A SOS Habitat revela que as demolições diminuíram consideravelmente desde o início do processo eleitoral. Mas ainda há denúncias de usurpação de terra em vários pontos do país, algumas sob conhecimento da ONG angolana.
Publicidade
Em entrevista à DW África, o coordenador da SOS Habitat-Ação Solidária, André Augusto, disse que a organização não-governamental está a par do caso da usurpação de uma fonte de água na localidade dos Gambos, na província da Huíla, bem como a expropriação de dois mil hectares de terra no Kitexe, Uíge.
Naquela localidade, conta o ativista, um empresário está a forçar a comunidade a abandonar a zona, alegando que o espaço lhe foi concedido pelo governo provincial.
"São comunidades seculares. Estão aí há mais de 200 anos. Vão perder o bairro e também a zona de cultivo a favor do empresário. Já tentamos vários contactos com o governo provincial do Uíge, que nos garantiu que uma equipa do governo local deveria ir a zona para resolver o conflito, mas até agora não verificamos nada", conta André Augusto.
Recomeço das demolições?
Em Luanda, as demolições diminuíram de forma significativa, de acordo com a SOS Habitat. "Durante o tempo das eleições até agora a situação de conflito diminuiu um pouquinho, mas agora dedicamo-nos a questões de mapeamento das zonas de risco, para ver se podemos conseguir, em conjunto com as administrações, encontrar algumas soluções para tentar salvaguardar estas pessoas que estão na zona de risco", revela André Augusto.
No entanto, há duas semanas, os populares da comuna dos Ramiros foram surpreendidos com demolições, que começaram na madrugada de 3 de fevereiro. Os moradores desconhecem as causas que motivaram a destruição das residências.
Angola: Denúncias de usurpações continuam
"Perguntámos o que se estava a passar e eles disseram: saiam com as vossas coisas porque temos que derrubar as vossas casas", contou a moradora Madalena.
"Eles apareceram aqui às 4 horas da manhã. Bateram à porta, o meu filho abriu e obrigaram-nos a retirar as coisas dentro de casa", disse outra moradora que ficou ao relento com um bebé recém-nascido.
Famílias ao relento no Zango
Este caso ainda não chegou no escritório da SOS Habitat, mas o coordenador da ONG promete apurar as causas da demolição: "Temos a preocupação de saber, primeiro, o que está a acontecer de concreto para depois nos pronunciarmos com maior segurança", explica.
André Augusto afirma que há ainda muitas famílias a viverem ao relento no Zango, em Viana, arredores de Luanda.
"No Zango, onde morreu aquele adolescente, o Rufino, também são cerca de nove comunidades afetadas durante aquele processo de demolição que vitimou o adolescente. Mas até agora o Governo não conseguiu resolver o problema das pessoas. Algumas continuam ao relento, algumas perderam a casa e tiveram de se refugiar em casa dos parentes", conta.
Água potável em Angola, privilégio para poucos
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana. Todos os dias, muitos angolanos fazem uma maratona para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
Abastecimento, uma maratona diária
Para quem tem água encanada em casa, a vida sem ela é inimaginável. Esta é, no entanto, a realidade para mais da metade da população angolana, segundo a Universidade Católica de Angola (UCAN). Todos os dias, os angolanos fazem uma maratona que consume uma quantia considerável de tempo e dinheiro para obter água.
Foto: DW/C. Vieira
O dia começa no chafariz púlico
Nas regiões periféricas da capital de Angola, Luanda, o dia começa cedo a caminho do chafariz público. No município de Cazenga, esta é uma cena comum. Mulheres e crianças são as principais responsáveis pelo abstecimento de água das famílias angolanas. O consumo diário é geralmente limitado pela capacidade de aquisição e transporte da água.
Foto: DW/C. Vieira
Preço alto e falta d'água
Segundo um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), as fontes mais comuns para o abastecimento de água segura em Angola são: chafarizes (16%), furos protegidos (12%) e cacimbas (6%). Em Luanda, um galão de 20 litros de água custa 10 kwanzas no chafariz – o equivalente a 0,10 dólares. As famílias chegam cedo. Mas, muitas vezes, o chafariz está fechado por falha no abastecimento.
Foto: DW/C. Vieira
O sonho de ter água em casa
Aqueles que têm condições constroem tanques para armazenar a água em casa. O custo da obra supera os 1.500 dólares – uma despesa pesada com a qual poucos podem arcar. A água é entregue por um caminhão pipa privado e cada fornecimento de 20 mil litros custa 20 mil kwanzas – o equivalente a 0,20 dólares por 20 litros de água.
Foto: DW/C. Vieira
Água, um bom negócio?
Apesar de custar o dobro do preço pago no chafariz público, o tanque pode se tornar um bom negócio. Muitas pessoas vendem parte de sua água a 50 kwanzas por galão – o equivalente a 0,50 dólares por 20 litros. Uma margem de revenda de 150%. Esta mulher de Luanda compra água de sua vizinha e armazena em tonéis em casa.
Foto: DW/C. Vieira
Situação difícil também nas províncias
A falta de abastecimento de água leva a população a enfrentar muitas dificuldades para o transporte. Mulheres transportam a água até suas casas. Na foto: a cidade do Lobito, na província de Benguela. Além de ter que suportar o peso da bacia cheia, é preciso muito equilíbrio para não deixar a água pelo caminho.
Foto: DW/C. Vieira
Armazenar para garantir o abastecimento
As residências onde há encanamento são um privilégio para poucos angolanos. Ainda assim, não há garantia de que haverá sempre água. O abastecimento falha com frequência. No Lobito, muitos moradores investem em tanques para a armazenagem. Este comporta 3.000 litros de água e é a garantia para uma família de oito pessoas. O investimento foi de 560 dólares.
Foto: DW/C. Vieira
Criatividade para vencer a dificuldade
O transporte da água depende da criatividade e das possibilidades de cada um. Depois de adquirir a água, será preciso prepará-la para o consumo. Apesar da transparência, a água precisa ser tratada ou fervida para ser considerada potável - ou seja, livre de impurezas e que não oferece o risco de se contrair uma doença.
Foto: DW/C. Vieira
Água potável é saúde
A população de Luanda enfrenta muitas dificuldades para o transporte da água. Além disso, muitas crianças morrem de diarreia ou de outras doenças relacionadas com a água e o saneamento em Angola. Em 2006, um surto de cólera afectou mais de 85.000 pessoas e ceifou cerca de 3.000 vidas em 16 das 18 províncias angolanas.
Foto: DW/C. Vieira
Cobertura sanitária pouco abrangente
Segundo a Organização Mundial de Saúde, cerca de 2,6 mil milhões de pessoas no mundo não têm acesso a condições sanitárias adequadas. Na África sub-saariana, a cobertura sanitária abrange apenas 31% da população. Em Angola, apenas cerca de 25% da população têm acesso ao saneamento básico, segundo a Universidade Católica de Angola. Em Luanda, é preciso conviver com esgotos a céu aberto.
Foto: DW/C. Vieira
Saneamento básico para combater doenças
A falta de saneamento básico é um pesadelo também para os moradores do município de Cazenga, em Luanda. Não há como escoar a água das ruas e enormes poças se formam. A água parada é o paraíso para a reprodução dos mosquitos transmissores da dengue e da malária – esta última ainda é a principal causa de mortes em Angola.
Foto: DW/C. Vieira
Higiene, uma questão de saúde
A falta de saneamento básico aumenta o risco da transmissão de doenças como a diarreia, a cólera e o tifo. Em toda a África, 115 pessoas morrem a cada hora de doenças ligadas à falta de saneamento, empobrecida higiene e água contaminada. Lavar as mãos após defecar, antes de cozinhar e antes das refeições ajuda a evitar doenças e pode reduzir em até 45% a incidência da diarreia.