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Angola: População vinga-se dos sobas pela falta de chuva

José Adalberto (Huambo)
8 de novembro de 2021

Populares no Huambo insurgiram-se contra as autoridades tradicionais por causa da falta de chuva. Governo foi obrigado a intervir, explicando que a “chuva é uma questão natural” influenciada pelas alterações climáticas.

Angola Bauer in Huambo
Foto: José Adalberto/DW

Superstições e crenças ditam a perceção de grande parte da população mundial em relação aos fenómenos atmosféricos. O assunto voltou à ribalta, no Huambo, em Angola, por causa dos prejuízos causados pela seca nas últimas duas campanhas agrícolas - 2019/2020 e 2020/201 - que arrasaram toda a produção. 

A falta de alimento trouxe fortes consequências sociais e económicas para a comunidade, que se vê amiúde com casos de fome e desnutrição severa.

Seca afeta grande parte do território de AngolaFoto: Adilson Abel/DW

O fenómeno da escassez de chuva é justificado pela ciência como sendo resultante das alterações climáticas. Mas nas comunidades rurais, o fenómeno foi sempre visto como uma ação perpetrada pelas autoridades tradicionais para reforçar o seu nível de influência junto das comunidades.

Há mesmo relatos de sobas que ameaçam travar a chuva caso a comunidade não cumpra determinada exigência, por exemplo.

Rasto de destruição

Há duas semanas, no município do Ucuma, na província do Huambo, a população revoltou-se contra o poder tradicional e partiu para atos de vandalismo contra instituições governamentais, bem como contra residências de sobas, causando danos materiais e humanos.

“A origem disto está mesmo no rei da Chiaca, que reclamou que se o Governo não lhe desse um carro também não teríamos chuva”, disse à DW o soba Ucuma Florentino.

“No mês de outubro não caiu chuva e, na mente das comunidades, aquele rei, que se intitulou como protagonista da chuva, está a travar a chuva”, acrescentou.

As autoridades governamentais da província estão preocupadas com os atos de vandalismo contra as autoridades tradicionais perpetrados pelas populações. 

Amilcar Salumbo, doutorado na área da climatologiaFoto: José Adalberto/DW

“Não se justifica este alvoroço por ausência da chuva, porque todos nós sabemos que a chuva é uma questão natural e já tivemos várias secas, várias estiagens e não é só no Huambo. Há outras províncias [afetadas]”, diz Loti Nolika, governadora da província, que se deslocou ao município do Ucuma para se inteirar do sucedido.

Chuva é um fenómeno natural

Amilcar Salumbo, engenheiro agrónomo com doutoramento na área da climatologia, confirma a posição do Governo. “É um processo com uma abordagem a vários níveis”, garante. 

“Nós vemos em alguns casos em que a comunidade, eventualmente, intervém na manifestação de descontentamento em relação á falta de chuva, eventualmente, por uma má abordagem do problema, porque a chuva não é um fenómeno de controlo humano”, concluiu o especialista.

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