A Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e o Partido de Renovação Social (PRS), dois partidos com assentos no Parlamento angolano, estão em risco de não concorrerem às eleições gerais deste ano.
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A FNLA, um partido histórico na luta pela independência de Angola, está mergulhada numa crise de liderança, enquanto o PRS encontra-se num impasse sobre a escolha das figuras que irão concorrer como candidatos a Presidente e vice-Presidente de Angola.
Com o anúncio da entrega das candidaturas até o próximo dia 21 de maio, estabelecido pelo Tribunal Constitucional, o PRS vê-se encurralado em participar deste pleito eleitoral. Já tem agendado o seu IV Congresso para o final deste mês (dias 29, 30 e 31). O congresso terá por objetivo escolher o novo presidente da organização, depois do atual presidente, Eduardo Kuangana, ter colocado o seu lugar à disposição por questões de saúde.
Diante desta situação, a cúpula dirigente do PRS, além de ainda não ter divulgado a lista dos candidatos a deputados, tem um problema maior por solucionar: a escolha das figuras que poderão concorrer às funções de Presidente e vice-Presidente da República. Uma escolha que não será fácil para os renovadores sociais.
Listas provinciais
O secretário-geral e presidente da bancada parlamentar do PRS e um dos três concorrentes à liderança do partido, Benedito Daniel, disse à DW que, nesta altura, apenas as listas dos círculos das províncias estão completas.
"Nós temos a lista de todas as províncias. As listas dos círculosprovinciais estão preenchidas e completas. Quanto à lista nacional, ela já está praticamente feita, mas carece de aprovação. E a única situação a definir na lista nacional é o cabeça de lista. Teremos uma reunião onde, por consenso, escolheremos aquele que venha a ser, eventualmente, cabeça de lista da nossa lista nacional”, explicou.A escolha do cabeça de lista do PRS, como admitiu Benedito Daniel, poderá mesmo ser para o atual presidente do partido, Eduardo Kuangana, à frente da organização desde 1991. Ele já concorreu a todos os pleitos eleitorais em Angola.
04.05.2017 FNLA/PRS - MP3-Mono
"Não estou certo de que será ele, pois isso dependerá da reunião. Uma coisa é ele não concorrer à sua própria sucessão, outra coisa é ele fazer parte da lista de candidaturas”, disse Daniel.
Outros partidos
A FNLA também está em risco de não concorrer às eleições. O partido de atuação histórica vive numa crise interna permanente. Recentemente, um grupo de militantes anunciou a destituição de Lucas Ngonda da presidência da organização.
Já Tussamba Manuel, membro da FNLA, desvaloriza o assunto, afirmando que o país tem leis. " O partido tem estatutos. Obviamente que eles agiram à margem dos estatutos do partido e, portanto, a intenção que esses tinham de destituir o presidente do partido não foi tida em conta de acordo com as leis e o estatuto do partido. E que o acórdão [do Tribunal Constitucional] não saiu a favor deles.”
Entretanto, Tussamba Manuel afirmou que a FNLA está tudo a fazer para concorrer às eleições. "Nós temos estado a receber orientações para que as eleições possam ocorrer da melhor maneira possível. Portanto, os nossos militantes estão preparados para isso”.
José Eduardo dos Santos deixará saudades?
Dos Santos anunciou no início de 2017 que deixará o poder ao fim de 38 anos. Será que os angolanos terão saudades? Os comícios e as manifestações no país e fora de Angola nos últimos anos não deixam chegar a um consenso.
Foto: Getty Images/AFP/A. Pizzoli
Setembro de 2008 - Luanda
Este comício do MPLA em Kikolo, Luanda, foi assistido por milhares de pessoas durante a campanha para as eleições de 2008, as primeiras em 16 anos. O MPLA obteve 82% dos votos, tendo conquistado 191 dos 220 lugares da Assembleia Nacional de Angola.
Foto: picture-alliance/ dpa
Março de 2011 - Angola
No entanto, e apesar da maioria conseguida nas eleições de 2008, nos anos seguintes realizaram-se várias manifestações, em Angola, e não só, contra o Governo. A 7 de março de 2011, teve início no país uma onda de manifestações inspiradas na Primavera Árabe. Na organização destas manifestações estava o Movimento Revolucionário de Angola, também conhecido como "revús".
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011 - Londres
No mesmo dia (7 de março), cerca de 30 pessoas sairam às ruas em Londres para protestar contra o Presidente José Eduardo dos Santos. Os manifestantes exigiram a saída do pai de Isabel dos Santos gritando "Zédu fora!" e "Zé tira o pé".
Foto: Huck
Fevereiro de 2012 - Benguela
Em 2012, ano de eleições no país, o número de manifestações organizadas pelos não apoiantes de José Eduardo dos Santos continuou a crescer. O protesto retratado na fotografia teve lugar em Benguela, a 13 de fevereiro. "O povo não te quer", gritaram os manifestantes.
Foto: DW
Junho de 2012 - Luanda
A 23 de maio de 2012, o presidente angolano anuncia que as eleições legislativas se irão realizar a 31 de agosto. Sensivelmente um mês depois, a 23 de junho, o Estádio 11 de Novembro, em Luanda, encheu-se de militantes e simpatizantes do MPLA para aplaudir José Eduardo dos Santos e apoiar a sua candidatura.
Foto: Quintiliano dos Santos
Julho de 2012 - Viana
Cartazes a favor de dos Santos num comício da campanha para as eleições de 2012 em Viana, arredores de Luanda. A 31 de agosto, o MPLA vence as eleições com mais de dois terços dos votos. Depois de uma mudança da Constituição, o Presidente já não é eleito diretamente, mas sim indiretamente nas legislativas. Como cabeça de lista do MPLA, José Eduardo dos Santos é eleito Presidente de Angola.
Foto: Quintiliano dos Santos
Maio de 2015 - Benguela
Nos anos seguintes continuaram os protestos contra o Presidente. Foram-se somando episódios de violência e detenções. 2015 torna-se-ia um ano complicado no que às críticas a JES diz respeito. No aniversário do "27 de maio", em Benguela, por exemplo, 13 ativistas foram detidos minutos depois de começarem um protesto. No mesmo dia, também houve detenções em Luanda.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Junho de 2015 - Luanda
Em junho de 2015, tem início um dos episódios da governação de José Eduardo dos Santos mais criticados. 15 ativistas angolanos, entre eles Luaty Beirão, foram detidos sob acusação de planeaream um golpe de Estado. Para além de terem despoletado muitas manifestações, estas detenções tiveram mediatismo um pouco por todo o mundo devido às greves de fome levadas a cabo por muitos dos detidos.
Foto: DW/P. Borralho
Julho de 2015 - Lisboa
No dia 17 de julho realizou-se, em Lisboa, a primeira manifestação em Portugal a favor da libertação destes jovens. "Basta de repressão em Angola", ouviu-se na capital portuguesa. Dias mais tarde, em Luanda, a polícia reagiu violentamente contra algumas dezenas de manifestantes que protestaram no Largo da Independência.
Foto: DW/J. Carlos
Agosto de 2015 - Luanda
A 2 de agosto e sob o lema "liberdade já", cerca de 200 pessoas, entre as quais vários artistas angolanos - poetas, políticos, atores e artistas plásticos - juntaram-se, em Luanda, para pedir a libertação dos 15 ativistas angolanos detidos. Sanguinário, Flagelo Urbano, Toti, Jack Nkanga, Sábio Louco, Zwela Hungo, Mona Diakidi, Dinameni, Fat Soldie e MCK foram alguns dos artistas presentes.
Foto: DW
Agosto de 2015 - Luanda
Dias mais tarde foi a vez das mães dos ativistas se fazerem ouvir. Nas ruas de Luanda, pediram a libertação dos seus filhos, mesmo depois da manifestação ter sido proibida pelo Governo.
Foto: DW/P. Ndomba
Agosto de 2015 - Lisboa
Nem no dia do seu aniversário (28 de agosto), José Eduardo dos Santos teve "descanso". Cidadãos descontentes, quer em Lisboa, quer em Angola, voltaram às ruas. Na capital portuguesa, voltou a pedir-se liberdade para os ativistas. Exigiu-se ainda liberdade de movimento, de pensamento, de expressão e de imprensa em Angola.
Foto: DW/J. Carlos
Novembro de 2015 - Luanda
No dia em que se celebraram os 40 anos da independência de Angola, proclamada a 11 de novembro de 1975, pelo então Presidente António Agostinho Neto, vários jovens voltaram a fazer ouvir-se. 12 manifestantes foram detidos.
Foto: DW/M. Luamba
Março de 2017 - Cazenga
No início de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou a saída da Presidência. O cabeça-de-lista do MPLA às eleições gerais deste ano será o atual ministro de Defesa João Lourenço. O candidato foi recebido por centenas de apoiantes naquele que foi o seu primeiro ato de massas da pré-campanha, no município do Cazenga, em Luanda, a 4 de março.