Angola: Eternas obras no Campus Universitário de Cabinda
Simão Lelo
13 de outubro de 2024
Obras do Campus Universitário de Caio começaram há 16 anos, mas estão paradas desde 2015 por falta de dinheiro. Governo promete ir à procura de fontes de financiamento.
Publicidade
As futuras infraestruturas do Campus Universitário de Caio serão construídas numa área de 90 hectares, na Caio Litoral, a cerca de 25km da cidade de Cabinda. Mas as obras, que começaram há 16 anos estão paralisadas há quase uma década.
Simão Lando, fiscalizador da obra, conta à DW que têm existido sucessivos avanços e paralisações, por constrangimentos financeiros. "De momento, está tudo parado. Chegamos até quase 74 por cento de execução física", nota.
Num despacho presidencial em 2022, o chefe de Estado João Lourenço autorizou a celebração dos contratos de empreitada para acabamentos complementares e apetrechamento da primeira fase do projeto de construção referente ao edifício da reitoria e dos serviços sociais, no valor global de 15,4 milhões de dólares norte-americanos.
Na altura, o documento referia que, devido à paralisação do projeto, em 2015, o material implantado se tinha degradado, sendo urgente a sua reposição. No entanto, mesmo depois do despacho, nada mudou.
Publicidade
Situação "triste e lamentável"
Muitos académicos mostram-se insatisfeitos com a situação. Isto porque um dos objetivos do projeto do Campus Universitário de Caio era aumentar o número de salas de aula, e consequentemente, abrir mais vagas.
Pedro António, docente universitário, descreve a situação como "triste e lamentável, pois muita juventude fica fora sem poder dar continuidade aos seus estudos, porque os espaços são insuficientes".
Domingos João Marques, jurista, partilha a mesma visão: "Nem todos têm as condições financeiras para garantir uma vaga numa universidade privada. A entrada em funcionamento [do Campus] poderia garantir mais desenvolvimento", disse à DW.
Numa visita de trabalho à província de Cabinda, no início do mês, a ministra do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, Paula de Oliveira, garantiu que o Governo está à procura de "fontes de financiamento para que possamos terminar a referida obra".
"O que falta é inferior em relação àquilo que o executivo já investiu até agora. Portanto faz todo o sentido, numa província como Cabinda, termos esta obra terminada", afirmou.
Questionada sobre o montante necessário para concluir a obra, a ministra não deu detalhes.
Apesar da garantia do Governo, há quem prefira ver para crer. É o caso do jurista Domingos Marques, que diz: "Esperemos que as palavras da senhora ministra não sejam mais um discurso político, somente como forma de nos acalmar, mas que esteja eivado de responsabilidade e de sentido tendo em conta a dimensão da própria obra".
Angola: Diversificar a economia através da agricultura
O petróleo é a principal fonte de receitas de Angola. Face à crise no mercado internacional, o país procura diversificar a sua economia nomeadamente através da agricultura.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Estado das vias de acesso preocupa
Há 10 anos o Governo realiza, anualmente, a Feira da Banana no Bengo. Apesar do nome, a feira contempla diversos produtos. Bengo possui uma área arável de cerca de 1 milhão de hectares. As culturas mais predominantes são a mandioca, batata doce, feijão, banana, ginguba e batata rena. Mas o estado degradante das vias de acesso tem gerado perdas significativas aos produtores.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Produção nacional de Banana
A produção de banana é uma fonte de rendimento para muitas famílias, gerando postos de trabalho e desenvolvimento nas regiões de produção. Em 2023, a província angolana do Bengo produziu mais de 443 toneladas de banana. Martins Albino, produtor, diz que no município de Bula Atumba explora 8 hectares e consegue colher mais de 100 cachos de banana por mês.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Para quando o relançamento do café?
A produção de café em grande escala também pode ajudar Angola a depender menos do petróleo. O país, antes independência, já foi um dos maiores produtores de café. Os conflitos armados, o envelhecimento da mão de obra e o relaxamento dos produtores freou a sua elevação. Nos últimos tempos, tem havido maior aposta na produção.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Do bombó vem o funge
Na região norte de Angola, o funge de bombó, cuja matéria-prima é a mandioca, é um dos principais alimentos. Rosa José, que vive desta produção há mais de 20 anos, conseguiu empregar três trabalhadores. Em um ano colhe e comercializa mais de uma tonelada de bombó. Face aos níveis de produção na sua localidade, diz que tem procurado vender o bombó em outros mercados.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Cana-de açúcar é outra alternativa
Também a produção de cana-de açúcar já proporcionou muitas alegrias a Angola. A cidade capital do Bengo encontra-se numa zona que recebeu o nome de "Açucareira" precisamente por conta dos elevadores níveis de produção.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Das águas angolanas chegam outras valências
Peixes de diferentes espécies podem ser encontrados no rio ou no mar, na província do Bengo. Ambriz, por exemplo, é conhecido por ser um município piscatório devido ao seu potencial no que à pesca diz respeito. Quem visita a municipalidade não pode deixar de provar a "madiquita".
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Kizaca, o "frango verde" de Angola
Além da mandioca que dá origem ao bombó, da mesma produção vem a kizaca. Um alimento que durante a pandemia da COVID-19 ficou conhecido em algumas zonas de Angola como "frango verde". Muito presente na mesa dos angolanos, a kizaca pode acompanhar o funge, o arroz e até mesmo o molho.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Produção de laranja
Este é outro produto que muito se cultiva em Angola: a laranja. Nesta feira em que participam mais de 500 expositores, com um volume de negócios de mais de cem milhões de Kwanzas (cerca de 109.453€), os participantes aproveitam para fazer negócios. O Governo do Bengo contempla um total de 156 associações de camponeses e 187 cooperativas agropecuárias, grande parte integrada por ex-militares.
Foto: Antonio Ambrosio/DW
Autoridades e produtores buscam soluções
Sentados "à mesma mesa", autoridades e produtores buscam soluções para melhorar e impulsionar a produção nacional e alavancar a diversificação da economia do país.