Existe um conflito aberto entre pastores angolanos e brasileiros na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Será que esta guerra entre pastores é suscetível de colocar em risco as relações entre Angola e o Brasil?
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É uma autêntica guerra aberta, que envolve muitos interesses - inclusive financeiros - no seio da igreja fundada no Brasil em 1977 por Edir Macedo no Rio de janeiro. Desde o início, a Igreja Universal começou a expandir-se um pouco por todo o mundo com especial incidência para os países lusófonos.
Em África as relações nunca foram completamente livres de conflitos. Em Angola esse conflito está atualmente a mostrar-se de forma mais explícita. A "guerra" já terá começado no ano passado.
Os representantes angolanos da IURD afirmam ter o controlo de mais de 40% dos templos, numa altura em que os cultos religiosos estão suspensos em Luanda e Cuanza Norte devido à covid-19. Do outro lado da trincheira estão os representantes brasileiros da IURD, residentes em Angola.
Angola-Brasil: relações em risco por causa da IURD?
As partes têm lançado acusações mútuas, principalmente através da imprensa. Os angolanos acusam os brasileiros de desvio de dinheiro e também de comportamento racista. Os brasileiros, por sua vez, devolvem as acusações, acusando os angolanos de xenofobia e má fé. Por trás da guerra estarão sobretudo interesses financeiros e políticos, segundo os observadores.
"Conflito vai beliscando relações entre os dois países"
Um especialista em questões internacionais ouvido pela DW África diz que "pelo andar da carruagem vai beliscando". Outros comentadores afirmam, no entanto, que a situação não coloca em causa as relações entre os dois países irmãos. É os caso de Nkikinamo Tussamba, especialista angolano em questões internacionais, que - em entrevista à DW África - chama a atenção de que "não existe nenhum conflito entre o Brasil e o Estado angolano."
Em conflito estão os pastores angolanos e brasileiros da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Mas há quem indique que a situação já ganhou "outros contornos", tendo mesmo atingido as chefias politicas dos dois Estados. O presidente do Brasil Jair Bolsanaro terá mesmo escrito uma carta ao seu homólogo João Lourenço, manifestando a sua preocupação com diferendo entre membros da IURD, em Angola. Luanda, por sua vez, também já se mostrou preocupada e vai mesmo discutir a situação no Parlamento angolano já nos próximos dias. Nkikinamo Tussamba, comenta: "Não deveria manchar as relações bilaterais entre os dois países. Mas, conforme nós estamos a assistir ao desenrolar da situação, estamos a perceber que realmente vai beliscando, pelo menos em parte, as relações entre os dois países. Muito mais pela pressão que o Parlamento brasileiro vai exercendo em torno desta situação. E aqui nos questionamos: por quê a intervenção?"
José João, outro especialista em relações internacionais, não prevê que este diferendo venha a afetar as relações entre os dois Estados; e lembra que o Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola, a 12 de novembro de 1975.
"Eu acredito que poderá não haver nenhum conflito em termos de relações diplomáticas entre o Brasil e Angola, tendo em conta que o conflito que existe entre pastores angolanos e brasileiros, em Angola, nada tem a ver com o Estado angolano. Porque Angola é um Estado laico e em termos de resolução de conflitos devem ser provadas as acusações que os pastores angolanos fazem contra a liderança brasileira em Angola."
Por onde passa a solução?
Nkikinamo Tussamba, propõe conversações entre os serviços diplomáticos dos dois países: "Deveria existir uma vontade das duas partes e, por meio desta vontade, uma solicitação em resolver essa situação da melhor forma possessível. Esse seria o caminho certo."
José João, por sua vez, espera a intervenção do Instituto Nacional dos Assuntos Religiosos. Só assim se poria fim ao conflito. A laicidade do Estado angolano não deveria, no entanto, ser posta em causa, afirma ainda o especialista: "Deviam encontrar um denominador comum, para que sejam salvaguardados tanto os interesses dos pastores angolanos como os interesses dos pastores brasileiros."
Costa do Marfim: Uma visita à maior basílica do mundo
Yamoussoukro deveria ser a jóia da coroa da Costa do Marfim. O plano não deu certo, mas a cidade é agora o lar da Basílica Nossa Senhora da Paz, uma das maiores igrejas em todo o mundo.
Foto: DW/S. Fröhlich
Uma pérola escondida da África Ocidental
No coração de Yamoussoukro - a capital “esquecida” da Costa do Marfim - está uma igreja maior do que a Basílica de São Pedro, em Roma. A Basílica Nossa Senhora da Paz, Basilique Notre-Dame de la Paix (em francês), é a maior do mundo. Sua construção, entre 1986 e 1989, foi planeada pelo “pai fundador” do país e primeiro Presidente, Félix Houphouët-Boigny, e tornou-se seu legado.
Foto: DW/S. Fröhlich
Espaço para 200 mil fiéis
Dentro da basílica cabem 11 mil pessoas em pé. 7 mil visitantes podem assistir à missa sentados. O prédio, em si, pode abrigar 18 mil fiéis. Mas há espaço para ainda mais pessoas do lado de fora: a praça ao redor da igreja pode acomodar 30 mil e até 150 mil podem ocupar a esplanada em frente à construção. Isso é o que faz da Nossa Senhora da Paz a maior basílica do mundo.
Foto: DW/S. Fröhlich
A basílica mais alta do mundo
A Nossa Senhora da Paz imita, em formato e tamanho, a famosa Basílica de São Pedro, em Roma. A cúpula é ligeiramente menor, mas com a grande cruz chega até 158 metros. O prédio tem 191 metros de altura e 150 metros de largura. Desenhada pelo arquiteto libanês Pierre Fakhoury, a área interior tem mais de 8 mil metros quadrados. Cerca de 400 mil árvores, sebes e arbustos foram plantados no espaço.
Foto: DW/S. Fröhlich
Milhares de cores
Os enormes vitrais da basílica tem ao todo uma área de 7400 metros quadrados. Cerca de 6 mil cores foram usadas para ilustrar diferentes cenas do Velho e do Novo Testamento, incluindo a criação e o nascimento de Jesus Cristo. Em uma janela, a representação do primeiro Presidente da Costa do Marfim, Félix Houphouët-Boigny, ajoelhado na frente de Jesus, com seu nome esculpido no vidro.
Foto: DW/S. Fröhlich
Sem permissão para casamentos
Não é possível casar ou celebrar funerais na basílica. Como menos de um terço da população se identifica como cristã, a presença de fiéis nas missas não é grande - em geral, poucas centenas. Mas aqueles que visitam a igreja podem desfrutar de um sistema italiano de ar condicionado, descrito como um “oásis de frescor”.
Foto: DW/S. Fröhlich
Um plano ambicioso
A basílica foi um presente do Presidente Félix Houphouët-Boigny ao Vaticano. Ele queria uma igual a de São Pedro - só que maior. O papa João Paulo II concordou, cético, sob duas condições: a cúpula não deveria ser maior do que a da basílica em Roma e um hospital deveria ser construído nas proximidades da igreja. O hospital foi planeado como pedido, mas a inauguração não ocorreu antes de 2015.
Foto: DW/S. Fröhlich
Um projeto caro
Controvérsias cercam o financiamento da basílica. Diz-se que Houphouët-Boigny gastou cerca de 300 milhões de dólares e escondeu o fato de ter usado principalmente dinheiro dos contribuintes. A construção também duplicou a dívida do país, em meio a uma crise económica. A manutenção hoje custa aproximadamente 1,5 milhão de dólares por ano, valor que é pago por uma fundação criada pelo ex-Presidente.
Foto: DW/S. Fröhlich
Um papa ausente
Todos os 18 mil lugares da igreja foram completamente ocupados apenas uma vez: no dia da consagração, em 1990. Desde então, não houve visitas do Papa, talvez por causa do contraste entre o projeto multimilionário e a pobreza que o cerca - mais de 40% dos 23 milhões de habitantes do país vivem abaixo da linha da pobreza.
Foto: DW/S. Fröhlich
A cidade esquecida
Hoje, a basílica fica numa cidade quase deserta, cheia de rodovias que levam a lugar nenhum. Em 1983, Félix Houphouët-Boigny nomeou Yamoussoukro como a nova capital da Costa do Marfim. Ele encomendou grandes monumentos e edifícios, incluindo o Hotel Presidente, de cinco estrelas. Mas nenhuma das embaixadas ou ministérios sequer mudaram-se de Abidjan. Yamoussoukro logo se tornou uma capital vazia.