Angola e África do Sul reforçam cooperação económica
Lusa
28 de julho de 2018
Indústria extrativa, infraestruturas e agricultura são sectores em destaque. Presidentes João Lourenço e Cyril Ramaphosa deverão fechar acordos antes de passarem testemunhos na liderança da SADC.
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Angola vai assinar em agosto um conjunto de acordos de cooperação económica bilateral estratégica com a África do Sul, disse em entrevista à agência Lusa o ministro das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto.
O chefe da diplomacia angolana, que participou na 10ª Cimeira do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), de 25 a 27 em Joanesburgo, disse que os dois países vão cooperar no domínio da indústria extrativa, infraestruturas, agricultura, turismo e crédito financeiro, estando nesse sentido a ser ultimada uma visita a Luanda, no início do próximo mês de agosto, de uma delegação presidencial da África do Sul, liderada pelo Presidente Cyril Ramaphosa.
"Angola é o presidente do órgão da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral) e o Presidente Ramphosa é o presidente da SADC. No dia 17 de agosto, ambos vão passar o testemunho a outros países e, portanto, é possível que antes dessa data os dois presidentes se encontrem para discutirem sobre essa transição", disse à Lusa, Manuel Augusto, na capital sul-africana.
Angola preside ao Comité Ministerial do Órgão de Cooperação nas áreas de Política, Defesa e Segurança da SADC desde o ano passado.
Parceria estratégica
O ministro adiantou que as negociações se encontram em estado "muito avançado" e que nas áreas em que vão cooperar os dois governos estão a trabalhar com empresas e instituições, principalmente na área financeira, porque, sublinhou, "sem ela todas as ações não passarão do papel".
"A África do Sul, para nós, é um parceiro estratégico", afirmou. "Entendemos que, para eles, Angola também é um parceiro estratégico", frisou.
"Vamos trabalhar para fazermos projetos de interesse comum no domínio das infraestruturas, estradas, possivelmente uma autoestrada entre a África do Sul e Angola, e queremos usar o facto de a África do Sul ser um dos membros dos BRICS para que possamos ter acesso também a fundos que os BRICS têm para projetos de infraestruturas que tenham um impacto regional", precisou o governante angolano.
"Ao nível bilateral, a África do Sul, acreditamos, vai voltar a Angola no sector dos diamantes de onde se tinha quase retirado, mas a África do Sul quer também entrar connosco nas áreas da Agricultura e Turismo, e nós queremos naturalmente criar primeiro, o suporte institucional para que os operadores privados possam julgar o seu papel", disse.
"Para isso, já eliminámos os vistos, que é um elemento importante para o desenvolvimento dos negócios; estamos a trabalhar para criar o seguro de crédito para as instituições financeiras, estamos a ver se podemos usar as nossas moedas para o comércio bilateral, sem termos que recorrer a moedas estrangeiras; portanto há um conjunto de iniciativas e de projetos que estão identificados, que se forem implementados vão transformar completamente para melhor as atuais relações", explicou o chefe da diplomacia angolana.
Visitas a Angola
O ministro Manuel Augusto sublinhou à Lusa que o plano de cooperação com a África do Sul foi estabelecido na reta final da administração do ex-Presidente sul-africano Jacob Zuma.
Angola foi o primeiro país que o Presidente Ramaphosa visitou em 2 de março deste ano, na qualidade de presidente da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), após a sua nomeação para o cargo, em fevereiro, pelo Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder desde 1994, que demitiu o ex-chefe de Estado, Jacob Zuma, por alegado envolvimento em vários escândalos de corrupção na administração do Estado.
Acompanharam Rampahosa a Luanda, a ministra da Relações Internacionais e Cooperação, Lindiwe Sisulu e a ministra da Defesa e Militares Veteranos, Nosisiwe Mapisa-Nqakula.
Em abril, Ramaphosa realizou na capital angolana a Cimeira Extraordinária da Dupla Troika da SADC sobre a mediação regional de paz no Lesoto e as eleições na República Democrática do Congo (RDC) e em Madagáscar.
A delegação presidencial sul-africana à cimeira extraordinária da SADC, incluiu a ministra da Relações Internacionais e Cooperação, a ministra da Defesa e Militares Veteranos, o ministro da Polícia Bheki Cele e a vice-ministra da Segurança de Estado, Ellen Molekane.
"Vamos investir na África do Sul"
O Presidente Ramaphosa elencou como prioridades do seu mandato, o combate à corrupção no sector público, a restituição da credibilidade das instituições do Estado e a atração de investimento externo, para revitalizar o crescimento da economia do país, tendo estabelecido como meta a angariação de 100 mil milhões de dólares a cinco anos.
"Nós vamos estar na 'linha da frente' em tudo o que signifique potenciar as nossas capacidades, usar os nossos recursos, e esta meta [de investimento] estabelecida pelo Presidente Ramaphosa é atingível", disse Manuel Augusto.
"Temos investimentos a projetar na África do Sul. Não vou especular agora em números, apenas afirmar a nossa vontade de investir na África do Sul.
A relação entre Angola e a África do Sul vai ser traduzida também em investimentos mútuos e nós vamos investir na África do Sul", disse à Lusa o ministro das Relações Exteriores de Angola.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".