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EducaçãoAngola

Angola: Formados no estrangeiro estão sem trabalho no Zaire

Firmino Chaves (Mbanza Congo)
4 de maio de 2024

Vários antigos estudantes bolseiros que se formaram no estrangeiro estão sem trabalho no Zaire. À DW, os jovens regressados a Angola queixam-se de que o Governo não tem um plano de ação para eles.

Obras de construção na Lunda Sul, Angola
Jovens angolanos formados no estrangeiro lamentam ser preteridos em função de serviços externosFoto: Manuel Luamba/DW

Depois de concluídos os estudos e de regressarem a Angola, vários quadros que foram bolseiros do Governo angolano são deixados à sua sorte no Zaire. Mengi Preto Valor é um desses casos e à DW diz que a falta de criação de condições por parte do Governo é a principal causa desse fenómeno.

"Não criamos condições quando mandamos pessoas para um determinado lugar para poder aprender", afirma. "O que nós devemos fazer é criar condições. Se sabemos mandar 20 pessoas para a China aprender a construção civil, temos de ter obras para que depois esses quadros venham demonstrar o que foram lá aprender", opina. "Agora para nós é tudo ao contrário", lamenta.

Fraca aposta nos recursos angolanos

Um outro munícipe, que não se identificou, acrescenta: "Quando formamos quadros temos de saber aproveitá-los". "O país gasta dinheiro a formar quadros [no estrangeiro] e quando voltam prestam serviços em outras áreas fora da sua formação", sublinha.

Em 2015, o Governo da província do Zaire deu bolsas de estudos a mais de 40 estudantes para irem para as repúblicas da China e de Cuba, que entretanto já regressaram ao país. Ângelo Justina é um deles. Formou-se em Engenharia Mecânica em Cuba.

Jovens queixam-se de serem formados mas estarem em casaFoto: Firmino Chaves/DW

"Após chegar à província, apresentei-me ao Governo. Trouxe um projeto de formação de continuação de estudos, tanto em mestrado ou ao nível de doutoramento e fui distinguido lá como o melhor estudante”, adiantou. "Bati a portas, andei, pedi apoios e nada", denunciou.

"Aqui não há aproveitamentos, não há plano de ação para os estudantes que terminaram e se apresentaram para começar a trabalhar", afirmou.

"Formados para ficar em casa"

Na visão do economista Sebastião Donquel, o não aproveitamento destes estudantes aumenta os gastos públicos.

"Mesmo mandando pessoas formar-se no exterior, nos diversos ramos da saúde e depois do seu regresso, o Governo novamente contrata a mão-de-obra de empresas cubanas para vir prestar serviços. Praticamente, se nós constatarmos a realidade aqui, vimos uma desvalorização do recurso humano no contexto angolano", comenta.

O economista alerta ainda para o valor que é gasto pelo Governo para formar estudantes em Cuba.

"O governo angolano gasta aproximadamente 46 milhões de dólares por ano para formar estudantes em Cuba e acredita-se que esse valor é muito mais alto", alerta.

"Esses estudantes são formados e o objetivo seria que eles viessem contribuir para o desenvolvimento do país; quando temos uma falha num determinado setor o objetivo é formar pessoas para a mitigar, mas a realidade de Angola é diferente, esses quadros são formados para ficar em casa", concluiu.

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