Angola compra armas em segunda mão, revela imprensa
1 de novembro de 2013 Sob o título "Angola: a potência militar em segunda mão", o site dirigido pelo ativista e jornalista Rafael Marques expõe os negócios de Angola com a Rússia para a compra de armamento militar.
Em outubro, Angola assinou contratos militares com a Rússia para o fornecimento de 18 caças Sukhoi-30, fabricados na década de 90. De acordo com o jornal russo Vedomosti, os contratos estão avaliados em mil milhões de dólares (739 milhões de euros).
O ativista e jornalista Rafael Marques denuncia que os negócios da compra de equipamento militar antigo à Rússia são "esquemas de corrupção para o enriquecimento ilícito" de generais, dos membros do Governo e da própria Presidência da República.
"Temos conhecimento dos detalhes através dos relatórios que foram feitos sobre as compras de armamento à Rússia pela Corruption Watch UK e pela Associação Mãos Livres e também de elementos que constaram do processo 'Angolagate'", explica Marques.
Equipamento obsoleto
Nas suas investigações sobre o estado da Força Aérea angolana, o jornalista concluiu que a compra de material obsoleto é uma prática recorrente.
"Neste momento, há problemas gravíssimos ao nível da Força Aérea, com equipamento obsoleto. E o Governo, em vez de fazer a renovação do equipamento que tenha utilidade a longo prazo, continua com a mesma prática de importar equipamento obsoleto por causa das comissões e por causa de outros interesses obscuros", explica.
Segundo Rafael Marques, não há interesse em dotar o exército angolano com bons equipamentos, profissionais, para que possa exercer o seu papel de defesa da soberania.
Prova disso é que muitos soldados não têm sequer uniformes, nem botas, continua o jornalista.
"Estamos a falar de questões muito básicas", diz Marques. "Basta olhar para o estado das bases aéreas na Catundela, a principal base de caças-bombardeiros de Angola. Durante o mês de fevereiro, não se puderam realizar voos de rotina porque não havia um carro com oxigénio. O carro estava avariado".
Rafael Marques fala em contrassenso e diz que a ideia de Angola ser uma potência regional e ter um exército capaz é ficção. O jornalista denuncia também que no país se realizam muitos voos secretos porque os sistemas de radar estão em baixo, propositadamente para facilitar a entrada e saída de aviões sem o conhecimento da Força Aérea.
"E como é que Angola será uma potência se compra aviões para os quais nem sequer tem pilotos treinados? Temos dois aviões na Catundela que são pilotados por ucranianos. Não há pilotos angolanos para aqueles aviões. Não é assim que vamos ser uma potência", remata.
Profissionalizar o exército
Para o jornalista angolano, nota-se claramente que não há uma estratégia por parte do Governo de Angola para a profissionalização e a melhoria da qualidade do exército angolano.
Marques afirma isso não está acontecer porque "também é uma forma criar maior controlo por parte da Casa de Segurança do Presidente da República, basicamente desarticulando o próprio exército nacional para garantir maior segurança ao Presidente da República."
O jornalista e ativista refere que em Angola impõe-se o medo para que as pessoas não possam falar da situação do exército. Quem o faz pode ser acusado de falta de patriotismo ou de crime de traição à Pátria.
"É importante esclarecer aqui que os patriotas angolanos não são aqueles que defendem as instituições do Estado. Neste momento, o Governo, através desses esquemas de corrupção, está a destruir o exército nacional que é um pilar fundamental do Estado angolano", conclui Rafael Marques.
Prioridades
Emanuel Matondo, da organização não-governamental Iniciativa Angolana Antimilitarista para os Direitos do Homem (IAADH), afirma que os negócios entre a Rússia e Angola já vão além do domínio do armamento e cita a recente assinatura de um contrato para a produção e lançamento de um satélite, o Angosat.
"Qual é a prioridade de Angola? Tornar-se uma potência no espaço ou dar o pão, dar as casas, construir os hospitais, pontes e outras infraestruturas para o seu povo?", questiona este ativista angolano. "Mais de 10 por cento da população angolana passa fome."
Emanuel Matondo diz que o Governo angolano deve dar explicações no Parlamento. E sublinha que a prioridade não deve ser fazer de Angola uma potência militar.
"A grande ameaça de Angola é a instabilidade social que o regime déspota criou no país. É a política de agressão aos outros que é a grande ameaça", afirma.
Angola manteve estreitos laços com a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que equipou as suas forças armadas nas décadas de 1970 e 1980 durante a longa guerra civil que atingiu o país.