Angola: Ativistas denunciam perseguição política em Malanje
14 de dezembro de 2022Um grupo de 17 ativistas da província angolana de Malanje queixa-se de estar a ser vítima de perseguição política. Adão Dala, um destes ativistas e responsável pelo movimento cívico "BUNTU", diz que a sensação que tem é que os críticos do MPLA "não podem fazer palestras" em Malanje.
À DW, o jovem de 29 anos conta que o movimento já tentou realizar vários encontros em locais públicos para falar sobre temas como o pan-africanismo, a liberdade social e os direitos humanos, mas é sempre impedido.
Em setembro, por exemplo, o grupo tentou fazer uma atividade na Biblioteca Provincial, que lhe fechou a porta.
"Falámos com o secretário lá na biblioteca provincial e ele disse-nos que o nosso documento [com o pedido] seria bem-vindo. Disse que entende a perspetiva e as dimensões das nossas abordagens, mas que, muitas vezes, vão despertando a população, e a emancipação chega a ser um perigo para a manutenção do poder e para quem governa. Disse também que o que está acontecer não depende de si, pois cumpria ordens", conta Adão Dala.
Uma questão de agenda?
Contactada pela DW, a secretária para informação e propaganda do MPLA e diretora da Biblioteca Provincial em Malanje, Ema Massunga, rejeita que o impedimento tenha tido motivações políticas. Segundo ela, tratou-se apenas de uma questão de agenda, já que a Biblioteca Provincial "é um espaço muito concorrido" e com "muitas solicitações".
"Quando alguém atrasa a fazer um documento, [quando entrega] pode já encontrar o espaço ocupado, infelizmente. Nós sugerimos uma outra data, caso o solicitante esteja de acordo com a data que nós vamos propor. Caso contrário, damos resposta negativa. Talvez possa ser este o caso", disse Ema Massunga.
O ativista Adão Dala diz que não acredita nas explicações da responsável.
O movimento cívico "BUNTU" existe em Malanje desde 2016. E de lá para cá, vários espaços públicos, sejam escolas privadas ou hotéis, fecham as portas aos ativistas. A justificação dada ao movimento é sempre a mesma: são "ordens superiores". Algo que é visto por Adão Dala como uma perseguição política.
O ativista conta que os "proprietários [dos diferentes espaços] recebem telefonemas a dizer que não podem aceitar que estes jovens realizem atividades nos locais, porque vão incentivar as pessoas ao ativismo político e cívico".
Palestras em quintais
Para contornar a situação, os ativistas começaram a realizar as palestras em quintais. Mas, por causa disso, sofreram pressões e ameaças. Foram até acusados de receber dinheiro do maior partido da oposição.
"Recebemos telefonemas com um monte de ameaças, de que dobraram o dinheiro que a UNITA me dá e eu nunca recebi", afirma Adão Dala.
Chamado a comentar a situação, o jurista Carlos Xavier afirma que o que está a acontecer com o movimento cívico "BUNTU" se repete em muitos outros sítios em Angola. Para o jurista, "este comportamento é típico dos regimes ortodoxos que desenvolvem comportamentos anticríticas e, por conta disto, não se desenvolvem".
"Infelizmente", continua Carlos Xavier, o regime do Presidente João Lourenço "não aceita críticas, daí o desastre na perspetiva administrativa. Não consegue encontrar os caminhos para colocar Angola e, no caso, Malanje, nos carris."
O politólogo Manuel Gonga concorda e não prevê um futuro melhor para o país enquanto o MPLA estiver no poder.
"Nunca o Governo angolano suportado pelo partido MPLA vai permitir e aceitar uma atividade social que não seja do seu benefício, que não seja do seu interesse. Como retaliação, vão sempre impedir."