A justiça espanhola está a investigar uma empresa pública do país que terá subornado um ex-vice-ministro de Angola com "caixas de bolachas cheias de notas". Em causa estaria a facilitação da construção mercado em Luanda.
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Na sequência de uma denúncia feita em 2010, a procuradoria espanhola anti-corrupção investiga a empresa pública Mercasa que, alegadamente, subornou o antigo vice-ministro do Comércio de Angola, Manuel da Cruz Neto.
O objetivo era ganhar um contrato de 533 milhões de euros destinado a construir um mercado abastecedor na capital angolana. O dinheiro terá sido entregue em Luanda e recolhido depois em Lisboa em caixas de bolachas colocadas no porta-bagagem do carro do ex-governante.
FESA envolvido no "barulho"
O diário espanhol "El Mundo” divulgou, em novembro último, que o contrato foi assinado quando Cruz Neto era vice-ministro do Comércio, antes de assumir o cargo de vice-ministro das Finanças. O caso é seguido em Lisboa pela Transparência e Integridade – Associação Cívica (TIAC).
Para o presidente da TIAC, João Paulo Batalha, "este caso mostra que há uma prática de pessoas com responsabilidades políticas e próximas do poder em Angola a fazerem negócios ou, às vezes, puramente transações financeiras, com dinheiro de proveniências desconhecidas e suspeitas, em muitos casos, para a Europa, mas também que acontece noutro tipo de participações financeiras."
E Batalha garante: "Nós acompanhamos, obviamente, vários dos negócios em Portugal, mas sabemos que eles existem também noutros países; neste caso em Espanha, em França, na Suiça."
Angola - Espanha: Dinheiro de suborno em caixas de bolachas
O jornal "El Mundo" informa ainda que a justiça espanhola também investiga alegados pagamentos em comissão, que terão chegado aos 10 milhões de euros, efetuados pela Mercasa à fundação com o nome do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos (FESA). A fundação estaria igualmente relacionada com o negócio para a construção do mercado em Luanda. A FESA desmentiu ter recebido tais valores.
Mas para João Paulo Batalha "há sempre ligações. Nunca são negócios isolados. Mesmo quando é uma troca de um favor ou de um suborno há sempre depois outras implicações, porque esse dinheiro ilegalmente recebido circula por vários bancos, várias empresas de fachada ou muitas vezes [aplicados em] imobiliário de luxo, apartamentos que podem não ser em Espanha, podem ser em Lisboa ou em Cascais ou noutros sítios de Portugal. E portanto, há aqui um padrão de apropriação indevida de dinheiro, portanto, de corrupção."
Combate à corrupção para ser levado a sério?
Eugénio Almeida, investigador do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL), acredita que estas notícias surgem na sequência das alterações imprimidas pelo Governo do Presidente angolano João Lourenço.
O investigador lembra que este fez do combate à corrupção um dos seus "cavalhos de batalha": "Embora este seja o mais recente [caso], já tem havido casos que se tem falado, até com diplomatas angolanos que têm tido atitudes pouco diplomáticas, digamos assim, em Espanha."
"E, portanto, é natural que tudo isso seja, desculpa a expressão, uma evoluição na continuidade. Isso parece que não releva muito e torna-se ainda mais evidente, mais claro, com o combate que João Lourenço está a fazer à corrupção e que parece, pelo menos daquilo que nós verificamos, que é para se levar a sério", considera Almeida.
Segundo o investigador, este caso terá sido encerrado a nível diplomático entre Angola e Espanha, ao contrário do processo que ainda decorre a nível da justiça em Portugal envolvendo o ex-vice-presidente angolano Manuel Vicente, acusado de crime de corrupção e branqueamento de capital.
Eleições em Angola: Do combate à corrupção ao "Dubai africano"
A DW África analisou os principais factos que marcaram a campanha eleitoral angolana e as promessas mais faladas de cada partido concorrente às eleições gerais de 23 de agosto. Um resumo fotográfico.
Foto: privat
Pouco espaço para a oposição
Na pré-campanha, a oposição afirmou que nas ruas de Luanda só se viam cartazes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Segundo a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), as agências publicitárias recusavam-se a divulgar materiais da oposição, sob risco de perderem as licenças e os espaços publicitários atribuídos pelo Governo Provincial de Luanda.
Foto: DW/N. Sul de Angola
Propostas na rádio e televisão
Após a pré-campanha, a Comissão Nacional Eleitoral estabeleceu o período de 23 de julho a 21 de agosto para a campanha eleitoral. Além dos atos de massa, os partidos puderam apresentar as suas propostas nos meios de comunicação social do país. A oposição voltou a dizer que não teve o mesmo espaço que o partido no poder.
Foto: DW/B.Ndomba
Combate à corrupção
Combater a corrupção foi uma das metas apresentadas pelo MPLA. O partido no poder, que tem João Lourenço (foto) como cabeça-de-lista, reconheceu durante a campanha que o país "não pode mais sofrer com a corrupção". A ausência do candidato à vice-presidência, Bornito de Sousa, e do Presidente cessante José Eduardo dos Santos, que supostamente estavam doentes, também marcou a campanha eleitoral.
Foto: DW/ A. Cascais
"Interesse nacional"
Entre as propostas da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) está a gratuidade da educação até o ensino secundário. O maior partido da oposição também prometeu um Governo em que o "interesse nacional" esteja acima de "interesses partidários, setoriais ou pessoais". O partido liderado por Isaías Samakuva encerrou sua campanha eleitoral no Cazenga (foto), em Luanda.
Foto: DW/A. Cascais
Mudança depois de 42 anos
A CASA-CE, segundo maior partido da oposição, reuniu ao longo da campanha milhares de apoiantes em diferentes atos de massa nas províncias (foto em Benguela, a 29 de julho). No ato de encerramento, em Luanda, o candidato Abel Chivukuvuku pediu confiança dos angolanos para pôr fim aos "42 anos de sofrimento e má governação".
Foto: DW/N. S. D´Angola
Estados federados
A campanha do Partido de Renovação Social (PRS) foi marcada pela proposta de implantar um sistema federalista no país. O cabeça-de-lista Benedito Daniel (ao centro da foto) defendeu que só através dessa reforma as províncias angolanas – convertidas em estados – teriam autonomia para governar.
Foto: DW/M. Luamba
Angolano no "centro da governação"
A campanha da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) deu especial atenção à pobreza, saúde, educação e emprego. Liderado por Lucas Ngonda, o partido diz que é a "única formação partidária que tem o angolano como centro da sua governação". A abertura da campanha eleitoral aconteceu no Bié (foto), berço do antigo braço armado do partido, a União Para a Libertação de Angola (UPA).
Foto: DW/J. Adalberto
"Dubai africano"
A Aliança Patriótica Nacional (APN) é o partido com o candidato à Presidência mais jovem. Durante a sua campanha eleitoral, o ex-deputado Quintino Moreira (à esquerda na foto) prometeu criar um milhão de empregos – o dobro do que o MPLA prometeu nestas eleições. Além disso, disse que transformaria a província do Namibe num "Dubai africano".