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Deficientes visuais pedem ajuda em Angola

18 de setembro de 2020

No Bengo, em Angola, os deficientes visuais dizem-se marginalizados e fazem um pedido de socorro às autoridades. O Governo local diz que tem feito o necessário por estes cidadãos, mas reconhece que faltam apoios.

Aramis Manuel, um jovem cego do Bengo, AngolaFoto: Antonio Ambrosio/DW

António Bemba, 62 anos, sente-se abandonado. Deficiente visual há mais de 15 anos, vive com a esposa e quatro filhos. Já bateu à porta de várias instituições em busca de ajuda, mas sempre sem sucesso.

"Procurei outros meios de apoio. Já me dirigi a vários gabinetes aqui na província [do Bengo] e não só, até em Luanda, em busca de alguns meios para conseguir sobreviver", relata.

"Sempre foi negativo. Sempre barramento. Exigem muita documentação. Dirigi-me a muitos gabinetes aqui, pedi uma audiência ao administrador municipal do Dande, não fui aceite, fui barrado pela secretaria", lamenta.

Ramiro Tiago, 53 anos, também deficiente visual há mais de 20 anos, diz-se votado ao desamparo. "Estamos mesmo abandonados. O Governo não está a ver-nos, porque a deficiência visual é a mais perigosa, é mais complicado do que a deficiência de uma perna ou braço", considera.

António Bemba, 62 anos, cego há mais de 15Foto: Antonio Ambrosio/DW

Associação em apuros financeiros

A  Associação dos Cegos e Amblíopes da província do Bengo conta com cerca de 200 deficientes visuais e luta pela sua própria sobrevivência, uma vez que carece de meios financeiros para dar resposta aos problemas da organização.

Aramis Manuel, 20 anos, estudante do ensino médio, diz que na luta pelo emprego já foi discriminado várias vezes por ser portador de uma deficiência visual. "Notei alguma desigualdade social. Dizem-me que nas condições em que me encontro, receber-me-ia uma instituição", afirma.

Gabinete de Ação Social, Família e Igualdade do Género da Província do Bengo, AngolaFoto: Antonio Ambrosio/DW

A organização governamental local responsável pelos deficientes visuais é o Gabinete de Ação Social, Família e Igualdade do Género. A responsável, Felisberta dos Anjos, nega que haja discriminação destes cidadãos.

"Recebem cestas básicas de Luanda, recebem cestas básicas aqui quando há condições, por isso em nenhum momento o Governo provincial discrimina os seus assistidos", garante.

"Damos aquilo que está ao nosso alcance. O que temos feito é o necessário, mas não o suficiente", admite dos Anjos.

O psicopedagogo Benvindo Ferraz entende que tem faltado vontade política por parte do Governo para impulsionar a inclusão destas pessoas, o que a longo prazo pode ter duras consequências: "a baixa de autoestima, o suicídio ou mesmo o insucesso escolar".

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