O general António Andrade acusa a PGR de violação da lei de busca e captura após receber uma ordem para deixar sua propriedade em Luanda. A residência de luxo é alvo de disputa judicial iniciada por um norte-americano.
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Em entrevista exclusiva à DW África, o general António Andrade, gestor da sociedade llico Comércio Geral e Prestação de Serviço, diz que a Procuradoria-Geral da República de Angola (PGR) agiu à margem da lei ao ordenar a busca e apreensão da sua propriedade.
A sua titularidade é disputada com um cidadão norte-americano, investidor da Africa Growth Corporation, que acusa o general de apropriar-se do imóvel. O caso já anda em tribunal há mais de um ano. Mas, no dia 1 do mês em curso, a Procuradoria-Geral da República ordenou o despejo do general angolano do imóvel, localizado na Ilha de Luanda.
Segundo o general, que diz ter a posse do edifício, o caso é uma "inversão de valores". "A Procuradoria tem a responsabilidade legal de ditar sentenças e sentenças públicas? Eu não queria trazer esse assunto a público, esperando que os órgãos de Justiça funcionassem como devem funcionar. Eu disse: 'se eles estão a usar essa arma contra mim, dessa forma, eu também a partir de agora vou usar as mesmas armas. Vou usar os medias e vou denunciar isso publicamente'", afirmou António Andrade.
A DW África tentou ouvir a PGR, mas sem sucesso. Entretanto, em comunicado divulgado na semana passada, a Procuradoria afirma que o prédio foi devolvido à empresa norte-americana.
"Usurpação de poderes"
Chamado a comentar, o jurista Agostinho Canando explica que "a PGR tem a competência de fiscalizar aplicação da lei, e que esta competência é extensiva até antes da fase inicial do processo".
"Se a PGR já na fase inicial orientar um despejo, dar uma opinião qualquer nesse caso, fazer sair despachos que têm por fim agravar ou resolver de forma definitiva o caso, estaríamos diante de usurpação de poderes", afirmou o jurista.
Contornos políticos
O caso começou a ganhar contornos políticos e está a ser apontado como possível inviabilizador do empréstimo de 4,5 mil milhões de dólares que o Governo de Luanda pretende contrair do Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo a imprensa norte-americana.
Angola: General acusa PRG de agir à margem da lei
Sobre isso, o general angolano na reserva, desabafa: "Eu nunca vi e não estou a ver que um caso de cidadão, um caso civil, põe em causa questões de Estado. Vão saber do FMI se realmente está a condicionar, se esta disputa com cidadão americano abre as portas para os fundos que Angola quer receber do FMI. O dinheiro que entrou aqui em Angola veio pelos bolsos do general Andrade? Quanto dinheiro entrou aqui? Que destino teve? A sociedade sabe".
Questionado sobre se está ser autuado pela Justiça angolana no âmbito da "cruzada contra a corrupção", anunciada pelo Presidente angolano, João Lourenço, o general Andrade responde que "não é criminoso" e diz que a Justiça conhece a origem dos valores investidos no imóvel.
"Então, que dissessem que a minha atitude tem a ver com corrupção. Então, primeiro provem que sou criminoso e digam esse criminoso tem o direito de ser julgado como todos os outros. Corrupção aonde? Impunidade aonde? Eles sabem de onde vieram os fundos. Eles têm que investigar".
António Andrade conclui dizendo que está a ser "crucificado" pelas autoridades. "Estou a ser intimidado e julgado onde não devia ser julgado. Não é na praça pública".
Sancionar os corruptos
Após a votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção", a ONG Transparência Internacional selecionou e anunciou esta quarta-feira (10.02) os 9 casos que passaram para a "Fase de Sanção Social".
Foto: picture alliance / AP Photo
Isabel dos Santos
Depois da votação pública dos 15 casos "mais simbólicos de grande corrupção" da Transparência Internacional, 9 casos foram destacados pela organização. A filha mais velha do Presidente angolano não faz parte, apesar dos 1418 votos. Segundo a TI, a seleção dos 9 foi baseada não só nos votos, mas também no impacto nos direitos humanos e na necessidade de destacar o lado menos visível da corrupção.
Foto: Nélio dos Santos
Teodoro Nguema Obiang
Conhecido pelo seu estilo de vida luxuoso, o filho do Presidente da Guiné Equatorial é, desde 2012, o segundo Vice-Presidente da República. A Guiné Equatorial é o país mais rico de África, per capita, apesar do Banco Mundial alegar que mais de 75% da população vive na pobreza. Teodoro somou apenas 82 votos e - como Isabel dos Santos - não foi nomeado para a fase de sanção social.
Foto: DW/R. Graça
Banco Espírito Santo
As suspeitas de corrupção do BES (Banco Espírito Santo) começaram quando o grupo financeiro português entrou em bancarrota em 2014. Foram descobertas fortes evidências de corrupção, fraude e lavagem de dinheiro. Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, já esteve preso e foi recentemente libertado sob fiança. O BES somou 193 votos e também não passou aos 9 maiores casos de grande corrupção do mundo.
Foto: DW/J. Carlos
Mohamed Hosni Mubarak
Presidente do Egito entre 1981 e 2011, Mohamed Hosni Mubarak somou 207 votos e encontra-se agora preso. Mesmo assim, não aparece na lista dos casos de grande corrupção que a Transparência Internacional quer sancionar socialmente. Também o comércio de jade do Myanmar e a China Communication Construction Company ficaram de fora com 47 e 43 votos, respetivamente.
Foto: picture-alliance/AP
Transparência Internacional
"Unmask the Corrupt" é um projeto da Transparência Internacional que após receber 383 submissões, nomeou os 15 casos mais simbólicos de corrupção. Após receberem mais de 170 mil votos, reduziram os 15 para 9 casos. A Transparency International quer promover uma campanha mundial para aplicar sanções sociais e políticas nestes exemplos de corrupção. A DW África mostra-lhe os 9 casos nomeados.
Estado americano de Delaware
O Estado norte-americano de Delaware está entre os 9 casos mais simbólicos de corrupção. O jornal The New York Times chegou mesmo a apelidar o Estado como "paraíso fiscal corporativo" pela possibilidades que oferece às empresas. Somou 107 votos. "Está na hora da justiça e das pessoas mostrarem o poder das multidões", afirmou em comunicado de imprensa José Ugaz da Transparência Internacional.
Foto: Getty Images/M. Makela
Zine al-Abidine Ben Ali
Com 152 votos está o ex-Presidente da Tunísia, que governou entre 1987 e 2011. É acusado de roubar mais de dois mil milhões de euros à população tunisina e de beneficiar amigos e companheiros a escapar à justiça. É conhecido pelo seu estilo de vida extravagante e saiu do Governo em 2011, na sequência de protestos nas ruas da Tunísia conhecidos como a Revolução de Jasmim ou Primavera Árabe.
Foto: picture-alliance/dpa
Fundação Akhmad Kadyrov
A Fundação Akhmad Kadyrov tem como fim o desenvolvimento social e económico da Chechénia. Mas é acusada de gastar as verbas a entreter e oferecer presentes a estrelas de Hollywood e para o benefício de Ramzan Kadyrov (na foto), presidente da região russa da Chechénia e filho do falecido Akhmad Kadyrov. Segundo a TI, Ramzan Kadyrov usou as verbas para comprar jogadores de futebol. Reuniu 194 votos.
Foto: imago/ITAR-TASS/Y. Afonina
Sistema político do Líbano
Com 606 votos, o sistema político no Líbano, nomeadamante o Governo, as autoridades e as instituições, encontram-se também na lista da Transparência Internacional. Segundo a filial libanesa da TI, a corrupção encontra-se em todos setores sociais e governamentais, existindo "uma cultura de corrupção" no país. Considera o Líbano um país "muito fraco" em termos de integridade.
Foto: picture-alliance/dpa
FIFA - Federação Internacional de Futebol
A Federação Internacional de Futebol, mais conhecida como FIFA, é acusada de ultrajar milhões de fãs. Os respoonsáveis pelos cargos mais elevados são acusados de roubar milhões de euros e estão a ser analisados 81 casos suspeitos de branqueamento de capitais um pouco por todo o mundo. Há suspeitas que várias eleições de países anfitriões de mundiais de futebol foram manipuladaa. Conta 1844 votos.
O senador da República Dominicana conta 9786 votações. Foi acusado de branqueamento de capitais, abuso de poder, prevaricação e enriquecimento ilícito no valor de vários milhões de dólares. Bautista já esteve em tribunal, mas nunca foi considerado culpado, o que originou vários protestos por parte da população dominicana.
Foto: unmaskthecorrupt.org
Ricardo Martinelli e companheiros
É ex-Presidente do Panamá e empresário. Ricardo Martinelli terminou com 10166 votos e possui atualmente uma rede de supermercados no país, entre outras empresas. Está envolvido numa polémica de espionagem política durante o seu mandato entre 2009 e 2014, utilizando alegadamente dinheiros públicos. Tem outras acusações em tribunal, incluindo vários crimes financeiros e subornos e perdões ilegais.
Foto: Getty Images/AFP/J. Ordone
Petrobras
A petrolífera Petrobras, empresa semi-estatal brasileira, ficou em segundo lugar com 11900 votos. As acusações de subornos, comissões e lavagens de dinheiro de mais de dois mil milhões de euros, conduziram, alegadamente, o Brasil a uma profunda crise política. O caso envolve mais de 50 políticos e 18 empresas. A população brasileira já protestou várias vezes nas ruas para exigir justiça.
Foto: picture alliance/CITYPRESS 24
Viktor Yanukovych
O ex-Presidente da Ucrânia foi o mais votado. Acumulou 13210 acusações e é acusado de "deixar escapar" milhões de ativos estatais em mãos privadas e de ter fugido para a Rússia antes de ser acusado de peculato. Yanukovych começou o seu mandato em 2010, foi reeleito em 2012 e cessou as suas funções no ano de 2014, quando foi destituído após vários protestos populares.