Angola diz que “no plano político e diplomático as coisas correm muito bem” com Portugal. Marcelo Rebelo de Sousa está em Luanda e analista diz que “Portugal poderá jogar papel importante no repatriamento de capitais”.
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As relações entre Angola e Portugal têm conhecido nova era depois da "crispação” provocada pelo caso Manuel Vicente, ex vice-Presidente angolano.
Sérgio Santos, secretário de Estado da Economia de Angola, destaca a importância da visita de Marcelo Rebelo de Sousa e diz que os investidores portugueses poderão encontrar um bom ambiente de negócios. Santos assegura que "no plano político diplomático as coisas correm muito bem e isso também assegura que os investidores vão encontrar da parte dos dois governos bastante apoio nas suas intenções de investimento".
"Nós fizemos uma reforma que retirou algum obstáculo que existia nomeadamente ao limite ao investimento, a necessidade de se fazer parceria com algum empresário local e estamos a modernizar as nossas instituições para prestar serviços públicos mais céleres”, garantiu o secretário de Estado de Economia. A DW África conversou com Osvaldo Mboco professor angolano do curso de relações internacionais. Ele explica que entre os dois países há interesse comum e acrescenta que Angola precisa de Portugal para ajudar no repatriamento de capitais que saíram do país de forma ilícita.
Angola e as expetativas em torno de Marcelo Rebelo de Sousa
"Existe muitos interesses de ambas as partes. Há um grande fluxo de negócios que passam por Angola, há um grande número de empresários portugueses que têm grandes investimentos em Angola e há angolanos com muitos investimentos em Portugal. O Estado angolano também conhece a importância poderá jogar no repatriamento de capitais que saíram de Angola de forma ilícita”.
Bloco de Esquerda na comitiva de "Ti Celito"
Para esta visita Angola, três líderes parlamentares, nomeadamente Fernando Negrão, do PSD, Nuno Magalhães, do CDS-PP, e João Oliveira, do PCP, acompanham Marcelo Rebelo de Sousa.
Também estará a deputada Maria Manuel Rola, do Bloco de Esquerda (BE), partido que acompanha pela primeira vez uma visita oficial a Angola.
O Bloco de Esquerda sempre teceu criticas ao Governo angolano sobre a alegada má governação e violação dos direitos humanos na gestão do ex-Presidente José Eduardo dos Santos. Osvaldo Mboco diz que os tempos são outros e que, o país, regista agora uma abertura social e política.
"Começamos a ver uma maior liberdade, começamos a ver uma luta cruzada contra a corrupção que vai credibilizando o país na arena internacional. Começamos a ver uma maior abertura na comunicação social, há uma vontade política de o Presidente João Lourenço moralizar a sociedade, há alterações de leis que são fundamentais para o melhoramento do ambiente de negócios, nomeadamente a Lei de Investimento Estrangeiro que foi revista”, entende o analista.
Porque Benguela e Huíla?
"Ti Celeito", como é conhecido em Angola, Marcelo chega esta terça-feira (05.03.) a Angola para estar presente no aniversário do Presidente angolano João Lourenço que completa 65 anos. A sua visita de Estado começa apenas na quarta-feira (06.03.), dia em que será recebido pelo Chefe de Estado. No mesmo dia está prevista uma conferência de imprensa conjunta.
Depois desloca-se as províncias de Benguela e Huíla. Osvaldo Mboco explica as razões que levarão Marcelo a sul de Angola.
"Foi professor, deu aulas e visitou muitos locais em Angola e o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa olha para estas outras províncias, como Benguela e Huila, como futuros mercados ou então futuras províncias que poderão ser apostas para investidores”.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".