A ZAP VIVA anunciou despedimento forçado de dezenas de funcionários. Sindicato dos Jornalistas de Angola diz que enquanto o licenciamento da media for competência do Governo, haverá sempre condicionalismos.
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Os responsáveis da ZAP transmitiram esta decisão aos funcionários em reunião realizada na passada sexta-feira (10.09), alegando ser a única alternativa, após o Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social ter condicionado o regresso da emissão em Angola com o encerramento da área de informação e conteúdo da ZAP.
Despedimento de jovens
A medida surge cinco meses depois das autoridades terem suspendido dezenas de órgãos de comunicação social, a 21 de abril, entre jornais e canais televisivos. Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, lamenta que a decisão do Governo tenha como consequência o desemprego de centenas de jovens.
"É de todo incompreensível que o Estado, uma pessoa de bem, consinta que as empresas Zap VIVA e Vida TV mandem para casa jovens, simplesmente, porque não se quer licenciar as estações. Não é possível", diz.
A par do canal de Isabel dos Santos, a filha ex-Presidente José Eduardo dos Santos, o Governo suspendeu, igualmente, a emissão dos conteúdos locais da Record TV África, ligada à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e também, a VIDA TV, pertencente à outra filha do ex-Presidente, Welwitchia dos Santos "Tchizé".
Liberdade de imprensa "condicionada"
O líder sindical da maior organização de jornalistas angolanos lamenta a falta de informação oficial sobre o assunto.
Desconfiado Teixeira Cândido diz: "Eu não quero acreditar nas informações, segundo as quais, o Estado está a condicionar a ZAP e a VIDA TV a retirarem os serviços de informação, para poder ter licença. Gostaríamos de ter uma informação oficial, mas continuamos a dizer que é de todo incompreensível que o Estado não licencie órgãos de comunicação social".
O líder sindical da maior organização que congrega os jornalistas lembra que enquanto o licenciamento da mídia for competência do Governo, a liberdade de imprensa estará sempre condicionada, afirmando que "não é por acaso que noutras realidades este poder não está no âmbito do Governo. As entidades governamentais têm razões políticas".
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Preocupação em época pré-eleitoral
A coordenadora de Programas de Atualidade da ZAP, Helena Costa, contactada pela DW, afirmou que nada mais tem a acrescentar ao comunicado da empresa. Os contactos efetuados ao diretor nacional de Informação e Comunicação Institucional do Ministério responsável pela Comunicação Social, António de Sousa, no sentido de obter a versão das autoridades, não tiveram sucesso.
Luís Jimbo, diretor do Observatório Político Eleitoral, constata com preocupação a aversão do Governo de Luanda à imprensa livre. E isto numa altura em que Angola aproxima-se das eleições gerais, em 2022, com a Televisão Publica de Angola (TPA) e TV Zimbo, dois dos três órgãos televisivos existentes no País e sob tutela do Estado, que anunciaram o fim da cobertura das atividades do maior partido na oposição, a UNITA.
"O ambiente eleitoral não permite fazer a cobertura de um só partido. Este seria o pior cenário que se podia viver e prejudicaria não só a TPA, mas também todos os eleitores e os avanços alcançados", advinha Jimbo.
Angola: Conheça o Mural da Resistência em Luanda
Uma nova intervenção urbana foi inaugurada em Luanda, com pinturas em homenagem a personalidades importantes da história recente de Angola. Veja o Mural da Resistência, do pintor Zbi de Andrade, nesta galeria de fotos.
Foto: Manuel Luamba/DW
Mural da Resistência
Este é o nome do novo mural localizado nos arredores de Luanda. O espaço pintado pelo artista Zbi de Andrade contém rostos de activistas, políticos e académicos que defendem um país cada vez mais democrático. Uma cerimonia organizada pelo site Observatório de Imprensa homenageou as pessoas retratadas.
Foto: Manuel Luamba/DW
Manuel Chivonda Nito Alves
Manuel Chivonda Nito Alves é um activista angolano que se notabilizou nos protestos de rua que começaram em 2011. Em 2013, com apenas 17 anos, foi acusado de difamar o ex-Presidente José Eduardo dos Santos. Foi espancado e detido por várias vezes pela polícia. É um dos activistas detidos em 2015 no caso conhecido como "Processo dos 15+2".
Foto: Manuel Luamba/DW
Laurinda Gouveia
Laurinda Gouveia é uma activista angolana que também se notabilizou por organizar e participar manifestações de rua, exigindo melhores condições de vida à população. Gouveia é integrante do Odjango Feminista e defende a igualdade de direitos. A sua veia reivindicativa acabou por levá-la à cadeia por inúmeras vezes. Também foi condenada no "Processo dos 15+2".
Foto: Manuel Luamba/DW
Rosa Conde
Rosa Conde também foi detida e julgada no âmbito do Caso 15+2 - quando 17 ativistas foram acusados de tentativa de golpe de Estado. Com "sangue" de Cabinda, foi um dos rostos que, em 2016, lideraram os protestos contra o assassinato de Rufino António - morto a tiros alegadamente por um militar do PCU durante as demolições no bairro do Zango.
Foto: Manuel Luamba/DW
Filomeno Vieira Lopes
Filomeno Vieira Lopes é um conhecido político e economista angolano. Já foi espancado por várias vezes em manifestações de rua. Atualmente é o presidente do Bloco Democrático, uma formação política derivada da Frente Para Democracia (FPD), associada a intelectuais angolanos. O BD é um dos integrantes da Frente Patriótica Unida, aliança de oposição que visa à alternância de poder em 2022.
Foto: Manuel Luamba/DW
William Tonet
William Tonet é um jornalista e jurista angolano. Um dos pioneiros do surgimento da imprensa privada em Angola. Com a institucionalização do multipartidarismo, Tonet surgiu com o bissemanário Folha 8, um jornal critico ao regime. "Chefe indígena", como é chamado, Tonet deve ser o jornalista angolano em atividade com mais processos judiciais.
Foto: Manuel Luamba/DW
Luís Nascimento
Luís Nascimento é um jurista e advogado angolano. Foi um dos cidadãos que exigiram a destituição de Isabel dos Santos da chefia da petrolífera estatal Sonangol em 2016. Foi o advogado da família de Rufino António, adolescente morto alegadamente pelas forças de segurança nas demolições no Zango. Nascimento foi um dos candidatos derrotados na última convenção do Bloco Democrático.
Foto: Manuel Luamba/DW
Nelson Pestana "Bona Vena"
Nelson Pestana "Bona Vena" é um académico e político angolano. Conhecido por ser um "homem das letras", Bona Vena é ligado ao Centro de Investigação Cientifica da Universidade Católica de Angola e ao Centro de Estudos Africanos. É político do Bloco Democrático.
Foto: Manuel Luamba/DW
Fernando Macedo
Fernando Macedo é um ativista e professor universitário angolano. Reconhecido por muitos pela integridade, Macedo é um dos fundadores da Associação Justiça Paz e Democracia. O ativista é profundamente critico ao antigo e ao actual regime angolano. Em 2018, Macedo foi um dos organizadores de um protesto contra a amnistia de cidadãos que desviaram fundos públicos para o estrangeiro.
Foto: Manuel Luamba/DW
Luís Araújo
Luís Araújo fundador e coordenador da SOS Habitat, uma ONG que defende e promove o direito à habitação em Angola. Em 2016, o ativista angolano teve projeção ao defender que a remoção do que chamou de "ditadura angolana" é uma necessidade. Em 2005, Araújo e mais dez pessoas foram julgados pelo Tribunal Provincial de Luanda, acusados de incitamento à violência. Vive há anos na Europa.