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Angola: Estará Governo a aproximar-se dos cidadãos?

Manuel Luamba
16 de maio de 2018

Governo angolano anunciou que vai criar plataformas de contacto com os cidadãos nas redes sociais. Jornalista de Angola considera iniciativa apenas "para inglês ver".

Elfenbeinküste Symbolbild Handynutzung
Foto: Getty Images/AFP/I. Sanogo

À falta de outros locais onde se podem expressar livremente, muitos angolanos recorrem às redes sociais para fazer denúncias e criticar várias políticas do Governo. Recentemente, muitos cidadãos levaram a cabo no Facebook a campanha denominada "Acaba de me matar", para protestar contra a falta de infraestruturas para enfrentar as chuvas, no princípio do ano. Muitos jovens divulgaram na internet imagens em que se fingiam de mortos, com blocos de cimento, pedras ou livros em cima da cabeça ou do peito. O protesto tornou-se viral. Segundo o ativista Arante Kivuvu, a ação aflorou também outros temas.

"Aquele protesto era para transmitir a mensagem de que nós precisamos de apostar na educação e na saúde."

João Lourenço criou uma página de Facebook durante a sua campanha eleitoral

Não há no país uma cultura de aproximação entre governantes e governados. Arante Kivuvu, um dos ativistas visados no processo dos 15+2, diz, por exemplo, diz que nunca falou com nenhum membro do Governo, seja na internet, seja na vida real - mas já falou com deputados da oposição.

"Um governante não, mas várias vezes já conversei com os deputados no Facebook onde consegui transmitir a minha ideia sobre a necessidade do bem comum", explica.

Iniciativa que peca por tardia

Mas o distanciamento entre governantes e governados pode ter os dias contados. O Governo anunciou que vai criar mecanismos de contacto com os cidadãos nas redes sociais. A notícia foi anunciada por Frederico Cardoso, ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República de Angola.

"O Governo está a desenhar uma estratégia de comunicação institucional específica, que lhe permite comunicar com eficácia neste meio, informar convenientemente o cidadão, mobilizá-lo para os grandes reptos da nação e salvaguardar os interesses atinentes à afirmação de Angola em África, e no mundo".

O Governo não descreveu, em concreto, em que plataforma, nem como vai falar com os cidadãos.

Angola: Estará Governo a aproximar-se dos cidadãos?

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O jornalista Jorge Neto entende, no entanto, que o Governo já vem tarde.

"A sociedade angolana já anda nas redes sociais há mais de sete ou oito anos. É importante também dizer que, há agora um novo paradigma no que tange à governação de Angola. O atual Presidente João Lourenço, aquando da campanha eleitoral criou uma página no Facebook onde as pessoas interagiam."

Mas será que haverá mesmo mudanças e que os governantes vão passar a falar diretamente com os governados nas redes sociais? Contam-se pelos dedos os governantes ou deputados do partido no poder que usam as redes sociais para passar informação aos cidadãos sobre a governação. O jornalista Jorge Neto acredita, por isso, que este anúncio é "para inglês ver".

"Se de facto se criar isso, será apenas para que as pessoas se apercebam que o Governo está preocupado com aquilo que elas pensam", defende o jornalista.

Poucos governantes ativos nas redes sociais

João Lourenço é um dos poucos que continua presente nas redes sociais, a postar mensagens. Na semana passada, o Presidente angolano usou a sua conta no Twitter para abordar o relançamento das relações bilaterais entre Luanda e Lisboa, ensombradas pelo caso Manuel Vicente, antigo vice-Presidente de Angola acusado em Portugal de corrupção.

Adão de Almeida, ministro da Administração do Território e Reforma do Estado, tem publicado informações sobre os preparativos para a implementação das autarquias. João Pinto, deputado do partido no poder, o MPLA, também está sempre no Facebook a debater vários temas com os cidadãos.

No passado, o Governo angolano foi acusado de querer introduzir legislação para controlar o uso das redes sociais, por serem plataformas onde é fortemente criticado pelos cidadãos. Mas Jorge Neto diz que essa é uma tarefa quase impossível. Segundo o jornalista, nem mesmo o criador do Facebook, Mark Zuckerberg, consegue controlar o uso da rede.

"Nos grandes países do mundo, não se consegue controlar as redes sociais. Não será em Angola que serão controladas. As redes sociais em Angola são um bem."

De acordo com o jornalista, o Governo devia incentivar o uso das redes sociais para ajudar a resolver problemas como o fornecimento de energia eléctrica e água potável.
"Incentivar a proliferação ou o uso das redes sociais, porque isso ajudaria muito o país." 

 

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