Esta sexta-feira (28.12), no Palácio Presidencial, Rafael Marques disse-se “expectante em relação ao processo de repatriamento coercivo de capitais". Por sua vez, Bornito de Sousa enalteceu o atual Governo.
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O ativista e jornalista angolano, Rafael Marques, defendeu hoje a "inventariação" dos fundos "desviados do Estado" que se encontram em Angola, para devolução ao património público, no âmbito do processo de combate à corrupção e repatriamento de capitais.
Em declarações aos jornalistas, esta sexta-feira (28.12), à margem da cerimónia de cumprimentos de fim de ano ao Presidente angolano, João Lourenço, o ativista manifestou-se "expectante" em relação ao processo de repatriamento coercivo de capitais, findo o "tempo de graça" dada pelas autoridades.
"Como qualquer angolano, temos uma grande expectativa sobre como se procederá esse processo de repatriamento, mas uma questão fundamental é olhar, também, para questão dos fundos que foram desviados do Estado e estão em Angola", disse.
Segundo Rafael Marques, tratam-se de "fundos que precisam de ser catalogados e devolvidos ao património público. É importante que falemos também desses fundos roubados e investidos aqui em Angola".
De acordo com o também defensor dos direitos humanos, quem "desviou fundos do Estado e os investiu no país", incorreu em "crimes de peculato", diploma legal ainda vigente na legislação angolana, por isso, continua, "quando falamos na questão do repatriamento de fundos e combate à corrupção há legislação suficiente para lidar com esse assunto, não precisamos de uma nova lei".
"O Palácio é do povo"
Questionado sobre o simbolismo da sua presença no palácio presidencial à cidade alta, em Luanda, Rafael Marques considerou como um momento de "celebração, reconciliação, abertura e diálogo com a sociedade civil". Reconciliação porque, explicou, "durante muito tempo tivemos uma situação, em que, a divisão entre angolanos era potenciada por interesses estranhos a boa convivência social, política entre todos os cidadãos".
Agora, admite Rafael Marques, "o Presidente João Lourenço está a mostrar que o palácio é do povo e não onde a exclusão seja uma marca, mas onde a inclusão de todas as franjas da sociedade possam estar representadas".
"Sinais positivos”, diz Bornito de Sousa
Na mesma ocasião, e segundo a agência de notícias Angop, o vice-presidente da República, Bornito de Sousa, destacou os sinais positivos da dinâmica governativa do Chefe de Estado angolano, João Lourenço, desde que chegou ao poder. O vice-presidente enumerou o combate à corrupção, bajulação, impunidade e ao nepotismo como os sinais positivos desta nova dinâmica na forma de governar.
Segundo Bornito de Sousa, confirma-se "uma opinião geral positiva da imprensa nacional, internacional e dos cidadãos sobre a nova governação de Angola".
"Acaba de me matar": jovens angolanos protestam contra o Governo nas redes sociais
Devido à falta de estrutura para lidar com os efeitos da chuva, pelo menos dez pessoas morreram em Luanda. Esta situação levou os cidadãos a iniciarem no Facebook uma onda de protestos denominada "Acaba de me matar".
Foto: Guenilson Figueiredo
Perdas após mau tempo
A morte de uma criança de quatro anos desencadeou a onda de protestos nas redes sociais, com os cidadãos a partilhar imagens fingindo-se de mortos e com a mensagem "Acabam de nos matar", uma forma de repudiar a não resolução dos problemas da população por parte do Governo. Ariano James Scherzie, 19 anos, participou na campanha que rapidamente se tornou viral.
Foto: Ariano Scherzie
Sonhos estão a morrer
Botijas de gás, livros, computadores e blocos de cimento estão entre os objetos usados pelos jovens para protestar contra o que dizem ser más políticas públicas. Indira Alves, 28 anos, lamenta a situação do seu país. "Estou a morrer. Desde as condições de vida até aos sonhos, não é possível o que temos vivido nesta Angola", conta a jovem que abandonou os estudos para trabalhar.
Foto: Indira Alves
Chamar atenção das autoridades
Anderson Eduardo, 24 anos, quis "atingir pacificamente a atenção de alguém de direito a fim de acudir-nos". Decidiu participar no protesto devido ao descontentamento com a governação em Angola. "Eles nos pedem para apertar o cinto, se contentar com o bem pouco, e ao mesmo tempo tudo sobe de preço, alimentos, vestuários, electrodomésticos, e o salário não sobe”, conta o engenheiro informático.
Foto: Anderson Eduardo
Em nome dos colegas e pacientes
Cólua Tremura, 24 anos, conta o porquê de ter participado no protesto: "A minha motivação foram os meus colegas que cancelaram a faculdade por causa da crise, os colegas que morreram antes de realizarem o sonho de serem médicos, os pacientes que apenas vão ao hospital quando estão graves. Acredito que [o protesto] não alcançou os resultados previstos, que era chamar a atenção do Governo".
Foto: Cólua Tremura
Sem reações
Lucas Nascimento, 20 anos, viu no mau tempo e na falta de estrutura razões para aderir ao protesto. O jovem quis dar apoio a uma jovem da região que perdeu a casa num desabamento provocado pelo mau tempo. "Acaba de me matar quer dizer que nós já estamos mal e o Governo está acabando de nos matar", explica. "Até aqui, não notamos nenhuma reação do Governo, talvez possa ser ignorância ou desleixo".
Foto: Lucas Nascimento
Falta justiça
Guenilson Figueiredo, 20 anos, entrou na onda de protestos e teme as consequências que ela pode trazer aos cidadãos que participaram. "Não posso falar muito sobre este protesto, porque nós vivemos num país onde a justiça só funciona contra os pobres".