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Angola: Carros para os governantes em vez de novas estradas

Adolfo Guerra (Menongue)
21 de novembro de 2022

É viável gastar milhões em viaturas quando não há condições para a população? Várias questões estão a ser levantadas em torno da polémica compra para os dirigentes no Cuando Cubango, no âmbito do PIIM.

(Foto de arquivo)Foto: Adolfo Guerra/ DW

A compra de viaturas para os administradores da província angolana do Cuando Cubango está a dividir opiniões. Para algumas vozes, o ato é irresponsável diante das outras prioridades da região. Para outros, os novos veículos vão ajudar na fiscalização dos vários projetos provinciais.

As críticas e o descontentamento da população multiplicam-se desde o dia 21 de outubro, quando o Governo provincial do Cuando Cubango divulgou na sua página oficial no Facebook a entrega de 23 viaturas, das quais dois camiões, para os administradores locais. No total, já foram entregues 57 dos 65 veículos que foram adquiridos pelo Estado.

Segundo o Governo, o investimento em viaturas é feito no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) – lançado em 2019 pelo Presidente João Lourenço – e ajudará na fiscalização dos projetos e na locomoção dos gestores públicos para a governação de proximidade.

Mas para o ativista Francisco Koati Tchombe, não foi com este propósito que o Governo central lançou o plano. 

Tchombe considera que a compra de viaturas é uma falta de compromisso com a população que enfrenta grandes problemas sociais: "O dinheiro do PIIM tem a ver com as necessidades da população, mas a aquisição de viaturas é para o benefício particular [dos administradores provinciais]", referiu o ativista, lamentando a falta de abertura na comunicação do atual Governo da província.

"Luxo para a elite"

Para o ativista, a sugestão seria, por exemplo, adquirir transportes públicos que beneficiem os estudantes.

"Nós vemos todos os dias vários estudantes que passam enormes dificuldades para se deslocarem de casa até às escolas. Então, se pegassem neste dinheiro com que adquiram os Land Cruisers e comprassem transportes públicos, isso deveria minimizar o calvário de estudantes e outros muitos cidadãos. Dar luxo para uma elite e penalizar aqueles que seriam os beneficiários principais do projeto é quase nada", disse.

Outro cidadão ouvido pela DW África pensa que a compra de viaturas no âmbito do PIIM não é má de todo. Pacheco Serrote entende que o Governo peca apenas na escolha das figuras que estão a receber os veículos.

"Há um bom tempo que já não há aquisição de viaturas para certos setores, e é necessário muitas das vezes olhamos para os professores universitários a andarem a pé, os expatriados principalmente. Agora, estamos a ver pessoas que não deveriam ter estas viaturas, a tê-las, porque não fiscalizam coisa nenhuma. É aí que está o problema."

Menos de 11% das vias na província do Cuando Cubango estão asfaltadas, diz o jornalista Marcolino ChiungueFoto: Adolfo Guerra/DW

Prioridades invertidas

O académico e jornalista Marcolino Chiungue recorda que a província tem menos de 11% de rede viária asfaltada e, na sua opinião, a aquisição de viaturas não vai ao encontro dos anseios da população. 

"Estas viaturas terão um tempo de vida útil bastante reduzido em função da inexistência de estradas. Portanto, podemos questionar se é viável que se gastem milhares de milhões de kwanzas na aquisição de mais de 60 viaturas."

Marcolino entende que, desde o lançamento do PIIM pelo chefe do Executivo angolano, o Cuando Cubango está longe da concretização dos projetos.

"Adquire-se viaturas em detrimento de melhorar as condições das populações através da colocação de asfalto em algumas localidades, mesmo dentro da cidade de Menongue, ou mesmo em detrimento da construção de infraestruturas que são necessárias, incluindo esquadras polícias. Ainda não se sente o impacto do PIIM na província do Cuando Cubango", referiu.

A DW África contactou o coordenador do PIIM, o vice-governador para os Serviços Técnicos e Infraestruturas do Cuando Cubango, João Bonifácio Cassanga, mas não foi possível obter uma reação.

Na província, o PIIM prevê o desenvolvimento de 216 projetos, totalizando um investimento de 65 milhões de dólares. Todos os recursos do plano são retirados do Fundo Soberano de Angola.

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