Na província angolana do Kwanza Norte, as grávidas não têm acesso aos serviços de ecografias e hemoterapia do Hospital Materno Infantil daquela província. Motivo: falta de recursos humanos.
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A situação deve-se a falta de recursos humanos no Hospital Materno Infantil do Kwanza Norte, segundo avançou à DW África, o próprio diretor clínico da instituição, Fidel João Hebo.
"Serviços inoperantes. Temos apenas um serviço em funcionamento, porque temos falta de recursos humanos, sobretudo especialistas em imagemologia, um médico para responder então a sala de ecografia", explicou Hebo, que garante que o hospital já está a fazer contactos para resolver o problema ainda este ano.
A situação está a inquietar as pacientes que diariamente procuram esses serviços médicos num hospital construído especificamente para consultas e tratamentos médicos de mulheres e crianças dos zero aos cinco anos de idade.
Angola: Grávidas sem acesso a ecografia e hemoterapia no Kwanza Norte
Situação das gestantes
Maria Francisco teve bebé há cerca de um mês e considera crítica a situação. Ela lamenta ainda as dificuldades que as gestantes enfrentam, porque têm sido obrigadas pelos médicos a fazer as ecografias fora dos hospitais públicos, onde o exame é gratuito. Nas clínicas privadas o exame custa cerca de dois mil Kwanza, o equivalente a quatro euros - o que sai caro para a maioria das pacientes.
"Antes, tínhamos um doutor que fazia exames de ecografia no hospital materno infantil, mas neste momento não temos médico para fazer ecografia", relata Maria Francisco que apela: "a direção [do hospital] tem de arranjar um médico para fazer ecografia, porque os dois mil Kwanza que nós gastamos para ir fazer o exame [lá fora] é muito caro para nós. Há mamãs que não têm mesmo esses dois mil Kwanza, mas o hospital exige a ecografia. Aonde elas vão tirar?"
Isilda Pedro está grávida de seis meses. Ela sabe da importância da ecografia e queixa-se do mesmo problema: o alto preço do exame. E por isso solicita a resolução urgente da falta de profissionais "para o bem das mães".
"Pode ser que o bebé precise mesmo de uma ecografia, para saber das condições do bebé dentro da barriga da mãe”, diz a grávida, que indigna-se: "caso seja preciso este exame, aconselham sempre a ir a um posto médico ou à uma clínica, onde o exame custa dois mil Kwanza, por isso, que lutem logo para resolver este problema".
Hemoterapia também enfrenta problemas
Entretanto, um outro serviço que também enfrenta dificuldades é o de hemoterapia. O diretor clínico Fidel João Hebo, contou à DW África o quão difícil tem sido o dia-a-dia naquele setor do hospital.
Segundo Hebo, a direção encontra-se "amarrada" em relação à hemoterapia. "Sempre costumo a dizer que o sangue não se compra na praça, sangue só se encontra no corpo humano, e sempre pedimos à sociedade civil no sentido de ocorrer ao nosso hospital a fim de responder às campanhas de doação de sangue, mas nem sempre os cidadãos vêm", explica.
Ainda de acordo com o diretor clínico do Hospital Materno Infantil do Kwanza Norte, a demanda de pacientes que precisam de sangue às vezes é maior do que as doações. "Sobretudo na área de pediatria, em que temos tido mais ou menos quinze internamentos a cada 24 horas, e destes [pacientes] se calhar quatro, cinco, seis, sete precisam de sangue, mesmo que tivéssemos um estoque, na verdade também estaria esgotado", revela Fidel João Hebo, que apela aos cidadãos para doarem sangue.
Os médicos cubanos no mundo
Os profissionais de saúde cubanos saíram do Brasil, mas ainda trabalham em mais de 60 países do mundo, entre eles todos os países africanos de língua oficial portuguesa. Conheça aqui as missões mais importantes.
Foto: picture-alliance/dpa/W. Kenji
Cuba deixa o Brasil e o programa "Mais Médicos"
Depois de cinco anos de parceria entre Cuba e o Brasil, o governo cubano decidiu retirar os seus médicos do Brasil em finais de 2018. A decisão foi tomada devido às alterações nos termos de cooperação sugeridas pelo Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro. Más os médicos cubanos ainda trabalham em mais de 60 países no mundo.
Foto: Agência Brasil/José Cruz
Em Angola: a sanar e a ensinar
A cooperação entre Cuba e Angola começou em 1975, logo após a independência angolana. Os médicos cubanos em Angola ajudam a combater doenças, mas nas faculdades de medicina professores cubanos têm um papel importante na formação de pessoal de saúde. Em 2015, segundo o Governo angolano, 42% dos médicos no país eram cubanos. Mas muitos deixaram Angola após a quebra das receitas de petróleo.
Foto: Reuters/S. Eisenhammer
Tempestade tropical em Honduras
Uma médica cubana vacina uma criança hondurenha. Em 1998, o furacão Mitch passou pela América Central, causando a morte de 11.000 pessoas. Somente em Honduras foram 7.000 vítimas do que é considerado o furacão mais mortífero que jamais passou pela região.
Foto: picture-alliance/dpa
Furacão Katrina nos Estados Unidos da América
Em 2005, o furacão Katrina passou pela região litoral do sul dos EUA e atingiu principalmente a região metropolitana de Nova Orleães. 1.500 médicos cubanos reuniram-se em Havana para preparar-se para uma missão humanitária, mas a oferta foi rejeitada pelo governo norte-americano. O furacão causou mais de 1.800 mortes e mais de um milhão de pessoas tiveram que ser evacuadas.
Foto: picture-alliance/dpa
Terramoto no Paquistão
No ano de 2005, um terramoto matou 86.000 pessoas na Caxemira, uma região no norte do Paquistão. Cerca de 3,5 milhões de pessoas ficaram sem casa. Os médicos cubanos ajudaram os danificados.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Hattori
Surto de cólera no Haiti
Em 2010, aproximadamente 200.000 pessoas no Haiti infectaram-se com cólera, segundo as Nações Unidas. A cólera é uma infecção do intestino que se transmite facilmente através de água sem tratamento para o uso humano. Tal como aconteceu no Haiti, um país que em janeiro de 2010 sofreu terramoto. Também ali não faltaram os médicos cubanos.
Foto: picture-alliance/dpa
Surto de ébola na África Ocidental
Em 2014, quando o surto de ébola ameaçava muitas zonas da África Ocidental, os médicos cubanos também não ficaram de braços cruzados. Aqui vemos à enfermeira Dalila Martinez, treinadora da equipa médica cubana em Havana para a missão na Serra Leoa. Desde que começou em 2013 o surto, a ébola matou cerca de 27.000 pessoas na África Ocidental e no mundo, a maioria delas na Libéria e na Serra Leoa.
Durante a missão humanitária na Serra Leoa em 2014, um dos médicos cubanos foi infectado com ébola. O doutor Félix Baez Sarria foi transportado para um hospital na Suiça e sobreviveu. Depois voltou à Serra Leoa para continuar a combater o surto de ébola.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Julien Gregorio, Geneva University Hospital
Mais médicos ou menos médicos?
Em 2018, um cartaz na entrada dum ambulatório em Itaquaquecetuba no estado de São Paulo, Região Sudeste do Brasil, avisa que o programa "Mais Médicos" foi encerrado. Os mais de 8.300 profissionais de saúde cubanos que trabalhavam no Brasil já regressaram a ilha de Cuba.