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Angola: Faltam condições para receber elefantes do Botswana

Adolfo Guerra (Menongue)
28 de julho de 2023

Especialistas alertam que Angola não está preparada para dar guarida aos oito mil elefantes ofertados pelo Botswana. Economista diz mesmo que animais podem ter efeitos nocivos na vida das famílias mais vulneráveis.

Foto: Tony Karumba/AFP

Durante uma visita de estado, neste mês de julho ao Botswana, o Presidente João Lourenço anunciou, em Gaberone, que Angola vai receber os oito mil elefantes ofertados pelo Botswana para o repovoamento dos parques nacionais do Cuando Cubango. Mas o presente não é visto de forma consensual em Angola.

Paulo Domingos é chefe de fiscalização do Parque Nacional do Mavinga no Cuando Cubango, o maior do género em Angola, e relata que a falta de recursos humanos e materiais representa um dos grandes problemas na segurança da infraestrutura.

"Neste preciso momento, nós somos 33 efetivos para aquela extensão toda", adianta ao microfone da DW. "O número é reduzido e não nos facilita na fiscalização", acrescenta, dizendo ainda que são necessários, "no mínimo, mil efetivos" na região.

Paulo Domingos, chefe de fiscalização do Parque Nacional do MavingaFoto: Adolfo Guerra/DW

Meios "irrisórios"

Com três viaturas oferecidas pelo Governo angolano em março, Paulo Domingos afirma que os meios de que dispõe são "irrisórios" para receber os animais e combater os crimes ambientais.

"Temos viaturas (…), mas não são suficientes. Temos tentado com os poucos meios e homens. Protege-se a área para que os madeireiros não cortem [as árvores] de forma ilegal, mas do outro lado os caçadores estão a fazer das suas", lamenta. "Quando proteges os animais de um lado, os garimpeiros estão a entrar, então requer muito esforço e muita gente", referiu.

O Cuando Cubango conta com apenas 134 fiscais florestais para quase 200 mil km2 de áreas protegidas.

O ambientalista angolano Manuel Alberto Camuenho salienta um outro problema: a fuga de animais para outros países como a Namíbia, Zâmbia e Botswana.

Manuel Alberto Camuenho, ambientalista angolano Foto: Adolfo Guerra/DW

"Há que se entender quais os benefícios [de receber os animais], porque os elefantes têm o seu habitat natural, e eles, a seu tempo, viajam em manadas e oxalá que isto depois não venha a ter consequências para o nosso país, tendo em conta o número de fiscais ambientais", frisou.

"Ainda são insuficientes para conter os ataques aos parques e reservas naturais", salientou.

Criar condições

O ambientalista apela à criação de condições adequadas para que se contenha a caça furtiva, antes de se receber os elefantes.

"Oxalá que isto não se venha a reverter do ponto de vista comercial. Os elefantes têm a sua natureza socioeconómica e são muito procurados no mundo do marfim e tende a aumentar. As nossas fronteiras também não são muito seguras", adverte.

Ambientalista teme que elefantes doados possam atacar populaçõesFoto: Adolfo Guerra/ DW

Já o economista Pedro Paka entende que Angola não está ainda em condições para receber mais animais e considera que essa não é uma prioridade, num momento em que o país enfrenta enormes problemas sociais.

"Se nós temos défice de alimentação, temos défice de desenvolvimento da agricultura que faz parte da economia social. Nós não temos agricultura favorável e prestável. Nós dependemos de outros países. Com estes elefantes cá em Angola, não é possível, porque vai criar instabilidade aos fazendeiros e agricultores que vivem do autossustento", recorda.

"Quando digo autossustento, estou a falar daquelas famílias mais vulneráveis que dependem do campo para a sua alimentação. Com estes elefantes, tenho a certeza que haverá momentos que vão fugir do local", alerta, e conclui: "De momento não estamos em condições" para receber os animais.

Como o Botswana aumenta a população de elefantes

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