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Angola: Exonerações servem para limpar imagem do Presidente?

1 de junho de 2021

Analista considera que as recentes exonerações em Angola visam limpar a imagem do Presidente João Lourenço rumo às eleições. Defende ainda que a oposição tem sido silenciada pela força no poder.

João Lourenço, Presidente de AngolaFoto: Getty Images/M. Spatari

A oposição angolana condenou esta terça-feira (01.06) o escândalo financeiro que envolve oficiais da Casa de Segurança da Presidência da República, João Lourenço. Em declarações à agência de notícias Lusa, o presidente do partido Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Manuel Fernandes, pediu a responsabilização exemplar dos implicados no caso que já rendeu várias destituições.

Na segunda-feira (31.05), João Lourenço deu mais uma ordem de afastamento dentro da elite no poder, exonerando o chefe da Casa de Segurança e ministro de Estado, Pedro Sebastião.

Pedro Sebastião, antigo chefe da Casa de Segurança e ministro de EstadoFoto: DW/B. Ndomba

O que estará por detrás destas demissões? Em entrevista à DW, o analista político angolano David Sambango afirma que a pressão popular tem surtido efeito em Luanda, mas há outros fatores a influenciar as decisões do chefe de Estado.

DW África: No seu entender, a exoneração do ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, e de outras altas figuras militares, é resultado da pressão que o povo tem exercido nas ruas e nas redes sociais em Angola?

David Sambango (DS): Apesar de o regime político estar estruturado de tal forma que aparenta não acolher as ações e reivindicações que a sociedade civil vai fazendo, volta e meia as contestações [populares] têm-se refletido efetivamente nas ações do Presidente. Há muita coincidência [neste caso] com o escândalo que estamos a viver atualmente, que envolve um oficial superior das Forças Armadas, Pedro Lussaty, que apresenta somas avultadas de dinheiro e um conjunto de bens que ultrapassam aquilo que é o Orçamento Geral do Estado angolano, e que possivelmente estará implicado com altas patentes das Forças Armadas. Estas exonerações vêm em função dessa situação. É uma conjugação de fatores. Por um lado, assiste-se cada vez mais ao agastamento da população. Por outro lado, existe o escândalo do senhor Pedro Lussaty. Penso que o MPLA estará a pensar na manutenção do poder político porque nós estamos em ano pré-eleitoral.

DW África: Por que motivo essa pressão não terá funcionado no caso do chefe de Gabinete do Presidente, Edeltrudes Costa, também envolvido em denúncias de corrupção?

DS: É uma questão muito sensível. Tudo aponta que seja por ser alguém que tem muita proximidade e alguma proteção do Presidente da República. Conhece os meandros da política angolana e, sobretudo, é aliado de João Lourenço. Penso que estará a gozar dessa proteção especial como também o ex-vice-Presidente da República, Manuel Vicente, que foi implicado em vários processos, mas que goza das imunidades no âmbito da Constituição da República.

Palácio presidencial, em LuandaFoto: AFP/Getty Images/A. Jocard

DW África: Esses casos próximos do Presidente João Lourenço não prejudicam a imagem do chefe de Estado?

DS: Claramente que afetam, mas nos políticos ligados ao partido que governa em Angola ainda há cinismo e ouvidos de mercador. Embora essa situação esteja a manchar [a imagem de João Lourenço], como se diz em Angola, ‘enquanto os cães ladram, a carruagem avança'. Por outro lado, estamos a assistir a essas exonerações para tentar limpar a imagem do Presidente.

DW África: A oposição saberá utilizar esses elementos a seu favor?

DS: No início do mandato do Presidente João Lourenço, assistíamos a uma abertura associada aos órgãos de comunicação social públicos. A partir do ano passado, a oposição quase que foi silenciada. A oposição não tem espaço. A oposição consegue fazer alguma coisa nas redes sociais, mas apenas 3% ou 4% da população angolana tem acesso à Internet. A mensagem da oposição não consegue alcançar a maior parte da população angolana. Essa mensagem, por mais que se fale, fica só no âmbito das redes sociais e não consegue ter o impacto desejado.

DW África: O ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Angolanas, o general Francisco Pereira Furtado, foi nomeado por João Lourenço para assumir o posto de Pedro Sebastião. O que se espera do novo chefe da Casa de Segurança do Presidente da República?

DS: Não se espera absolutamente nada. Não é uma figura nova no xadrez político angolano. Ele estava envolvido em casos de corrupção. Para além disso, penso que será uma oportunidade para a oposição, sobretudo para a UNITA, que é o partido da oposição com maior assento [parlamentar] e que tem um líder cada vez mais atacado em função da sua nacionalidade. [Mas] o novo titular da pasta da Casa de Segurança do Presidente da República é um indivíduo que assumiu publicamente que é de origem cabo-verdiana. Do ponto de vista daquilo que é a segurança nacional e que tem a ver com a preservação dos interesses da coletividade, penso que não haverá muitas novidades.

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