Angola: Chuvas deixam 1500 pessoas desabrigadas em Malanje
Nelson Camuto (Malanje)
15 de janeiro de 2022
Centenas de famílias estão ao relento no município de Kakuzo por causa das chuvas fortes que caíram nas últimas semanas. A administração municipal realojou famílias num aviário, sem condições de habitabilidade.
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Maria Frederico conta que as paredes da sua casa desabaram com a fúria das águas. Num só dia, chegou a chover dez horas sem parar. Em entrevista à DW, a jovem de 28 anos diz-se preocupada com a saúde dos seus cinco filhos, "que estão a sofrer com a humidade". "Só demos conta que a casa caiu, quando a parede bateu no chão. Estava ao lado das crianças, mas as crianças foram mesmo rápidas e saíram da parede".
Gritos de socorro
A casa de Sebastião António também ficou destruída. O camponês, pai de oito filhos, foi acolhido por um vizinho. Pede agora apoio ao Executivo de Norberto dos Santos "Kwata Kanawa", o governador da província de Malanje. "Estou a sofrer muito. Molhou mesmo com a chuva… junto com os meus filhos… quero cama, colchão e todas as coisas da casa que estragaram", pede.
A maioria das casas dos bairros periféricos de Kakuzo foi construída em zonas de risco. Isto mesmo lembra a camponesa Ana Francisco, que vive no bairro da Kaxinda.
"O local onde estamos não está bom. Para aqui escorre muita água. A água que passa para a vala bate também aqui na parede, e entra água", mostra à nossa reportagem.
No bairro da Gajajeira, a situação é idêntica. Como conta à DW, Daniel Paulo, "a água toda que vem de cima não tem um desvio próprio. O Governo deveria ter feito uma vala que desviasse a água para não atingir a população ou o bairro. Mas como não fez, as casas estão a sofrer danos".
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Realojamento em aviário
A administração municipal de Kakuzo realojou as famílias afetadas num aviário distante da vila e do setor de Matete, o epicentro da destruição. Mas há munícipes que rejeitaram o local por não ter acomodações adequadas nem ser possível cumprir as medidas de prevenção contra a Covid-19.
O camponês Bernardo Soares critica a forma como as autoridades lidaram com as pessoas. "Não concordo em aglomerarem-nos num sítio por causa da Covid-19… não acho bem, porque eu vivo com as crianças e apanhar a Covid-19 é complicado", explica.
Outra das preocupações tem a ver com as próprias instalações do aviário, que não tem teto. No entanto, sugeriu a administradora municipal de Kakuzo, Joana de Mato, o problema pode ser resolvido cobrindo o local com as chapas das casas destruídas pelas chuvas.
"Em tempos, teve um incêndio lá naqueles lados. As pessoas fizeram queimadas e incendiaram praticamente as chapas do aviário. O que nós estávamos a fazer e o que dissemos às famílias é que nós iríamos ajudar, e que as chapas estavam a sair das casas destruídas. Ajudámos algumas famílias a pegar naquilo para fechar os locais onde elas estão a ficar", explicou a administradora,
O Governo de Malanje distribuiu alimentos e roupas às famílias afetadas pelas chuvas.
Chuva intensa causa estragos em Maputo
Depois de um fim-de-semana de chuvas intensas, os velhos problemas de saneamento voltaram a afetar os bairros periféricos da capital de Moçambique, como Hulene, Ferroviário, Laulane, Maxaquene e Polana Caniço.
Foto: Romeu da Silva/DW
A força das águas
Depois de um fim de semana de chuvas intensas, os velhos problemas de saneamento voltaram a afetar os bairros periféricos da capital de Moçambique, como Hulene, Ferroviário, Laulane, Maxaquene e Polana Caniço. Habitantes tentam agora reparar os estragos em casas e ruas inundadas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Silo não resistiu
No bairro da Maxaquene, o município de Maputo está a construir um silo para armazenar as águas de uma rua que fica inundada sempre que chove. O empreendimento não aguentou a intensidade das chuvas do fim de semana e a própria estrutura ficou inundada.
Foto: Romeu da Silva/DW
Novo desabamento na lixeira de Hulene
Foi neste local, há três anos, que um monte de lixo deslizou e matou 16 pessoas, destruindo várias residências. Um novo desabamento na sequência das últimas chuvas em Maputo não causou danos. Com crónicos problemas de erosão, o bairro de Hulene não foi tão afetado pela intempérie. Desta vez, os residentes colocaram vários detritos, sobretudo plástico, para travar o avanço da areia.
Foto: Romeu da Silva/DW
Reparar os estragos
Em vários bairros, o cenário repete-se: residentes com ferramentas nas mãos tentam reparar os danos causados pelas chuvas intensas. A água invadiu muitas residências como esta, no bairro Ferroviário, e os moradores apressam-se a tapar as aberturas criadas pela queda da chuva.
Foto: Romeu da Silva/DW
Ruas alagadas
Dentro e fora de casa, a água estagnada após a chuva intensa é um enorme problema para os moradores.
Foto: Romeu da Silva/DW
Vias intransitáveis
Sempre que chove, as vias de acesso ficam neste estado. É praticamente impossível a circulação de viaturas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Andar a pé também é um problema
O município está a tentar várias técnicas de bombeamento para retirar as águas estagnadas das ruas. Enquanto isso, os peões vêem-se forçados a recorrer a botas de cano alto para andar nas tuas alagadas. Há mesmo quem alugue as suas botas para a travessia dos charcos.
Foto: Romeu da Silva/DW
Nem os muros travam a chuva
Nesta e em muitas residências no bairro da Maxaquene, as águas destruíram a vedação, que não foi capaz de impedir as inundações. Ao fundo da rua, trabalhadores municipais tentam bombear as águas para reduzir o impacto da enchente.
Foto: Romeu da Silva/DW
Muito trabalho pela frente
As imagens impressionam: bastaram alguns dias de chuvas fortes para muitas casas como esta, no bairro de Polana Caniço, sofrerem com os problemas de saneamento.
Foto: Romeu da Silva/DW
Conduzir pelas águas
Nas ruas e avenidas da periferia só mesmo quem tem uma viatura com suspensão alta é que pode arriscar entrar nestas "lagoas" para circular.
Foto: Romeu da Silva/DW
Obstáculos à rotina
Muitas famílias passaram noites em claro para enfrentar a tempestade. Mal a chuva passou, puseram mãos à obra para limpar casas e pertences. Nos dias seguintes, o dia-a-dia foi dificultado pelas águas estagnadas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Água, água e mais água
As ruas assemelham-se a cursos de água nos bairros periféricos. Os residentes fazem muita ginástica para encontrarem as principais vias que dão acesso ao centro da cidade.