Angola: Baixa de preços da cesta básica manobra eleitoral?
Manuel Luamba
22 de setembro de 2022
A cesta básica em Angola voltou a subir depois das eleições ganhas pelo MPLA. As famílias queixam-se. Um ativista diz que a descida dos preços era um programa eleitoralista. Mas um economista diz que não é bem assim.
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Os preços da cesta básica no mercado angolano, subiram ligeiramente em relação ao período antes das eleições gerais de 24 de agosto.
A DW África constatou isso mesmo em algumas lojas em Luanda.
Francisca António, uma residente da capital angolana, desabafa: "Estamos a ver agora as coisas estão a subir muito. Uma caixa de coxas [de galinha] está a custar dez mil e quinhentos kwanzas [cerca de 24 euros], é muito. Um saco de arroz já está a 9 mil [o equivalente a 21 euros], daqui a nada já [será] dez mil".
Também Joana Faria queixa-se da subida dos preços depois das eleições gerais de 24 de agosto de 2022 dizendo que "no princípio estava tudo bem".
"As coisas subiram mesmo muito"
"As coisas estavam baratas, as pessoas compravam e enchiam as arcas", relata Joana Faria, afirmando, no entanto, que "no princípio deste mês as coisas subiram mesmo muito".
"A caixa de concha está 12 mil, 10 mil, está mesmo muito cara. A fuba de milho está barata, mas o arroz subiu para 10 mil e quinhentos", pontua.
E a solução encontrada para estas donas de casa é o processo de sócia. Sócia consiste em juntar dinheiro com vista a adquirir um único bem para ser dividido por duas ou mais pessoas.
"Em vez de comprar um saco de arroz tem que se reduzir para se poder associar duas pessoas ou três pessoas. Não achas que é muito?", pergunta Domingas Manuel.
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Medida eleitoralista
Em 2021, o Governo angolano lançou a Reserva Estratégica Alimentar – uma iniciativa que visava guardar alimentos, para acudir situações de calamidade, emergenciais, e no caso de países como Angola que o mercado ainda deve ser influenciado, incentivar ações voltadas ao sector.
Com esta e outras medidas, os produtos da cesta básica tinham registado descida até antes das eleições. Mas, para o ativista Utukid Scot, "esta foi uma medida eleitoralista".
"Tudo não passou de uma medida no sentido de reduzir os níveis de descontentamento que se verificavam na cidade capital. Só que não surtiu os efeitos desejados porque nós vivemos como é que a capital reagiu a essa questão toda no momento das eleições. Mas fica aqui patente que esses preços foram subvencionados sobretudo para fins políticos", opina o ativista.
Economista aponta possíveis causas
O economista angolano Job de Sousa, porém, cita dois fatores conjugados durante o processo eleitoral que contribuíram para a subida dos preços: primeiro houve um aumento de liquidez na economia angolana fora do normal.
"Em que quer partidos políticos, quer empresas, quer estes órgãos todos, como comunicação que contratam pessoas e remuneraram, empresas que financiaram campanhas políticas além daquilo que é o financiamento público, procuraram recursos para fazer campanha eleitoral, levou com que houvesse um aumento ligeiro da oferta", explica.
Em segundo, "algumas empresas fecharam, reduziram as suas unidades produtivas e os consumidores também mantiveram-se estagnados em função de aguardar qual seria o desfecho do processo eleitoral".
"Uma vez que fecha as eleições, as unidades começaram a retomar as suas unidades produtivas e famílias foram ao mercado fazer compras para poderem suprir as suas necessidades básicas, essencialmente questões alimentares", ressalta o economista que conclui que o excesso de liquidez e a redução da oferta fizeram com que os preços da cesta básica registassem esse ligeiro aumento.
"O MPLA tem de perceber o grande trabalho que o espera"
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Ainda segundo Sousa, também podia dar-se o caso de alguns agentes económicos "fazerem stockagem de produtos e, porque importaram num outro período ou produziram num outro período com um custo totalmente diferente ao que o mercado estava a vender de modos a não perderem dinheiro, esses agentes económicos guardaram estes produtos no sentido de que depois das eleições colocarem no mercado a um preço mais alto".
Porém, o economista não descarta a hipótese de existir também especulação de preços por parte de alguns fornecedores de produtos em Angola.
Recentemente, a Autoridade Nacional de Inspeção Económica e Segurança Alimentar denunciou a existência de agentes económicos especuladores de preços. Os supostos infratores foram detidos pelo Serviço de Investigação Criminal. A DW África tentou ouvir a ANIESA, mas sem sucesso.
Angola: As eleições em imagens
Esta quarta-feira é dia de Angola decidir quem será o próximo Presidente e os deputados da Assembleia Nacional. A DW compilou as imagens desta manhã de eleições, no dia em que 14 milhões de angolanos vão às urnas.
Foto: Adolfo Guerra/DW
Longas filas no dia de decidir
As mesas de voto só abriram às 07h00, mas as filas para votar nas eleições mais disputadas de sempre em Angola começaram a formar-se bem cedo. Cabe aos eleitores decidir se "a força do povo" continua do lado do MPLA, mantendo no poder o partido que governa o país desde a independência, ou se dizem "sim" ao apelo de mudança da oposição liderada pela UNITA.
Foto: John Wessels/AFP
Oito partidos na corrida
Além dos rivais Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), concorrem Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Partido de Renovação Social (PRS), Aliança Patriótica Nacional (APN), Partido Nacionalista para a Justiça (P-NJANGO), Partido Humanista de Angola e a coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE).
Foto: António Cascais/DW
Madrugar para votar
Aos 79 anos, Adélia Namalange exerce hoje o seu direito de voto pela quinta vez. A idosa chegou às 5h00 à assembleia de voto número 9658, no município do Lobito, em Benguela, e esperou duas horas pela abertura das urnas, no dia que 14 milhões de angolanos decidem o futuro político do país.
Foto: Daniel Vasconcelos/DW
João Lourenço apela ao voto: "É Angola que ganha"
"Acabámos de exercer o nosso direito de voto, é rápido e é simples", disse João Lourenço, na assembleia de voto n.º 105, em Luanda, convidando os eleitores a fazerem o mesmo. No meio de uma enorme confusão de jornalistas que queriam registar o momento, o candidato do MPLA salientou que todos saem a ganhar: "É a democracia que ganha, é Angola que ganha."
Foto: AP Photo/picture alliance
Adalberto Costa Júnior critica processo
O líder da UNITA votou no bairro 28 de Agosto, em Luanda, onde foi fortemente aplaudido pelos eleitores presentes. "Fiquei satisfeito e votei no meio do meu povo e constatei que a votação está a ser feita sem cadernos eleitorais aos fiscais, apenas um caderno eleitoral na mesa", afirmou Adalberto Costa Júnior, que defendeu mais uma vez a afixação dos resultados nas assembleias de voto.
Foto: John Wessels/AFP
Manuel Fernandes "plenamente" confiante na vitória
Manuel Fernandes, o candidato da coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), votou esta manhã no Bairro Militar, em Talatona, Luanda. Depois de votar, manifestou "plena confiança" no resultado eleitoral do atual terceiro partido com mais assentos no parlamento angolano.
Foto: Borralho Ndomba/DW
"Grande expetativa" de Nimi Ya Simbi é ganhar eleições
Nimi Ya Simbi, candidato da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), votou em Viana, um dos mais populosos municípios de Luanda. Minutos depois, Nimi disse que a sua "grande expetativa é ganhar as eleições." O líder da FNLA acredita que o seu partido "vai vencer" as eleições, "porque quem vai para o combate não vai para perder", tendo enaltecido o cumprimento do seu dever cívico.
Foto: Nelson Francisco Sul/DW
Benedito Daniel exorta à afixação das atas
O candidato do Partido de Renovação Social (PRS) exerceu o seu direito de voto no Instituto Superior Politécnico do Bita, em Luanda. Após votar, Benedito Daniel manifestou um "sentimento de alegria e de dever cumprido", exortando à afixação das atas sínteses nas assembleias. Disse também esperar que a CNE possa corresponder às expetativas dos eleitores.
Foto: DW/M. Luamba
Bela Malaquias insite em "humanizar" Angola
A líder do Partido Humanista de Angola (PHA), Florbela Malaquias, manifestou um "sentimento de realização" após votar e reiterou a promessa de humanizar Angola, "que se encontra completamente desumanizada em todos os sentidos", sublinhou a única mulher a liderar um partido político em Angola, depois de votar no bairro do Maculusso, distrito urbano da Ingombota, em Luanda.
Quintino Moreira, líder da Aliança Patriótica Nacional (APN), sem assento no Parlamento angolano, manifestou-se "otimista" em relação à obtenção de uma "bancada parlamentar vasta", para que não haja maiorias absolutas na "casa das leis", afirmou esta manhã, depois de depositar o seu voto numa assembleia de voto, em Talatona, perto da capital angolana.
Foto: Borralho Ndomba/DW
Dinho Chingunji contra "Votou, Sentou"
O candidato do Partido Nacional para a Justiça em Angola (P-Njango) considerou hoje as eleições como "ocasião soberana" para escolha dos governantes e exortou os eleitores a esperarem os resultados em casa, contrariando o movimento "Votou, Sentou". Chingunji, que votou no município do Kilamba Kiaxi, em Luanda, exortou "os cidadãos a regressarem para as suas casas e a esperar pelos resultados".
Foto: Borralho Ndomba/DW
CNE diz que está tudo a funcionar
A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) anunciou que as 13.238 assembleias de voto espalhadas pelos 164 municípios angolanos "estão abertas e em perfeito funcionamento" e "não há registo de qualquer incidente" que possa beliscar a votação. Também foram constituídas 45 mesas de voto no estrangeiro, para as quais foram recrutados 105.952 membros.
Foto: António Cascais/DW
UNITA denuncia irregularidades no Bengo
No Bengo, a UNITA chamou os jornalistas para denunciar supostas irregularidades na votação. De acordo com o partido do "galo negro", a CNE local está a proibir que os delegados de lista suplentes exerçam o direito de voto nas assembleias para as quais estão destacados, contrariando, desta forma, uma circular da própria Comissão Nacional de Eleições.
Foto: António Ambrósio/DW
Queixas de eleitores em Cabinda
A votação em Cabinda está a decorrer com alguma normalidade, mas com várias queixas por parte dos eleitores que dizem desconhecer as suas mesas de voto. Os cidadãos são obrigados a percorrer longas distâncias para votar, já que foram colocados em pontos longínquos da província e da capital. E há delegados de lista de partidos que não foram credenciados.
Foto: Simão Lelo/DW
Delegados monitorizam processo
Delegados de lista dos partidos políticos controlam o processo de votação no Bairro da Cuca, em Luanda, a capital. Durante a campanha eleitoral, o polémico movimento "Votou, Sentou", propalado por alguns partidos e membros da sociedade civil, também pediu aos eleitores para permanecerem nas imediações das assembleias de voto.
Foto: Manuel Luamba/DW
O voto da diáspora em Portugal
O ator Daniel Martinho, a viver há cerca de 40 anos em Portugal, foi ao Consulado Geral de Angola em Lisboa votar, feliz por ser a primeira vez que foi dada à comunidade radicada no exterior a possibilidade de exercer o direito de voto. "Era uma aspiração que nos incomodava", contou à DW. "É uma forma de contribuirmos para um país melhor, porque nós na diáspora também fazemos Angola", precisou.