Angola: Edifício novo abandonado indigna população
Adolfo Guerra (Menongue)
17 de maio de 2021
A construção do Palácio da Justiça do Mavinga, na província do Cuando Cubango, encontra-se ao abandono há sete anos. Os cidadãos consternados apontam o enorme desperdício de recursos do Estado.
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Inaugurado em 2014, numa área de 1.800 metros quadrados, o Palácio da Justiça do Mavinga foi idealizado para servir os municípios mais próximos durante 50 anos. O custo da construção foi avaliado em 400 milhões de kwanzas (cerca de 500 mil euros).
Há sete anos que as instalações estão encerradas e abandonadas. Perante o avançado estado de degradação, cidadãos da província do Cuando Cubango pedem uma rápida intervenção das autoridades. "É um investimento que se fez, e o dinheiro saiu do cofre do Estado” disse à DW África o professor João Pedro Samba, residente em Menongue.
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Construção sem plano prévio de viabilidade
Brás Wassuca, estudante universitário e secretário municipal de Menongue da JURA, braço Juvenil do maior partido da oposição, UNITA, considera que faltou prudência na escolha do município para a construção do imóvel. "O primeiro erro foi construir uma estrutura tão gigantesca em Mavinga”.
Isto porque não existiam as condições necessárias para a tornar operável, a começar pelas vias de acesso, avança Wassuca. "Hoje vemos que num palácio, que custou muitíssimo dinheiro, não encontramos magistrados mais sim bois. Se cá fora está assim, não sei como estará lá dentro”.
O economista Elias Mavoca Madalena Chingondo concorda e questiona: "Como é que um edifício destes vai funcionar enquanto não há estradas entre o município de sede [Menongue] e o município de Mavinga?”. O analista critica a falta de um estudo de viabilidade antes da concretização da construção. "O Estado investiu capital para que aquele edifício beneficiasse as comunidades locais”.
Faltam estradas em condições
O juiz Jones Paulo, presidente do tribunal do Cuando Cubango, confirmou à DW África que não houve auscultações prévias da comunidade local: "Foi erguido o edifício sem que se consultasse os órgãos de justiça local principalmente o tribunal”.
Paulo salienta que o tribunal propôs um outro edifício já existente para a sua sede. "Entre outras dificuldades que esta província tem, há falta de vias de comunicação. Assim, naturalmente não pode haver circulação de pessoas e bens e consequentemente não há desenvolvimento”, avança o juiz.
Em entrevista à rádio pública, Júlio Marcelino Viera Bessa, governador do Cuando Cubango, garantiu que o imóvel não foi abandonado: "O que não está a acontecer é a sua ocupação pelos magistrados. O grande calcanhar de Aquiles é a desminagem. Se não se desminar a estrada entre Cuito Cuanavale-Mavinga, nós vamos continuar a assistir a situações deste tipo”.
O governador anunciou uma intervenção nos próximos dias, seguido da ocupação do Palácio pela administração do Mavinga: "No quadro do PIIM [Pano Integrado de Intervenção aos Municípios], [vamos] fazer uma ligeira reparação, e, enquanto os magistrados não tiverem condições para lá se deslocarem, poderá a administração municipal ocupar o edifício”.
Cuito Cuanavale: O marco da libertação da África Austral
Batalha que ficou conhecida como marco da libertação da África Austral completa 32 anos esta terça-feira (23.03). Veja algumas imagens do memorial em homenagem aos que participaram dos confrontos em Cuito Cuanavale.
Foto: Adolfo Guerra/DW
Palco de confrontos sangrentos
Nesta imagem área, observa-se o rio Cuanavale numa área próxima à cidade de Cuito Cuanavale. Nesta região, ocorreu um dos episódios mais sangrentos da guerra civil angolana, a batalha de quatro meses que seria considerada mais tarde um marco da libertação da África Austral. Nos confrontos, estavam em jogo a hegemonia de forças políticas internas angolanas e das potências mundiais EUA e URSS.
Foto: imago images/imagebroker/F. Wagner
Fortemente armados
Nesta imagem de finais de fevereiro 1988, está um soldado angolano com uma AK-47, submetralhadora de fabrico soviético. O combatente guarda uma bateria de mísseis terra-ar também de fabrico soviético. O exército angolano regular, apoiado pela antiga URSS e por soldados cubanos, lutava contra o movimento nacionalista anti-marxista da UNITA, apoiado pelos EUA e pela África do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/P. Guyot
Enviados de Fidel Castro
O Presidente de Cuba à época, Fidel Castro, a pedido do Governo angolano, enviou mais de 15 mil soldados para ajudar as Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA). Os cubanos batizaram a operação "Manobra XXXI Aniversário das FAR" (Forças Armadas Revolucionárias). A ajuda dos combatentes cubanos foi decisiva para os confrontos contra as forças da UNITA e os militares sul-africanos.
Foto: picture-alliance/dpa
Golpe contra o apartheid
Quando os eventos bélicos começaram, a 15 de novembro de 1987, a África do Sul fazia fronteira com Angola por meio do território em disputa da atual Namíbia. O Governo sul-africano estava determinado a prevenir que as FAPLA controlassem a região e permitissem que a Organização do Povo do Sudeste Africano (SWAPO) – movimento de libertação da Namíbia – passasse a ameaçar o regime do apartheid.
Foto: Adolfo Guerra/DW
A batalha mais longa
No dia 22 e março de 1988, terminava a batalha que é tida como a mais longa de África desde a Segunda Guerra Mundial. Na época, ambos os lados reivindicaram a vitória e houve uma guerra de narrativas. As FAPLA afirmavam que a defesa heroica de Cuito Cuanavale impediu que a África do Sul invadisse Angola. Na África do Sul, o regime divulgava que o "triunfo" preveniu o avanço comunista.
Foto: Adolfo Guerra/DW
As consequências de Cuito Cuanavale
O que está claro é que as hostilidades na região marcaram alguns dos confrontos mais sangrentos da guerra civil. Milhares de combatentes das FAPLA, da UNITA e os seus respetivos aliados morreram. Após este episódio, as forças cubanas e sul-africanas retiraram-se do território angolano e a Namíbia tornou-se independente.
Foto: Adolfo Guerra/DW
Imenso monumento
Hoje, quem chega a Cuito Cuanavale não pode ignorar o imenso monumento em destaque na cidade da província do Cuando Cubango, no sudeste de Angola. O local serve a cerimónias em homenagem aos combatentes da guerra civil angolana e da batalha travada na região.