Angola: "Jiku" faz primeiro balanço da cobertura da campanha
Lusa | ar
1 de agosto de 2017
Nos primeiros cinco dias de campanha, 332 minutos foram dedicados nos media à campanha do MPLA, enquanto a cobertura dada à coligação CASA-CE não passou dos 21 minutos.
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Quase 85% do tempo dedicado pelas televisões e rádios angolanas à cobertura da campanha eleitoral, entre 23 e 27 de julho, foi ocupado pelo MPLA, com 332 em 500 minutos que os voluntários do projeto "Jiku" afirmam ter monitorizado.
Os números foram divulgados esta terça-feira (01.08.) pela associação cívica angolana Handeka, fundada por personalidades como o ativista Luaty Beirão ou o ex-primeiro-ministro Marcolino Moco, que lançou este projeto de monitorização à cobertura da campanha eleitoral para as eleições gerais de 23 de agosto.
A análise, segundo os dados do projeto "Jiku", resultam da monitorização, por voluntários da associação, das televisões pública TPA e privada Zimbo, bem como da Rádio Nacional de Angola, Rádio Mais, Rádio Lobito e Rádio Morena.
Em 500 minutos que a associação refere terem sido monitorizados nos primeiros cinco dias de campanha, 332 minutos (84,47%) foram dedicados, segundo os resultados divulgados, à campanha do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, enquanto a cobertura dada à coligação CASA-CE não passou dos 21 minutos (5,33%).
UNITA contou com 13,5 minutosA UNITA, maior partido da oposição angolana, contou com 13,5 minutos do tempo de cobertura (3,34%), menos que o PRS, quarto mais votado nas eleições de 2012, que teve 17,6 minutos (4,47%). A FNLA teve 5,15 minutos (1,31%) e a APN 4,15 minutos (1,05%).
"É uma violação gritante da Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais, nos seus artigos número 73, sobre o direito de antena para fins eleitorais, e número 64, do princípio da igualdade de tratamento. E a Comissão Nacional Eleitoral [CNE] o que faz? Impávida, assiste a tudo isto e depois declara as eleições como isentas, livres e justas", criticou anteriormente Luaty Beirão, em declarações à agência de notícias Lusa.
"E o cidadão cumpridor da lei deve engolir a seco e ficar quieto, quanto os engravatados fazem da sua soberania um pedaço de papel higiénico", lamentou o 'rapper', um dos 17 condenados em 2016 pelo tribunal de Luanda a penas de prisão.
Combater a "cultura do medo”A Handeka foi lançada em abril passado, em Luanda, para combater a "cultura do medo", que os fundadores consideram inibir o exercício de cidadania e participação civil da maioria dos angolanos.
A associação, cujo nome significa "voz" na língua nacional Nganguela, tem como subscritores nove cidadãos de variados estratos sociais, os quais pretendem promover a defesa da democracia e dos direitos humanos, bem como fomentar o exercício dos direitos e liberdades de reunião, expressão, de imprensa, manifestação e associação.
monitorização cívica do processo eleitoral em Angola
A associação propõe-se contribuir para a formação de opinião, educação patriótica e cívica, bem como estimular a participação dos cidadãos na vida pública.
No âmbito do projeto "Jiku", que consiste na monitorização cívica do processo eleitoral em Angola, em que concorrem seis listas às eleições gerais de 23 de agosto, a Handeka pretende alargar o número dos órgãos de comunicação social monitorizados, nomeadamente rádios, mas também ao nível das principais províncias do país.
"Nas províncias, o desequilíbrio é muito maior", enfatiza Luaty Beirão, que já fez saber que não atualizou o registo eleitoral, pelo que não irá votar nas eleições de agosto.
Artivismo: a arte política de André de Castro
O papel político da arte é o mote de "Liberdade Já", a exposição do artista brasileiro André de Castro que lembra, entre outros ativistas, os presos políticos angolanos.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
"Liberdade Já" em serigrafia
A arte pode ter uma missão política - é o que prova esta exposição de André de Castro, a primeira mostra a solo do artista visual brasileiro na Europa. Este primeiro painel à entrada da exposição, em Lisboa, é um tributo aos presos políticos angolanos. O autor deu-lhe o título de "Liberdade Já", slogan que alimentou o movimento de solidariedade internacional pela libertação dos ativistas.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
Debate sobre política internacional
Tanto este projeto "Liberdade Já" (2015) como "Movimentos" (2013-2014) tiveram repercussão mundial. O artista brasileiro destaca, através das suas obras, os jovens presos políticos de Angola, libertados em 2016. As suas imagens acabam por incentivar o debate sobre acontecimentos políticos internacionais.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Os "revús" compõem o painel…
O artista compõe o painel com "monoprints" em serigrafias repetidas. Aqui podem ver-se alguns dos jovens angolanos presos em Luanda, em 2015, por discutirem um livro sobre métodos pacíficos de protesto. Luaty Beirão, Domingos da Cruz, Nuno Álvaro Dala, Nito Alves, Benedito Jeremias e Nelson Dibango, entre outros, foram julgados pelo crime de atos preparatórios para a prática de rebelião.
Foto: DW/J. Carlos
… e multiplicam-se pelo mundo digital
O luso-angolano Luaty Beirão foi escolhido como símbolo do ativismo político, dando força à exposição, com a curadoria da Muxima. Os retratos multiplicaram-se no mundo digital, foram reproduzidos em t-shirts e posters. A venda das serigrafias expostas em mostras coletivas em Lisboa e Nova Iorque, em 2016, reverteu integralmente a favor das famílias dos presos políticos angolanos.
Foto: DW/J. Carlos
Além de Angola...
Em dezembro, André de Castro comemorou com as irmãs a abertura da exposição em Lisboa, que também apresenta rostos de ativistas como José Marcos Mavungo, advogado e ativista de Cabinda. Além de Angola, o artista desafia os visitantes a revisitar o movimento da Primavera Árabe. Dá a conhecer as pessoas e as suas lutas, propondo um ângulo mais pessoal e humano na narração do momento histórico.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Arte como ator social
No interesse do público e das comunidades, o artista brasileiro assume ser um promotor social. "Ao expor 'Movimentos' e 'Liberdade Já' juntos, a mostra permite um recorte da arte como ator social, questionando intenção, receção, apropriação e estética nas ruas e na internet", afirma André de Castro. É o que mostra a coleção "Movimentos", colocada na outra parede da sala.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Coragem para mudar o mundo
Nesta segunda parede, André de Castro imortaliza várias causas em diversas partes do mundo. São mulheres e homens que recusam aceitar a forma como são tratados pelos respetivos Estados. Acreditam, tal como o autor da exposição, que o mundo pode ser muito melhor. Por isso, com coragem, decidiram sair à rua.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Identidade política dos manifestantes…
Este primeiro projeto de André de Castro, em 2013, foi selecionado para a 11ª Bienal Brasileira de Design Gráfico e visto por mais de 40 mil visitantes, passando por Miami (2013), Nova Iorque (2014) e Brasília (2015). As serigrafias, que resultam de entrevistas realizadas através das redes sociais, retratam as identidades políticas dos manifestantes de diferentes países.
Foto: DW/J. Carlos
… e cultura das manifestações
Através das serigrafias, o artista procurou valorizar a força da ação individual dos manifestantes. Cada participante enviou uma foto de rosto, usando as redes sociais, e respondeu a uma série de perguntas sobre a sua identidade política. Assim, foram criados retratos políticos individuais que, em conjunto, formam uma mini etnografia da cultura material e imaterial das manifestações.
Foto: DW/J. Carlos
Do outro lado do mundo
Em Nova Iorque, no Zuccotti Park, a sugestão original foi ocupar Wall Street, símbolo dos capitais financeiros internacionais. Porque, afinal, foi a especulação de capitais que deu origem à crise que atormentou o mundo há anos. Questiona Daniel Aarão Reis, ao apresentar a exposição: "Como aceitar que os responsáveis não ficassem com o fardo principal das medidas de superação desta mesma crise?"
Foto: DW/J. Carlos
Novos dispositivos de mobilização
A arte política de André de Castro, que também evoca figuras como Ghandi e Martin Luther King, faz lembrar a tradição dos grandes movimentos dos anos 1960, que dispensava partidos e sindicatos. Ao invés disso, surgiram novos dispositivos de mobilização e de ação.
Foto: DW/J. Carlos
Espelho D’ Água valoriza as serigrafias
A exposição, que também será posteriormente exibida no Porto (a norte de Portugal), encontra-se no Espaço Espelho D’Água, em Lisboa. A calçada deste espaço, tipicamente portuguesa, foi construída com base numa obra do autodidata artista plástico angolano, Yonamine, que tem vivido em diversos países de África, Europa e América do Sul.