Campanha para as eleições de agosto concentram-se em Huíla
Lusa | cp
19 de julho de 2017
A província da Huíla, a segunda mais populosa de Angola, concentra as primeiras ações da campanha eleitoral de duas das candidaturas às eleições de 23 de agosto.
Publicidade
A campanha eleitoral arranca oficialmente 30 dias antes das eleições gerais, marcadas para 23 de agosto, conforme decorre da legislação em vigor, incluindo com o início da emissão de tempos de antena na rádio e televisão públicas. Todos os candidatos já fizeram uma primeira volta pelo país nas últimas semanas.
Contudo, com 18 províncias para percorrer, distribuídas por 1.246.700 quilómetros quadrados, todos os candidatos já passaram por grande parte do país na pré-campanha que esta semana chega ao fim, marcada pela ausência de José Eduardo dos Santos, ou simplesmente 'Zedú', que ao fim de 38 anos no poder já não integra qualquer lista candidata.
Para esta campanha, cada uma das seis forças políticas concorrentes vai receber mais de 170 milhões de kwanzas (900 mil euros) de subvenção do Estado.
Com mais de 2,5 milhões de habitantes, Huíla, província do sul de Angola, é uma das mais relevantes nas contas finais das eleições, não sendo por isso de estranhar que seja disputada logo no arranque da campanha.O presidente da Convergência Ampla de Salvação Nacional - Coligação Eleitoral (CASA-CE), e candidato por via indireta à eleição para Presidente da República como cabeça-de-lista da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, desloca-se a Huíla, onde reúne a 21 de julho o Conselho Consultivo, encontro durante o qual fará a apresentação oficial do programa de governação.
O dia 22 de julho marca a abertura oficial da campanha eleitoral da CASA-CE, com um comício na cidade do Lubango, a capital da província.
APN concorre pela primeira vez nestas eleições
Em ano de estreia, a CASA-CE surpreendeu nas eleições gerais de 31 de agosto de 2012, ao ser a terceira força mais representada, com 345.589 votos, correspondentes a 6% da votação total e oito deputados.
Ainda em Huíla, o Partido de Renovação Social (PRS) realiza no mesmo dia o arranque oficial da sua campanha eleitoral, com a presença a sul do cabeça-de-lista, Benedito Daniel, eleito presidente do partido em maio. Fica para trás o histórico de 98.233 votos em 2012 no PRS, equivalentes a 1,70% do total, e três deputados.
Estreante nestas eleições, a Aliança Patriótica Nacional (APN), de Quintino Moreira, que já afirmou que quer chegar aos 40 deputados e ser Governo em 2022, inicia a campanha oficial na província do Uíge, no interior-norte de Angola, tendo o fecho previsto para 21 de agosto, em Luanda.
Entre as seis forças concorrentes, a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) é a única que arranca o período de campanha oficial em Luanda. Na sexta-feira, 21 de julho, é o próprio presidente e cabeça-de-lista do partido a apresentar, em Luanda, o programa de Governo da UNITA.
MPLA está no poder em Angola há 42 anos
No dia seguinte, 22 de julho, Isaías Samakuva lidera o comício previsto para o município do Cacuaco, nos arredores da capital, com o regresso a Luanda no fecho da campanha, a 21 de agosto. A maior força política da oposição em Angola não foi além de 1.074.565 votos nas eleições de agosto de 2012, equivalente a 18,6% do total, e 32 deputados.
Já o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder em Angola desde 1975, escolheu o Huambo para o arranque da campanha eleitoral agora liderada por João Lourenço.
O general e ministro da Defesa Nacional, que se mantém em funções, já percorreu desde fevereiro as províncias do país, com atos de massas em todas as capitais, e escolheu o Huambo, bastião da UNITA durante a guerra civil que se seguiu à independência, para o arranque oficial da campanha, com um ato de massas no dia 25 de julho.
Nas eleições de 2012, a candidatura encabeçada por José Eduardo dos Santos obteve 4.135.503 votos, 71,8% do total, e 175 dos 220 deputados eleitos, além da presidência e vice-presidência da República.
Frente Nacional de Libertação de Angola
A Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) optou por arrancar com a campanha, a 25 de julho, domingo, no Cuito, capital do Bié, fazendo deslocar o presidente do partido e cabeça-de-lista às eleições gerais, Lucas Ngonda, a um bastião histórico daquela força política.Em 2012, a FNLA não foi além de 65.163 votos, 1,13% do total, tendo a representação parlamentar mais reduzida, com dois deputados eleitos.
Angola contará com 9.317.294 de eleitores nas eleições gerais de agosto, segundo os dados oficiais da Comissão Nacional de Eleições (CNE).
A Constituição angolana aprovada em 2010 prevê a realização de eleições gerais a cada cinco anos, elegendo 130 deputados pelo círculo nacional e mais cinco deputados pelos círculos eleitorais de cada uma das 18 províncias do país (total de 90).
O cabeça-de-lista pelo círculo nacional do partido ou coligação de partidos mais votado é automaticamente eleito Presidente da República e chefe do executivo.
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.