Angola: Aproveitamento político ou só um jogo de futebol?
13 de maio de 2022Os líderes da Frente Patriótica Unida (FPU)não podem assistir a jogos de futebol? É a pergunta que o deputado Eduardo Delfim Dumba, da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) faz depois da direção do Estádio Nacional 11 de Novembro ter emitido um comunicado em que repudia a suposta "propaganda" política durante um jogo entre o Petro Atlético de Luanda e o Wydad de Casablanca, de Marrocos.
A assistir ao jogo das meias-finais da Liga dos Clubes Campeões Africanos estavam os três dirigentes da FPU: Adalberto Costa Júnior, Filomeno Vieira Lopes e Abel Chivukuvuku. A presença dos políticos foi vivamente ovacionada pelos adeptos e alguns simpatizantes da coligação presentes no estádio.
Para o deputado Eduardo Delfim Dumba, não é nada demais. "O cidadão Adalberto Costa Júnior foi para o estádio não enquanto presidente da UNITA, mas como cidadão que ama o desporto, que apoia uma das equipas e foi lá, festejar, participar daquela euforia que aconteceu no campo de futebol. Nós entendemos que não houve aproveitamento político algum", considera.
"Propaganda extra desporto”?
A direção do estádio tem uma opinião diferente. Em comunicado, disse ter assistido "com perplexidade e bastante preocupação" a um cenário de "propaganda extra desporto", em ano de eleições, além do "comportamento pouco digno de alguns adeptos que durante o jogo arrancaram bancos, arremessaram garrafas e vários objetos em direção" ao relvado.
Para o politólogo Olívio Nkilumbo, a ideia de que o jogo foi aproveitado como propaganda é desajustada, particularmente tendo em conta que o partido no poder, o MPLA, costuma usar órgãos públicos em seu próprio benefício. É por isso que Nkilumbo critica o comunicado da direção do estádio:
"Ainda não fizeram [o mesmo] ao MPLA, que tem sido o partido que mais usa os bens públicos, do ponto de vista da televisão pública, rádio pública e espaço público com as suas ações políticas", critica.
"Há sempre aproveitamento político"
O analista político Agostinho Sicato comenta que, como qualquer cidadão, os líderes da FPU têm direito a participar em eventos desportivos. Ainda assim, é preciso ter em conta o seu estatuto.
"Tudo o que não está proibido pela Constituição e pela lei é permitido", assevera.
"Agora, o que se deve fazer é uma espécie de ponderação. Normalmente, a qualidade da individualidade deve ser comunicada nestes locais, mas há sempre aproveitamento político nestes assuntos", advertiu.