Ativista Francisco Teixeira sem dinheiro para pagar multa determinada por tribunal e arrisca-se a ser preso. O líder do Movimento dos Estudantes Angolanos foi acusado de ameaçar a integridade física de um jornalista.
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O presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) foi condenado, na semana passada, a pagar 200 mil kwanzas de indemnização (quase 400 euros) a Gonçalves Nhangica, ex-diretor de informação da Televisão Pública de Angola (TPA) e 70 mil kwanzas de taxa de justiça (120 euros).
Francisco Teixeira tem 60 dias para pagar a multa. Mas o ativista não tem dinheiro para cumprir com a obrigação imposta pelo Tribunal Provincial de Luanda e arrisca-se a ser preso.
Por isso, o MEA lançou a 27 de dezembro uma campanha de solidariedade. Segundo Joaquim Lutambi, porta-voz do movimento e mentor da "Campanha SOS Ativistas", o MEA reconheceu "a luta, a determinação e a dedicação pela Justiça que Francisco Teixeira tem tido, também tendo em conta a situação social e económica em que se encontra, visto que está desempregado e sem condições para custear a multa que foi aplicada pelo tribunal".
Angola: Ativista nega acusações, mas aceita sentença
Houve ameaça ou não?
Francisco Teixeira foi acusado de ameaçar a integridade física do jornalista Gonçalves Nhangica, depois de lhe ligar em 2017 a denunciar uma alegada censura na TPA em relação às mortes por febre amarela no país. O ativista negou as acusações, mas aceitou a sentença.
Desde a sua criação, há mais de quinze anos, o Movimento dos Estudantes Angolanos notabilizou-se em protestos de rua na defesa dos direitos dos alunos.
No princípio deste ano, o MEA contestou a cobrança da taxa para o ingresso no ensino universitário público e participou em manifestações contra a implementação de propinas nas universidades do Estado.
Uma mão lava a outra
O ativista Arante Kivuvu, um dos mentores do "Movimento Propinas Not", também se solidariza com Francisco Teixeira: "Sabendo que Teixeira é um ativista social que tem lutado bastante [contra] a injustiça social, apelamos à população angolana a ser solidária, porque hoje é o Teixeira, amanhã é o Arante ou outro cidadão. Nós chamamos à atenção principalmente os estudantes".
Segundo o porta-voz do Movimento dos Estudantes Angolanos, Joaquim Lutambi, "foi lançado um número bancário para a sua utilização na transferência, e também colocámos uma equipa na portaria da Rádio Despertar para aquelas pessoas que quiserem deixar o seu valor de forma física. Pretendemos estender essa campanha para outros pontos que permitam, pelo menos, a entrega ou a recolha destes valores".
"Acaba de me matar": jovens angolanos protestam contra o Governo nas redes sociais
Devido à falta de estrutura para lidar com os efeitos da chuva, pelo menos dez pessoas morreram em Luanda. Esta situação levou os cidadãos a iniciarem no Facebook uma onda de protestos denominada "Acaba de me matar".
Foto: Guenilson Figueiredo
Perdas após mau tempo
A morte de uma criança de quatro anos desencadeou a onda de protestos nas redes sociais, com os cidadãos a partilhar imagens fingindo-se de mortos e com a mensagem "Acabam de nos matar", uma forma de repudiar a não resolução dos problemas da população por parte do Governo. Ariano James Scherzie, 19 anos, participou na campanha que rapidamente se tornou viral.
Foto: Ariano Scherzie
Sonhos estão a morrer
Botijas de gás, livros, computadores e blocos de cimento estão entre os objetos usados pelos jovens para protestar contra o que dizem ser más políticas públicas. Indira Alves, 28 anos, lamenta a situação do seu país. "Estou a morrer. Desde as condições de vida até aos sonhos, não é possível o que temos vivido nesta Angola", conta a jovem que abandonou os estudos para trabalhar.
Foto: Indira Alves
Chamar atenção das autoridades
Anderson Eduardo, 24 anos, quis "atingir pacificamente a atenção de alguém de direito a fim de acudir-nos". Decidiu participar no protesto devido ao descontentamento com a governação em Angola. "Eles nos pedem para apertar o cinto, se contentar com o bem pouco, e ao mesmo tempo tudo sobe de preço, alimentos, vestuários, electrodomésticos, e o salário não sobe”, conta o engenheiro informático.
Foto: Anderson Eduardo
Em nome dos colegas e pacientes
Cólua Tremura, 24 anos, conta o porquê de ter participado no protesto: "A minha motivação foram os meus colegas que cancelaram a faculdade por causa da crise, os colegas que morreram antes de realizarem o sonho de serem médicos, os pacientes que apenas vão ao hospital quando estão graves. Acredito que [o protesto] não alcançou os resultados previstos, que era chamar a atenção do Governo".
Foto: Cólua Tremura
Sem reações
Lucas Nascimento, 20 anos, viu no mau tempo e na falta de estrutura razões para aderir ao protesto. O jovem quis dar apoio a uma jovem da região que perdeu a casa num desabamento provocado pelo mau tempo. "Acaba de me matar quer dizer que nós já estamos mal e o Governo está acabando de nos matar", explica. "Até aqui, não notamos nenhuma reação do Governo, talvez possa ser ignorância ou desleixo".
Foto: Lucas Nascimento
Falta justiça
Guenilson Figueiredo, 20 anos, entrou na onda de protestos e teme as consequências que ela pode trazer aos cidadãos que participaram. "Não posso falar muito sobre este protesto, porque nós vivemos num país onde a justiça só funciona contra os pobres".