou contra o Orçamento Geral do Estado para o exercício económico 2018.
Troca de acusações
Na sua declaração de voto, o partido no poder e a maior força política da oposição, trocaram acusações.
Adalberto Costa Júnior, da UNITA, disse que o seu partido votou contra, porque as suas propostas não foram tidas em conta na elaboração final do documento. O parlamentar acrescentou ainda que a sua formação vai continuar à espera que se crie uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para o Fundo Soberano.
Angola: aprovado OGE com “não” e “talvez” da oposição
"Quando em sede da aprovação do Orçamento Geral do Estado propusemos também medidas adequadas para reforçar o controlo preventivo da legitimidade da dívida pública, vossas excelências negaram incluir estas medidas na lei. Rejeitaram antes também a Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banco Espírito Santo Angola (BESA), a Sonangol e continuamos à espera desta comissão ao Fundo Soberano que continua na gaveta e não sabemos porque".
Por sua vez, o MPLA, alega que votou a favor porque se trata de um orçamento de "transição". Este é o primeiro OGE do atual governo saído das eleições gerais de 23 de agosto de 2017.
Salomão Xirimbimbi do partido maioritário em Angola, afirmou que muitos temas foram introduzidos e acusou a UNITA de "ter colocado o tema da dívida como uma questão de troca" para que o partido da oposição votasse a favor do OGE.
"Não podemos aceitar esse tipo de situações porquanto para votarmos o orçamento não precisaríamos fazer qualquer tipo de contra partidas. A UNITA, desde 1992, nunca aprovou favoravelmente nenhum orçamento".
Mudança de "paradigma"
Entretanto, o Parlamento angolano recomendou ao Governo a mudança do "paradigma" de elaboração anual da proposta de Orçamento Geral do Estado, para poder ser "antecipadamente apreciado e discutido" com os parceiros sociais.
Trata-se de uma das recomendações da Assembleia Nacional ao Governo, no âmbito da discussão na especialidade do Orçamento Geral do Estado (OGE) para este ano, aprovado esta quarta-feira (14.02), em votação final, no Parlamento.De acordo com a resolução sobre a proposta de OGE, aprovada no Parlamento, é necessário que o documento, de base anual, seja "antecipadamente apreciado e discutido com os parceiros sociais e as suas contribuições estejam refletidas no momento da sua concepção, antes da sua remessa à Assembleia Nacional", como acontece atualmente.
Igualmente entre as recomendações consta a adoção, pelo Governo, de "medidas céleres que permitam o reescalonamento da dívida pública", para "garantir a sua sustentabilidade", bem como de medidas de contenção da inflação sobre os preços dos produtos da sexta básica e medicamentos, "face ao novo regime da taxa de câmbio".
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".