Autárquicas agora fragilizariam poder do Presidente, que, segundo analista, estaria longe da consolidação. Primeiro, Lourenço precisa de se firmar para conseguir segundo mandato. Autárquicas ficariam para depois de 2022?
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Em março de 2018, o Governo do MPLA prometeu que as primeiras eleições autárquicas de Angola seriam em 2020. Entretanto, os requisitos básicos para a sua realização estão longe de serem cumpridos. A começar pela Lei Eleitoral - do seu pacote de 10 leis, estão apenas aprovadas três: Lei Orgânica sobre as Eleições Autárquicas, Lei Orgânica sobre a Organização e Funcionamento das Autarquias Locais e a Lei da Tutela Administrativa das Autarquias Locais.
A discussão e aprovação das restantes leis está a mercê do plano de atividades do Parlamento, o que leva o seu tempo. Face a demora que se advinha surge a seguinte questão: são mesmo para este ano as autárquicas?
"Este é um grande dilema. O discurso oficial é para este ano, mas pelas ações tudo indica que as autárquicas não serão para 2020. Porque até agora todo o pacote eleitoral que vai suportar as eleições autárquicas não está concluído, não foi aprovado na totalidade, falta uma série de leis", responde Agostinho Sikatu, cientista político.
E Sikatu afirma que "se até abril ou maio não for aprovado, a única solução será o adiamento das eleições".
Como ficam as reformas eleitorais?
Mas não é apenas a demora na aprovação do pacote eleitoral que ameaça a realização das autárquicas. Há determinados procedimentos eleitorais que devem ser aprimorados, segundo recomendações antigas.
Luís Jimbo é especialista em eleições e sublinha que, para convocar as eleições autárquicas,"o quadro legal tem de estar preparado, tem de existir".
"Uma outra questão são as reformas eleitorais saídas das eleições de 2017, principalmente sobre o funcionamento dos centros dos escrutínios sobre as deliberações eleitorais que têm a ver com a tabulação dos resultados, dos representantes dos partidos políticos", lembra o especialista em eleições.
Calendarização do processo comprometida?
E porque as eleições são um sistema que funciona em cadeia, até as condições climatéricas adequadas têm de ser tomas em conta. Em termos de calendarização do processo nada indica que seja conveniente ir a votos este ano, de acordo com Luís Jimbo: "Do ponto de vista do quadro legal, já não é possível organizar eleições dentro do período normal que tem acontecido [as eleições], que é o período seco, entre agosto e setembro, para termos pouco impacto nas questões logísticas e não aumentar dispendiosamente o orçamento e também permitir que as pesoas possam votar sem constrangimentos".
"Deste ponto de vista, para 2020 não se pode pensar em realizar eleições autárquicas, mas é possível. A qualquer altura se pode criar o quadro legal", deixa, entretanto, em aberto o espcialista.
Por que João Lourenço quereria autárquicas depois das eleições gerais?
A demora é entendida por certos setores como intencional. Para o Presidente João Lourenço, que aparenta não ter o poder devidamente consolidado no MPLA, o partido que governa ir às autárquicas representaria um revés na sua intenção de garantir o seu segundo mandato.
Sikatu é um dos que acredita que tudo não passa de jogada política do Presidente da República: "Porque não se justifica do ponto de vista político, do ponto vista de quem gere a estratégia neste momento e detém o poder. Ir às autárquicas significa repartir o poder com outras forças políticas. E, neste momento, a João Lourenço não interessa, porque repartir o poder significa claramente perder as eleições em 2022."
Angola: João Lourenço quer mesmo autárquicas em 2020?
O desejado "passo de camaleão"
E portanto, conduzir o processo a "passo de camaleão" seria a cartada de mestre de João Lourenço para alcançar os seus intentos.
No entender de Sikatu, "qualquer deslize político para ele é fatal, por isso mesmo é que mandou logo de imediato o pacote legislativo para a Assembleia Nacional e esta vai fazendo gestão de tempo. Vai deixando [em banho-maria]: aprova uma lei, passa um mês e aprova outra para ver se consegue adiar [as eleições autárquicas]".
E o cientista político desconfia: "Porque se adiam as eleições de 2020 para um outro ano já não é possível. Porque 2021 é ano de preparação para as eleições gerais. Estamos a falar de [autárquicas] depois de 2022, acho que o objetivo de João Lourenço é, de fato, isso: Realizar as eleições autárquicas depois de 2022."
Angola: Resultados por províncias
Conheça os dados apresentados até agora pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), província por província, numa altura em que estão apurados quase 99% dos votos.
Total nacional: Vitória do MPLA
O MPLA vence as eleições gerais em Angola com 61,05% do total de votos e João Lourenço é eleito Presidente da República, segundo a CNE, numa altura em que estão apurados quase 99% dos votos. A UNITA obteve 26,72%, CASA-CE 9,49%, PRS 1,33%, FNLA 0,91% e APN 0,50%. Foram eleitos 150 deputados do MPLA, 51 da UNITA, 16 da CASA-CE, 2 do PRS e 1 da FNLA.
Bengo
MPLA 66,92%; UNITA 24,67%; CASA-CE 5,6o%; FNLA 1,24%; PRS 0,94%; APN 0,62%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Benguela
MPLA 61,51%; UNITA 27,60%; CASA-CE 8,95%; PRS 0,90%; FNLA 0,62%; APN 0,42%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: ato de massas da CASA-CE em Benguela)
Foto: DW/N. S. D´Angola
Bié
MPLA 57,44%; UNITA 38,26%; CASA-CE 1,79%; PRS 1,05%; FNLA 0,86%; APN 0,61%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: ato de campanha do PRS no Cuito)
Foto: DW/M. Luamba
Cabinda
É a província que apresenta os resultados mais equilibrados, com os dois principais partidos da oposição a terem mais votos juntos do que o partido que sem mantém no poder. MPLA 39,75%; CASA-CE 29,33%; UNITA 28,18%; PRS 1,05%; FNLA 0,90%; APN 0,78%. O MPLA e a CASA-CE elegem dois deputados cada e a UNITA apenas um.
Foto: DW/C. Luemba
Cuando Cubango
MPLA 73,20%; UNITA 21,53%; CASA-CE 2,87%; PRS 1,13%; FNLA 0,85%; APN 0,42%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Cuanza-Norte
Aqui a CASA-CE surge na frente da UNITA: MPLA 77,59%; CASA-CE 10,48%; UNITA 7,91%; FNLA 1,89%; PRS 1,56%; APN 0,57%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Cuanza-Sul
MPLA 76,46%; UNITA 14,70%; CASA-CE 5,97%; PRS 1,23%; FNLA 1,11%; APN 0,53%. O MPLA elege cinco deputados.
MPLA 58,19%; UNITA 35,90%; CASA-CE 3,42%; PRS 1,21%; FNLA 0,77%; APN 0,50%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: registo eleitoral no Huambo, em março)
Foto: DW/J.Adalberto
Huíla
MPLA 76,56%; UNITA 12,39%; CASA-CE 8,38%; PRS 1,24%; FNLA 0,95%; APN 0,47%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: João Lourenço durante a campanha no Lubango)
Foto: DW/A. Vieira
Luanda
Na província de Luanda, o partido no poder e o maior da oposição estão próximos. MPLA 48,17%; UNITA 35,44%; CASA-CE 14,64%; FNLA 0,76%; PRS 0,60%; APN 0,38%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois.
Foto: DW/A. Cascais
Lunda-Norte
Nesta província, a CASA-CE, o segundo maior partido da oposição, aparece em quarto lugar na votação. MPLA 66,66%; UNITA 22,93%; PRS 5,14%; CASA-CE 3,44%; FNLA 1,05%; APN 0,77%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: DW/A. Cascais
Lunda-Sul
Aqui o partido no poder vence com um diferença de menos de 5%. E a CASA-CE também aparece no quarto lugar, depois do PRS. MPLA 45,96%; UNITA 41,06%; PRS 9,62%; CASA-CE 2,11%; FNLA 0,79%; APN 0,47%. O MPLA elege três deputados e a UNITA dois. (Foto: centro de Saurimo)
Foto: DW/Sul D'Angola
Malanje
MPLA 76,53%; UNITA 10,78%; CASA-CE 8,88%; PRS 1,95%; FNLA 1,28%; APN 0,58%. O MPLA elege cinco deputados. (Foto: barragem hidroelétrica de Capanda)
Foto: DW/G. C. Silva
Moxico
Aqui, mais uma vez, o PRS aparece em terceiro lugar, seguido pela CASA-CE em quarto. MPLA 74,48%; UNITA 18,90%; PRS 2,78%; CASA-CE 2,73%; FNLA 0,73%; APN 0,39%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA apenas um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: DW/A. Cascais
Namibe
No Namibe, a CASA-CE surge em segundo lugar na votação, mas o partido no poder tem maioria absoluta dos votos. MPLA 76,48%; CASA-CE 15,61%; UNITA 5,56%; PRS 1,07%; FNLA 0,73%; APN 0,54%. O MPLA elege quatro deputados e a CASA-CE um. (Foto: pavilhão multiuso do Namibe)
Foto: DW/A. Vieira
Uíge
MPLA 71,36%; UNITA 18,55%; CASA-CE 6,19%; FNLA 1,62%; PRS 1,50%; APN 0,78%. O MPLA elege quatro deputados e a UNITA um. (Foto: assembleia de voto em Luanda)
Foto: B. Ndomba
Zaire
MPLA 51,31%; UNITA 26,67%; CASA-CE 18,12%; FNLA 1,73%; PRS 1,21%; APN 0,96%. O MPLA elege três deputados, a UNITA e a CASA-CE apenas um. (Foto: oleodutos da Sonnagol na província do Zaire)