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Angola: Homem agredido por não usar máscara no Huambo

José Adalberto (Huambo)
22 de setembro de 2020

Um cidadão terá sido agredido por membros da Polícia Nacional de Angola, no Huambo, depois de ser detido por não usar máscara. Autoridades não têm registo da detenção, mas dizem estar a investigar o caso.

Foto ilustrativa de agentes da polícia em LuandaFoto: AFP/O. Silva

Gomes Cassinda foi alegadamente espancado no passado dia 15 de setembro, no Huambo, por agentes da Polícia Nacional de Angola. A agressão aconteceu quando o cidadão regressava a casa, no bairro Calobrinco, na companhia de dois amigos. Os três homens foram abordados por membros da polícia por não usarem máscara de proteção individual.

Gomes Cassinda diz que tanto ele como os amigos reconheceram a infração, sendo que os seus dois companheiros foram libertados assim que pagaram uma multa de cinco mil kwanzas (cerca de sete euros). No entanto, Gomes Cassinda não dispunha de dinheiro para pagar a coima, tendo sido encaminhado para a esquadra.

Foto: José Adalberto/DW

"O senhor polícia, com um chicote de luz, aquele que dentro tem alguns fios, mandou-me deitar e começou a bater-me. Descansou um pouco, porque estava um pouco cansado, e mais tarde continuou a bater-me. Depois colocou-me na cela onde passei a noite e, no dia seguinte, chamou-me e disse para ir para casa", relatou Gomes Cassinda à DW África.

Polícia não tem registo da detenção

O diretor do Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa da Delegação do Ministério do Interior no Huambo, Martinho Cavita, disse à DW África que a Polícia Nacional da província tomou conhecimento do sucedido através de uma denúncia. No entanto, não há qualquer registo da passagem de Gomes Cassinda na quarta esquadra do Huambo.

"Se aconteceu o que aconteceu, foi uma ação fortuita. Lamenta-se o facto", disse Martinho Cavita. "Apesar de não haver registo da passagem dele na esquadra, ainda assim é uma preocupação da corporação que ele se recupere o mais rapidamente possível", frisou.

"[Espero] que ele nos ajude para que consigamos identificar o eventual agente que esteja envolvido neste ato", concluiu.

Abordagem pedagógica

Gomes Cassinda diz estar ao corrente da obrigatoriedade do uso de máscara de proteção individual na via pública em Angola, mas considera que os órgãos de segurança deveriam optar por uma postura mais pedagógica na abordagem feita aos cidadãos.

Manifestação em Luanda, em meados de setembro, contra a violência policial em AngolaFoto: DW/M. João

"Sabemos que estamos em tempos de Covid-19, mas não deveria ser assim deste jeito. Como me bateram com o cabo de energia, estou mesmo mal", lamenta.

O soba do bairro Calobrinco, Aurélio Belchior, repudia a atitude dos agentes. "Os polícias cometeram um erro. Não se deve bater. Quando o cidadão não tem dinheiro para pagar a multa, deve-se colocá-lo na cadeia durante dois ou três dias e depois libertá-lo", considera.

Violência policial durante a pandemia

A ONG angolana OMUNGA e a Amnistia Internacional denunciaram num relatório divulgado em agosto o assassinato de pelo menos sete adolescentes durante o estado de emergência. Segundo o documento, foram vítimas da violência exercida pelas forças de segurança angolanas entre maio e julho.

Já no início deste mês de setembro, a polícia foi acusada de matar um médico que seguiu dentro do seu veículo automóvel sem máscara, um caso que despertou a indignação pública. Na altura, as autoridades anunciaram uma sindicância para averiguar as circunstâncias da morte do médico levado para uma esquadra por não usar máscara.

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