Continua a onda de solidariedade mundial para com as vítimas do ciclone Idai em Moçambique. Com o envio de bens e apoio financeiro, Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde procuram devolver a esperança aos que mais sofrem.
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Angola apoia Moçambique com mais de 50 toneladas de medicamentos e material, bem como médicos e forças de segurança. Os técnicos angolanos estão concentrados no distrito de Dondo, província de Sofala, uma região que fica a 30 quilómetros da cidade da Beira, a mais devastada pelo ciclone.
Para além dos recursos humanos e materiais disponibilizados pelo Governo angolano, outras instituições públicas e privadas também levam a cabo uma campanha de angariação de bens não perecíveis para ajudar as milhares de pessoas que precisam de ajuda humanitária. É o caso da Universidade Católica de Angola (UCAN) e a Televisão Pública de Angola (TPA).
Manica: Milhares de desalojados devido a ciclone Idai
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"Todos os angolanos, de uma forma geral, estao mobilizados para ajudar Moçambique. Moçambique é um país irmão e hoje está a viver uma situação muito difícil, uma situação de calamidade", afirma Kabingano Manuel, diretor de marketing da estação pública angolana.
Cabo Verde também colocou à disposição fuzileiros navais, quatro médicos e seis enfermeiros e um apoio financeiro anunciado pelo governo cabo-verdiano de 200 mil dólares (cerca de 176 mil euros).
O governo da Guiné-Bissau mostrou-se também solidário para com as vítimas do ciclone Idai e ofereceu 50 milhões de francos RFA (100 mil dólares).
Solidariedade africana
O professor universitário angolano Osvaldo Mboco enaltece a ajuda prestada pelos Países Africanos de Língua oficial Portuguesa (PALOP). "O apoio que está a ser levado a cabo demonstra claramente um espírito de solidariedade africana que durante muito tempo norteou o continente e é importante que os países africanos sejam solidários com um outro país que foi fustigado por um ciclone daquela dimensão, em que várias pessoas que infelizmente perderam a vida", destaca.
Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde solidários com Moçambique
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O analista lembra que, nesta altura, todo o apoio ao país do Índico é bem-vindo e sublinha a iniciativa da Guiné-Bissau que, mesmo estando a sair de uma crise, prestou ajuda ao povo moçambicano. "A Guiné-Bissau, independentemente das dificuldades, não poderia estar aquém do sofrimento de outrem e de um país irmão, de um país próximo, de um país africano."
"Independentemente da quantia que os Estados estão a disponibilizar", salienta ainda Osvaldo Mboco , "o mais importante é o espírito de solidariedade que sempre caracterizou aquilo que é a afro-identidade africana, o pan-africanismo."
Benguela também precisa de ajuda
Alguns cidadãos criticam nas redes sociais ajuda prestada por Angola a Moçambique alegando existirem também vítimas das chuvas na província angolana de Benguela, a sul do país. Osvaldo Mboco não compara a situação em Angola com a da cidade da Beira, mas apela ao governo para que dê mais apoio às famílias sinistradas.
No último dia 16 deste mês, 16 pessoas, entre as quais quatro crianças, morreram na sequência do forte temporal que se abateu sobre as cidades do Lobito, Catumbela e Benguela.
"Não podemos menorizar a situação de Benguela, também houve perda de vidas humanas. O Estado angolano também deve apoiar as vítimas. Criar condições para que essas situações não voltem ocorrer", apela.
Ciclone Idai: Crise humanitária no centro de Moçambique
Pelo menos 447 pessoas morreram e centenas de milhares ficaram desalojadas devido a ciclone Idai. É a "pior crise humanitária na história recente de Moçambique", diz a Cruz Vermelha. Autoridades temem eclosão de doenças.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Tragédia em Moçambique
Todos os dias continuam a chegar pessoas a centros de acolhimento, todos os dias são anunciados mais mortos no centro de Moçambique. A extensão dos danos provocados pelo ciclone Idai ainda não é totalmente conhecida. O último balanço das autoridades aponta para, pelo menos, 447 mortos e centenas de milhares de pessoas afetadas.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Vítimas esperam e desesperam
Há pessoas nos telhados à espera de ajuda, mais de uma semana depois da passagem do ciclone Idai. E a ajuda muitas vezes "não chega", diz Anabela Lemos, da organização não-governamental moçambicana Justiça Ambiental. "O povo precisa de uma resposta de emergência agora mesmo para sobreviver a esta crise", conclui.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Destruição
O ciclone Idai destruiu uma área superior a 3.000 quilómetros quadrados (cerca de dez vezes a área da cidade de Maputo), estimam as autoridades moçambicanas. Dezenas de milhares de casas ficaram destruídas. O ciclone destruiu ainda estradas e pontes, e árvores e postes caíram nas vias, impedindo a circulação de veículos.
Foto: Reuters/M. Hutchings
"Emergência de mais alto nível"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas diz que a situação no centro de Moçambique é "uma emergência de mais alto nível". A Beira foi a cidade mais afetada. O Governo e organizações não-governamentais têm distribuído ajuda à população. O PAM já deu assistência alimentar de emergência a mais de 115 mil pessoas. Mas as vítimas continuam a alertar que falta comida.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Acesso a comida e água potável
A diretora-executiva da UNICEF Portugal alertou que a situação em Moçambique é "avassaladora". Segundo Beatriz Imperatori, há "milhares de crianças desamparadas e que necessitam de apoio alimentar, de abrigo e de condições de saneamento com caráter de urgência". Helicópteros lançam biscoitos energéticos em zonas isoladas pelas águas. A falta de acesso a água potável é também uma preocupação.
Foto: Reuters/Josh Estey/Care International
Receio de eclosão de doenças
As autoridades temem a eclosão de doenças devido às águas paradas e à falta de saneamento básico. Daviz Simango, edil da Beira, disse em entrevista à agência de notícias Lusa que há registo de várias mortes com sintomas de cólera. E teme-se um "pico" de casos de malária. A Organização Mundial de Saúde aprovou o envio para a região de 900 mil vacinas orais contra a cólera. E são precisas latrinas.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Extensão das inundações
A vermelho é possível ver a extensão das inundações na zona da Beira. A UNICEF alerta que os países afetados pelo ciclone Idai - Moçambique, Zimbabué e Malawi - não conseguem dar conta dos estragos. Por isso, as Nações Unidas pedem que os apoios externos sejam canalizados para a reconstrução de infraestruturas e para o "repensar da economia", diversificando as fontes de rendimento dos cidadãos.
Foto: ESA
Resgate e apoio financeiro
As operações de resgate continuam para encontrar sobreviventes do ciclone em zonas remotas. As Nações Unidas pediram 282 milhões de dólares para apoiar Moçambique nos próximos três meses - para água potável, saneamento, educação e reabilitação dos meios de subsistência dos populares.
Foto: Getty Images/AFP/M. Vermaak
Esforço conjunto
Todos os dias, pessoas são resgatadas. Camiões tentam levar ajuda humanitária a quem precisa, apesar das más condições das estradas na cidade da Beira. Há também um esforço para reconstruir esta localidade o mais depressa possível: a autarquia da Beira autorizou a reconstrução de casas e infraestruturas destruídas pelo ciclone Idai, sem ser necessária uma licença prévia das autoridades.
Foto: pictur- alliance/AP Photo/CARE/J. Estey
Gestão da ajuda às vítimas
A Cruz Vermelha diz que está a ser montado um hospital de campanha na Beira e há outro a chegar. Deverá também chegar um sistema de saneamento e uma unidade de purificação de água para milhares de pessoas. A cidade tem recebido ajuda um pouco de todo o lado. O Centro de Integridade Pública pede que a sociedade civil ajude a gerir os apoios às vítimas do ciclone Idai, para garantir transparência.