"Angola enfrenta momento económico sem precedentes"
Lusa | kg
5 de abril de 2020
Num comunicado, o Banco Económico de Angola avalia que a queda dos preços do petróleo – a principal fonte de receitas do país – e a pandemia da Covid-19 colocam o país numa situação adversa.
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A administração do Banco Económico de Angola considera que o país enfrenta "um momento económico adverso e sem precedentes". Os motivos para essas conclusões são a queda dos preços do petróleo e a pandemia da Covid-19, que têm acentuado a incerteza sobre a recuperação económica.
"Angola atravessa um momento económico adverso e sem precedentes, justificado por fatores como a queda acentuada do preço do petróleo nas últimas semanas (mais de 70% desde o início do ano) com impacto direto na principal fonte de receitas do país, colocando uma pressão acrescida sobre as suas finanças públicas e posição líquida externa, em divisas", lê-se num comunicado do Banco Económico.
Coronavírus muda rotina dos moçambicanos
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O documento foi divulgado depois da colocação em revisão com perspetiva negativa do 'rating' desta instituição financeira pela Moody's.
A crise económica resulta também do "rápido alastramento da pandemia da Covid-19 e o seu imprevisível efeito sobre a atividade económica mundial, nomeadamente em termos do impacto das condições de crédito e de liquidez, que também se podem traduzir no previsível acréscimo do endividamento e pressão sobre a balança de pagamentos".
A estes fatores, conclui a instituição financeira, "acresce a difícil visibilidade sobre o 'timing' e o ritmo da recuperação da economia mundial no período pós-Covid-19 e do preço do petróleo, numa conjuntura de forte redução da procura e de queda geral dos preços das matérias-primas".
Perspetiva negativa
Esta semana, a Moody's colocou em revisão com perspetiva de descida o 'rating' de Angola e, consequentemente, o 'rating' dos três bancos que a agência de notação financeira segue no país: o Banco Angolano de Investimentos (BAI), o Banco de Fomento Angola (BFA) e o Banco Económico. "A Moody's estendeu esta medida de forma transversal ao setor bancário angolano", reagiu a administração do banco no comunicado.
"Durante o período de revisão, a Moody's vai avaliar o impacto da degradação económica na qualidade dos ativos, na capitalização e na liquidez em moeda externa dos bancos, a resposta governamental ao choque – que servirá para aferir do 'rating' da República –, e qualquer mudança na disponibilidade do Governo para ajudar os bancos em necessidade", refere ainda no texto.
A degradação do ambiente operacional dos bancos está intimamente ligada à queda do preço do petróleo, diz a Moody's, que reviu em baixa a estimativa do preço médio do barril para 40 a 45 dólares este ano e 50 a 55 dólares, em 2021.
Niassa: da ruralidade à industrialização
A industrialização da província do Niassa é a grande esperança para as populações locais. A Zona Económica Especial (ZEE) de Ute criará emprego e dinamizará uma economia atualmente marcada pela escassez de comércio.
Foto: DW/M. David
Erguem-se fábricas
O Conselho de Ministros declarou Ute como Zona Económica Especial (ZEE) no ano passado. Com uma área de 681 hectares, 156 estão reservados para a construção de um porto seco - uma espécie de terminal terrestre - e algumas residências. A restante área albergará uma zona industrial que compreenderá postos de armazenamento e outras infraestruturas.
Foto: DW/M. David
Ute, uma localidade à mercê da falta de recursos
Ute é atualmente uma povoação remota onde falta praticamente tudo: as infraestruturas sociais praticamente não existem e o fornecimento de energia ainda é débil. Não obstante, os residentes estão confiantes de que a entrada em ação dos vários projetos previstos para a localidade trará dias melhores para a economia local e familiar. Na foto, é possível ver o Centro de Saúde local.
Foto: DW/M. David
Acessos garantidos
As condições de acesso à ZEE de Ute estão garantidas, uma vez que a estrada N14 e a linha férrea Lichinga-Cuamba passam nas suas imediações, permitindo o escoamento dos produtos para os portos de Pemba e de Nacala. Com quase 100 mil habitantes, o distrito de Chimbunila dista a 25 quilómetros da capital provincial do Niassa, Lichinga, e vai acolher a maioria dos investimentos previstos.
Foto: DW/M. David
Fábrica de serração quase pronta
De capital totalmente moçambicano, a fábrica de serração prevista para a ZEE está praticamente pronta. Antes de começar a operar, a unidade prevê contratar numa primeira fase cerca de 300 trabalhadores. A fábrica irá especializar-se no tratamento e processamento de madeiras para o mercado interno, mas também para clientes no estrangeiro.
Foto: DW/M. David
Matéria-prima não falta
A fábrica de serração conta com 31 mil hectares de florestas de pinho e eucalipto à sua disposição. As árvores vão sustentar a produção de madeira num período de, pelo menos, dez anos. À medida que o produto for escasseando, a empresa terá a responsabilidade de plantar novas árvores para garantir a sustentabilidade do projeto.
Foto: DW/M. David
Jovens de olho em novos postos de trabalho
Muitos jovens de Ute e de todo o distrito de Chimbunila veem nestes projetos uma porta de entrada para o mercado de trabalho, sobretudo porque na região há fortes índices de desemprego. Alguns jovens locais ouvidos pela DW África exigem transparência na abertura dos concursos de emprego e pedem que se dê prioridade à força laboral local.
Foto: DW/M. David
Nova fábrica de cimento, a primeira em décadas
A primeira fábrica de cimento do Niassa depois da Independência de Moçambique (1975) começou a ser construída em outubro de 2017 no distrito de Chimbunila. A unidade está a ser edificada lentamente e assim que estiver pronta deverá empregar cerca de 500 trabalhadores. Nas imediações desta estrutura fabril, está ainda prevista a construção de escritórios e armazéns.
Foto: DW/M. David
Cimento escoado para a região
Com investimento inicial chinês, a fábrica que está a ser erguida na povoação de N’toto, entre o distrito de Chimbunila e o município de Lichinga, terá uma capacidade de produção anual de 200 mil toneladas de cimento. Grande parte da produção será escoada para o mercado interno, mas também para o vizinho Malawi.
Foto: DW/M. David
Matéria-prima local
A matéria-prima que será utilizada para alimentar a fábrica não será importada, mas sim obtida localmente. A província do Niassa possui grandes quantidades de calcário e argila, sobretudo localizadas no distrito de Sanga.
Foto: DW/M. David
Cimento mais barato
A instalação da fábrica na província deverá reduzir o preço do cimento na região. Neste momento, um saco de cimento proveniente das províncias de Nampula e de Cabo Delgado custa cerca de 500 a 600 meticais (entre 7 e 8,50 euros), dependendo da qualidade do cimento.