Angola e Guiné-Bissau afetados pelas alterações climáticas
Lusa | cvt
17 de junho de 2018
Angola terá a frequência e a gravidade dos eventos de seca aumentadas no futuro, segundo documento da ONU. Governo admite problema e busca soluções. Governo da Guiné-Bissau apela ao combate à desertificação.
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Segundo comunicado do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) alusivo ao Dia Mundial do Combate à Desertificação e à Seca, que se assinala este domingo (17.06), os efeitos da quantidade insuficiente de água disponível para as pessoas, gado e cultura nas regiões mais secas de Angola são agravados pela quantidade insuficiente daquele líquido, em que a água da superfície recolhida em depressões é frequentemente utilizada para consumo humano, por falta de alternativas melhores.
Angola enfrenta períodos de seca desde 2012, que afetou 1,2 milhões de pessoas - das quais 1,1 milhão são das províncias do Cunene, Huíla e Namibe, as regiões onde a estiagem se fez sentir com maior impacto.
A nota do PNUD salienta que o Governo angolano presume que as intervenções de curto prazo não interrompem as secas recorrentes que afetam a região sul e reconhece a necessidade de desenvolver um programa de médio a longo prazo para aumentar a resiliência das comunidades afetadas nessas províncias com vista a quebrar um ciclo recorrente.
Uma Avaliação das Necessidades Pós-Desastre 2012-2016 realizada por Angola, com o apoio das Nações Unidas, União Europeia e Banco Mundial, refere que os danos e prejuízos causados pela seca em Angola totalizam 750 milhões de dólares e que, em cada ano, 1,2 milhões de pessoas foram afetadas.
Em busca de soluções
Para recuperação dos efeitos da seca, o Governo angolano desenvolveu um quadro para o período de 2018 a 2022, que define a visão e os princípios, ações de curto, médio e longo prazo em nove setores, necessidades e instrumentos financeiros, bem como uma estrutura de coordenação e monitoramento.
Este documento está atualmente em processo de aprovação na Comissão Nacional de Proteção Civil e terá a aprovação final do Conselho Nacional de Proteção Civil, prevista para julho deste ano.
No que se refere ao combate à desertificação, o Governo angolano, em parceria com o PNUD, aplica diferentes iniciativas, entre as quais o projeto de "promoção do Carvão Vegetal Sustentável Através de uma Abordagem da Cadeia de Valor", para o alcance desta meta.
O referido projeto, que teve início em outubro de 2016, é executado pelo Ministério do Ambiente, com o apoio do PNUD e conta com o financiamento a fundo perdido do Fundo Global para o Ambiente.
Para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, evitar a degradação florestal e solos, o projeto iniciou este ano um programa de capacitação, por dois anos, de comunidades rurais nas províncias do Huambo e Cuanza Sul e de técnicos do Instituto de Desenvolvimento Florestal, em manejo florestal comunitário e produção de carvão vegetal sustentável.
Guiné-Bissau quer combater desertificação
O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural da Guiné-Bissau, Nicolau dos Santos, alertou que a taxa de degradação das florestas no país é preocupante e pediu o envolvimento de todos no combate à desertificação.
Numa mensagem divulgada à imprensa, Nicolau dos Santos referiu que a taxa de degradação das florestas é entre os 60 e 80 mil hectares por ano e é causada pelo desmatamento, corte clandestino de árvores e queimadas descontroladas.
"Em consequência, o país sofre com perdas de reservas florestais e faunísticas, erosão, destruição de habitats animais, redução da biodiversidade, diminuição do caudal dos rios e das chuvas e aumento das temperaturas", sublinha Nicolau Gomes, na mensagem divulgada pela agência de notícias guineense.
Para o ministro, é necessário consciencializar e sensibilizar as populações para o fenómeno da seca e desertificação e crescente degradação das terras aráveis no país.
Segundo Nicolau dos Santos, apesar das grandes dificuldades económicas e financeiras, a Guiné-Bissau é um "país com imensas potencialidades agrícolas e florestais" e a reflorestação do país ainda é possível.
Basta, referiu o ministro, cada cidadão comprometer-se a plantar uma árvore por ano.
Pobreza no meio da riqueza no sul de Angola
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul do país. A região é assolada por uma seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser pobres neste ano. Muitos angolanos passam fome.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Sobras da guerra civil
A guerra civil (1976 -2002) grassou com particular violência no sul de Angola. Aqui, o Bloco do Leste socialista e o Ocidente da economia de mercado livre conduziram uma das suas guerras por procuração mais sangrentas em África. Ainda hoje se vêm com frequência destroços de tanques. A batalha de Cuito Cuanavale (novembro de 1987 a março de 1988) é considerada uma das maiores do continente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Feridas abertas
O movimento de libertação UNITA tinha o seu baluarte no sul do país, e contava com a assistência do exército da República da África do Sul através do Sudoeste Africano, que é hoje a Namíbia. Muitas aldeias da região foram destruídas. Mais de dez anos após o fim da guerra civil ainda há populares que habitam as ruínas na cidade de Quibala, no sul de Angola.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Subnutrição apesar do crescimento económico
Apesar da riqueza em petróleo, em Angola vive muita gente na pobreza, sobretudo no sul. A região sofre de seca desde 2011 e as colheitas voltaram a ser más no ano 2013. Muitos angolanos não têm o suficiente para comer. A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) diz que nos últimos anos pelo menos um quarto da população passou fome durante algum tempo ou permanentemente.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
O sustento em risco
Dado o longo período de seca, a subnutrição é particularmente acentuada nas províncias do sul de Angola, diz a FAO. As colheitas falham e a sobrevivência do gado está em risco. Uma média de trinta cabeças perece por dia, calcula António Didalelwa, governador da província de Cunene, a mais fortemente afetada. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) também acha que a situação é crítica.
Foto: DW/A. Vieira
Semear esperança
A organização de assistência da Igreja Evangélica Alemã “Pão para o Mundo” lançou um apelo para donativos para Angola na sua ação de Advento 2013. Uma parte dos donativos deve ser reencaminhada para a organização parceira local Associação Cristã da Mocidade Regional do Kwanza Sul (ACM-KS). O objetivo é apoiar a agricultura em Pambangala na província de Kwanza Sul.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Rotação de culturas para assegurar mais receitas
Ernesto Cassinda (à esquerda na foto), da organização cristã de assistência ACM-KS, informa um agricultor num campo da comunidade de Pambangala, no sul de Angola sobre novos métodos de cultivo. A ACM-KS aposta sobretudo na rotação de culturas: para além das plantas alimentícias tradicionais como a mandioca e o milho deverão ser cultivados legumes para aumentar a produção e garantir mais receitas.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Receitas adicionais
Para além de uma melhora nas técnicas de cultivo, os agricultores da região também são encorajados a explorar novas fontes de rendimentos. A pequena agricultora Delfina Bento vendeu o excedente da sua colheita e investiu os lucros numa pequena padaria. O pão cozido no forno a lenha é vendido no mercado.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Escolas sem bancos
Formação de adultos na comunidade de Pambangala: geralmente os alunos têm que trazer as cadeiras de plástico de casa. Não é só em Kwanza Sul que as escolas carecem de equipamento. Enquanto isso, a elite de Angola vive no luxo. A revista norte-americana “Forbes” calcula o património da filha do Presidente, Isabel dos Santos, em mais de mil milhões de dólares. Ela é a mulher mais rica de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Investimentos em estádios de luxo
Enquanto em muitas escolas e centros de saúde falta equipamento básico, o Governo investiu mais de dez milhões de euros no estádio "Welvitschia Mirabilis", para o Campeonato Mundial de Hóquei em Patins 2013, na cidade de Namibe, no sul de Angola. Numa altura em que, segundo a organização católica de assistência “Caritas Angola” dois milhões de pessoas passaram fome no sul do país.
Foto: DW/A. Vieira
Novas estradas para o sul
Apesar dos destroços de tanques ainda visíveis, algo melhorou desde o fim da guerra civil em 2002: as estradas. O que dá a muitos agricultores a oportunidade de venderem os seus produtos noutras regiões. Durante a era colonial portuguesa, o sul de Angola era tido pelo “celeiro” do país e um dos maiores produtores de café de África.
Foto: Jörg Böthling/Brot für die Welt
Um futuro sem sombras da guerra civil
Em Angola, a papa de farinha de milho e mandioca, rica em fécula, chama-se “funje” e é a base da alimentação. As crianças preparam o funje peneirando o milho. Com a ação de donativos de 2013 para a ACM-KS, a “Pão para o Mundo” pretende assegurar que, de futuro, os angolanos no sul tenham sempre o suficiente para comer e não tenham que continuar a viver ensombrados pela guerra civil do passado.