Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF) angolano deverá anunciar ainda esta semana se vai ou não continuar com a greve, que começou na segunda-feira.
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Representantes do Ministério da Educação angolano e dos grevistas reuniram-se esta terça-feira (10.04) durante sete horas. Após o encontro, a secretária-geral do Sindicato Nacional dos Professores (SINPROF), Hermínia do Nascimento, referiu que houve progressos.
"No essencial, o encontro de hoje registou avanços significativos, nomeadamente a elaboração de um cronograma de ação num período de tempo razoável, tendo em atenção o tempo de vigência do nosso caderno reivindicativo e as expetativas da classe", afirmou.
Professores anunciam esta semana se suspendem greve
Segundo a sindicalista, os afiliados do SINPROF deverão ser consultados ainda "no decorrer desta semana" sobre a suspensão da greve. Hermínia do Nascimento diz que tanto o SINPROF como o Ministério da Educação estão preocupados com a situação.
Nenhum representante governamental falou à imprensa. Uma fonte do Ministério informou, apenas, que o resultado do diálogo desta terça-feira será apresentado ao Executivo.
De acordo com o SINPROF, a greve visa demonstrar a "insatisfação" dos professores pela não aprovação do novo estatuto da carreira docente, bem como rejeitar a estratégia do Ministério da Educação de periodizar o concurso público de admissão de novos educadores em detrimento da atualização dos que já estão em serviço.
"As pessoas estão cansadas de ouvir promessas", disse o presidente do SINPROF, Guilherme Silva. "Rejeitamos a estratégia de contratar primeiro os novos professores e só depois atender à atualização da sua categoria. A questão dos subsídios de isolamento também deve ser atendida."
O salário de um professor angolano ronda os 49.000 kwanzas (182 euros), valor considerado insignificante num país onde o custo de vida é alto.
"O professor precisa de ter um salário para trabalhar tranquilamente, para ter uma vida digna", sublinhou Silva.
O presidente do SINPROF diz que a greve superou as expetativas e frisa que a sua suspensão dependerá da "boa vontade" das autoridades angolanas.
Esta quarta-feira, a greve entra no terceiro dia. As escolas estão sem professores, apesar da presença dos alunos nos recintos escolares.
"Acaba de me matar": jovens angolanos protestam contra o Governo nas redes sociais
Devido à falta de estrutura para lidar com os efeitos da chuva, pelo menos dez pessoas morreram em Luanda. Esta situação levou os cidadãos a iniciarem no Facebook uma onda de protestos denominada "Acaba de me matar".
Foto: Guenilson Figueiredo
Perdas após mau tempo
A morte de uma criança de quatro anos desencadeou a onda de protestos nas redes sociais, com os cidadãos a partilhar imagens fingindo-se de mortos e com a mensagem "Acabam de nos matar", uma forma de repudiar a não resolução dos problemas da população por parte do Governo. Ariano James Scherzie, 19 anos, participou na campanha que rapidamente se tornou viral.
Foto: Ariano Scherzie
Sonhos estão a morrer
Botijas de gás, livros, computadores e blocos de cimento estão entre os objetos usados pelos jovens para protestar contra o que dizem ser más políticas públicas. Indira Alves, 28 anos, lamenta a situação do seu país. "Estou a morrer. Desde as condições de vida até aos sonhos, não é possível o que temos vivido nesta Angola", conta a jovem que abandonou os estudos para trabalhar.
Foto: Indira Alves
Chamar atenção das autoridades
Anderson Eduardo, 24 anos, quis "atingir pacificamente a atenção de alguém de direito a fim de acudir-nos". Decidiu participar no protesto devido ao descontentamento com a governação em Angola. "Eles nos pedem para apertar o cinto, se contentar com o bem pouco, e ao mesmo tempo tudo sobe de preço, alimentos, vestuários, electrodomésticos, e o salário não sobe”, conta o engenheiro informático.
Foto: Anderson Eduardo
Em nome dos colegas e pacientes
Cólua Tremura, 24 anos, conta o porquê de ter participado no protesto: "A minha motivação foram os meus colegas que cancelaram a faculdade por causa da crise, os colegas que morreram antes de realizarem o sonho de serem médicos, os pacientes que apenas vão ao hospital quando estão graves. Acredito que [o protesto] não alcançou os resultados previstos, que era chamar a atenção do Governo".
Foto: Cólua Tremura
Sem reações
Lucas Nascimento, 20 anos, viu no mau tempo e na falta de estrutura razões para aderir ao protesto. O jovem quis dar apoio a uma jovem da região que perdeu a casa num desabamento provocado pelo mau tempo. "Acaba de me matar quer dizer que nós já estamos mal e o Governo está acabando de nos matar", explica. "Até aqui, não notamos nenhuma reação do Governo, talvez possa ser ignorância ou desleixo".
Foto: Lucas Nascimento
Falta justiça
Guenilson Figueiredo, 20 anos, entrou na onda de protestos e teme as consequências que ela pode trazer aos cidadãos que participaram. "Não posso falar muito sobre este protesto, porque nós vivemos num país onde a justiça só funciona contra os pobres".