Angola assinala esta quarta-feira, 4 de abril, o Dia da Paz e da Reconciliação Nacional. Analistas lamentam, no entanto, que persistam "problemas e conflitos" entre angolanos que defendem cores partidárias diferentes.
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Passaram dezasseis anos desde a assinatura do Acordo de Paz, em 2002, na sequência da morte de Jonas Savimbi, líder fundador da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola). Mas o processo de reconciliação nacional não está concluído, afirma o analista político Osvaldo Mboco.
Continua a haver "problemas e conflitos" entre os angolanos que defendem cores partidárias distintas, segundo o analista, e isso é particularmente evidente em anos de eleições: "Em épocas de campanha eleitoral, a intolerância domina o cenário político. Os principais agentes políticos também não dão exemplo de maturidade política."
O reverendo Ntony Nzinga, antigo coordenador do Comité Inter-Eclesial para a Paz em Angola (COIEPA), concorda que muito ainda deve ser feito para consolidar o processo de reconciliação.
"Precisamos de fazer mais para que todo o angolano se considere realmente parte integrante da sociedade que nós estamos a formar e que muito fez para se libertar quer do colonialismo, quer da violência, que, na maioria dos casos, beneficiou mais os atores externos do que a nós mesmos", explica Nzinga.
Unidade nacional, diversidade de pensamento
Em dezasseis anos de paz, Angola ainda se debate com vários problemas. Mais de um terço da população vive na linha da pobreza, segundo o Censo Geral de 2014. A taxa de desemprego é alta, rondando os 20% em 2015, e os jovens são os mais afetados. Além disso, apenas 35% dos angolanos têm acesso ao fornecimento de energia elétrica, por exemplo.
Apesar do longo caminho a percorrer para que os ganhos da paz sejam refletidos na vida prática da população, o reverendo Ntony Nzinga vê o futuro de Angola com otimismo, esperando mudanças profundas.
"De novo, as esperanças estão a nascer para possibilidades de mudanças ainda mais profundas na sociedade", afirma Nzinga.
O país conta, desde setembro de 2017, com um novo Executivo, liderado pelo Presidente João Lourenço. E, com as novas políticas governamentais e a atuação da Justiça no combate à corrupção e à impunidade, muitos cidadãos já foram constituídos arguidos.
Para o analista Osvaldo Mboco, nada disto põe em causa o processo de unidade e reconciliação nacional. "Se de facto estes indivíduos prevaricaram quanto aos poderes que lhes foram conferidos, é normal que os mesmos sejam punidos à luz da própria lei angolana", explica.
Mboco realça a importância de celebrar a paz conquistada: "É fundamental que a reconciliação nacional seja cultivada todos os dias com atos e atenção", defende o analista angolano.
Dezasseis anos de paz, um longo caminho pela frente
"A paz é o nosso segundo maior ganho depois da independência. Então, devemos conservá-la e procurar mecanismos para que essa paz seja de facto efetiva - para que todos os angolanos, independentemente da diversidade de pensamento e das cores partidárias, possam viver em Angola, sem distinção de cores."
Este ano, as comemorações do Dia da Paz têm lugar na província angolana de Malanje. Estão a cargo do vice-presidente, Bornito de Sousa, em substituição de João Lourenço, que se encontra nos Estados Unidos em visita privada.
A celebração do dia 4 de abril resulta da assinatura, em 2002, do Memorando de Entendimento Complementar ao Protocolo de Lusaka entre o Governo angolano e a UNITA.
Lisboa: Exposição demonstra identidade cultural étnica em Angola
Está patente na Casa de Angola em Lisboa a coleção de cerâmica de Andreia Pedro, inspirada nas várias máscaras culturais existentes em Angola. “Etuku” mostra os traços da identidade cultural étnica deste país.
Foto: DW/João Carlos
Uma paixão antiga
Esta é a primeira mostra da jovem artista, natural de Luanda, formada em Design de Interiores e Cerâmica pela Escola Superior de Artes e Design de Lisboa. O gosto pela cerâmica vem do passado, ainda no ensino secundário, quando começou a ter o primeiro contacto com o barro. A exposição “Etuku” - que significa "origem" ou "Estou aqui" - estará aberta ao público até ao próximo dia 13 de julho.
Foto: DW/João Carlos
Renascer Txikunza
Mukixi Wa Txikunza destaca-se na hierarquia das máscaras chokwé, no nordeste de Angola, considerado o patrono da Mukanda (Ritual de Iniciação Masculina). A artista angolana inspirou-se nela para produzir esta peça, uma das cinco que representam o renascer cultural elevado pelas mãos, como símbolo da força, da união, do respeito e da confiança.
Foto: DW/João Carlos
Renascer Pwo
Também inspirada na máscara chokwe Mwana Pwo, usada em ocasiões especiais para educar, proteger e guiar os membros da sociedade. É um elemento forte na cultura angolana, associado às cerimónias dos rituais de iniciação masculina. Na aldeia, apresenta-se nas danças no terreiro para entretenimento de toda a comunidade.
Foto: DW/João Carlos
Renascer Mukixi
Na cultura angolana, é como se fosse um gigante extraterrestre. Inspira-se no Mukixi da Lunda Chokwé, envolvendo um segredo pertencente aos homens. Apesar da sua feição feminina, nenhuma mulher a pode usar. A máscara serve para espantar os espíritos. Daí os tons fortes: vermelho e preto (sangue e luto) e um pouco de branco, símbolo da paz.
Foto: DW/João Carlos
Renascer Mwana
Mwana é uma expressão que significa filho, mas representa a mulher ou a rapariga que floresce e garante a procriação. Ela encarna a ancestralidade feminina, usada em rituais de puberdade e fertilidade. Costuma ser exibida nas danças tradicionais.
Foto: DW/João Carlos
Renascer Tchihongo
Símbolo da autoridade e espírito masculino da riqueza, usada pela linhagem familiar (do soba, passando pelos filhos ou sobrinhos). A máscara, que acompanha a Mwana Pwo, representa um antepassado de origem nobre. A sua função é trazer prosperidade à aldeia. “Procurei uma forma mais artística de abordar as máscaras tirando-as praticamente do lugar de conforto”, explica Andreia Pedro.
Foto: DW/João Carlos
Máscara Ndemba
Da série de bases para candeeiros, destacamos esta peça. Originária da província do Uíge, representa uma figura humana meio sorridente, com gorro em mabela ornada com barba. É utilizada nos rituais de circuncisão. A sua função é testemunhar a transição dos circuncidados de um estado de total ignorância para o estatuto socialmente reconhecido. É usada em rituais funerários.
Foto: DW/João Carlos
Ntiame: a Pátria
O mapa de Angola deu lugar a mais esta peça decorativa, a que se juntam as cores da bandeira nacional. O vermelho corresponde a sangue e energia, o preto a luto e respeito, e o branco – embora não faça parte das cores daquele símbolo nacional – representa a paz com dois lados mascarados.
Foto: DW/João Carlos
Luwizano: a união
A exposição, que conta ainda com outros elementos decorativos como potes ou candeeiros de teto - onde as máscaras são abordadas de uma forma diferente -, encerra com Luwizano, que significa união. Trata-se de um conjunto de bases para velas, associado a um espelho em forma circular colocado no centro. Os potes, que fazem parte da coleção, recordam toda a linhagem de iniciação e da puberdade.