Comissão instaladora do PODEMOS-JA considera "má-fé“ associar o nome de Abel Chivukuvuku ao surgimento da nova formação política. Analista defende que acórdão do tribunal impede crescimento da CASA-CE.
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Na semana passada,o acórdão do Tribunal Constitucional angolano interditou o líder da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) de formar um novo partido político no país, dando provimento a um pedido de esclarecimento de cinco das seis forças da coligação.
Segundo o acórdão, as decisões de Abel Chivukuvuku, enquanto presidente da CASA-CE, não podem sobrepor-se aos partidos coligados, como criar formações dentro da coligação, esvaziando também o papel dos chamados "independentes" que integram a coligação, concluindo que não podem fazer parte do Conselho Presidencial.
Angola: Interdição do Constitucional a novo partido é "má fé"
Fala-se de uma pretensão de Abel Chivukuvuku em criar dois partidos políticos: o Podemos-Juntos por Angola (PODEMOS-JA) e o Desenvolvimento Inclusivo de Angola (DIA), que o Tribunal Constitucional não considera possível, uma vez que "os cidadãos ditos independentes não podem criar partidos dentro da CASA-CE, por esse ato ser ilegal".
O conflito nos bastidores da CASA-CE começou quando foi tornado público o surgimento de formações políticas dentro da coligação, com a finalidade de congregar os militantes que não estão filiados nos partidos que constituem a Convergência Ampla de Salvação de Angola.
No ano passado, quando o projeto PODEMOS-JA foi apresentado, o presidente da CASA-CE negou à imprensa ser membro do mesmo. Mas alguns líderes de outros partidos dentro da coligação acreditam que Abel Chivukuvuku é o mentor destas formações políticas.
"Interpretação errada"
Em declarações à DW África, o coordenador da Comissão instaladora do Podemos-JA, Américo Chivukuvuku minimizou a decisão do acórdão alegando que há uma interpretação errada do caso.
"Não é um problema de vida ou morte. Porque o processo está a decorrer junto do Constitucional. Uma coisa é o presidente da CASA-CE e outra coisa é a comissão instaladora dos PODEMOS-JA. São duas coisas diferentes. Os que estão na comissão instaladora são pessoas conhecidas, o resto são interpretações e acusações ", explicou Américo Chivukuvuku.
O político acrescenta que há outros objetivos por trás da decisão do Tribunal e também das reclamações de outros partidos que formam a terceira força política em Angola.
"Quem está a criar [os partidos] têm nome. Se deixam de parte os que estão a criar e vão acusar outras pessoas, é má-fé, e até pode ter outros objetivos. O que estão a criar o partido têm nome e o sou o coordenador. Américo Chivukuvuku é uma coisa e Abel Chivukuvuku é outra coisa”, afirmou.
Américo Chivukuvuku defende que ele e o irmão podem ter posições políticas distintas e informou que irá fazer um pronunciamento oficial em breve.
Lei não impede formação de partido, diz analista
Para o analista político angolano Augusto Báfua Báfua, na Constituição da República e na lei dos partidos políticos não há artigos que impedem estes militantes de criarem um outro partido. O analista defende que esta decisão do Constitucional "impossibilita o crescimento da CASA-CE”, na medida em que impede a coligação de tornar-se um partido, algo que fazia parte do projeto inicial desta formação política.
"Parece-me um pouco forçado este impedimento. Sendo coordenador da coligação, uma vez que a coligação é a soma das partes, não vejo como é que não se pode ser presidente de um partido ou criar um partido político, se, ironicamente, o Presidente da República pode ser presidente de um partido político. Como é que o presidente de uma coligação não pode se tornar presidente de um partido político?”, questiona Báfua Báfua.
O analista defende ainda que a posição de Abel Chivukuvuku não está enfraquecida na CASA-CE.
"O maior risco que pode acontecer é a própria coligação colidir. Ou se os partidos em criação, coadjuvado pelo Bloco Democrático (BD) ou um outro partido se fundirem e criarem uma outra coligação, deixando os quatro partidos fundadores da CASA-CE enfraquecidos”, alertou.
Friedensdorf em Angola
A Friedensdorf começou a viajar até Luanda há duas décadas para recolher crianças doentes para tratamento médico na Alemanha e levar de volta outras já recuperadas. A 56ª ação de ajuda aconteceu em 2014.
Foto: DW/M. Sampaio
20 anos de ajuda a crianças doentes
Já passaram duas décadas desde que a Friedensdorf International começou a viajar até Luanda para recolher crianças doentes para tratamento médico na Alemanha e levar de volta outras já recuperadas. Desde a sua criação, há 47 anos, a organização não-governamental já ajudou crianças doentes de mais de 50 países, incluindo cerca de 3 mil crianças angolanas. Em 2014, aconteceu a 56ª ação de ajuda.
Foto: DW/M. Sampaio
Ritmos angolanos na despedida
Kuduro e outras danças angolanas são uma constante na festa de despedida que a Friedensdorf organiza na sua sede em Oberhausen, no centro-leste da Alemanha, antes da partida para Angola das crianças já recuperadas. Depois de várias operações e tratamentos, as crianças estão ansiosas por voltar à terra natal e rever a família. Mas os amigos que fizeram na Alemanha também vão deixar saudades.
Foto: DW/M. Sampaio
Experiência única
Para casa as crianças levam também uma experiência única, afirma Hannah Lohmann, porta-voz da Friedensdorf. “Neste momento, temos connosco meninos e meninas de nove países. São cristãos e muçulmanos, brancos e negros, africanos e asiáticos. Em comum têm o facto de todos terem vindo para a Alemanha para se curarem e isso cria uma ligação entre eles, que ultrapassa fronteiras e idiomas”, explica.
Foto: DW/M. Sampaio
Regresso azul
Quando regressa, cada criança recebe um saco azul de desporto, onde, além de roupa e medicamentos, cabem pequenos presentes que elas mesmas fizeram para a família e lembranças da estadia na Alemanha – brinquedos em madeira ou saquinhos de pano feitos à mão, por exemplo. Partem do Aeroporto de Düsseldorf, num avião fretado pela Friedensdorf. A bordo segue uma equipa da ONG, que inclui um médico.
Foto: DW/M. Sampaio
Luanda à vista
Depois de quase dez horas de voo, o avião aterra finalmente na capital angolana. À espera no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, costumam estar dois membros da ONG alemã, que viajam mais cedo para o país para tratar das formalidades da nova leva de doentes, e uma equipa da organização parceira angolana Kimbo Liombembwa, versão kimbundu da "Aldeia da Paz".
Foto: DW/M. Sampaio
Reencontro familiar
Do aeroporto as crianças que regressam da Alemanha seguem depois para a sede da Kimbo Liombembwa, um pequeno espaço situado no Hospital Pediátrico Dr. David Bernardino. É aqui que são oficialmente entregues aos pais, que voltam a abraçar os filhos depois de vários meses de ausência. A separação não é fácil, mas os resultados compensam, reconhecem muitos pais.
Foto: DW/M. Sampaio
Perda de Rosalino Neto
A Friedensdorf e a Kimbo Liombembwa lamentam a perda do médico Rosalino Neto, que dirigia a organização parceira. O fundador da Ordem dos Médicos de Angola morreu em junho passado, aos 63 anos, vítima de doença prolongada. Acompanhou as operações de ajuda desde o início e esteve várias vezes na Alemanha. As primeiras crianças chegaram à Alemanha em 1994, durante a guerra civil que durou 27 anos.
Foto: DW/M. Sampaio
Últimas recomendações
No dia da entrega das crianças aos pais, a equipa da Friedensdorf faz sempre um resumo dos tratamentos médicos realizados e deixa também uma série de recomendações. Muitas vezes é preciso continuar os exercícios de fisioterapia em casa ou trocar os sapatos ortopédicos quando estes deixarem de servir. Durante muitos anos, o médico Rosalino Neto traduziu as explicações da ONG aos pais.
Foto: DW/M. Sampaio
Alemanha, a última esperança
A Alemanha é a última esperança para muitos angolanos. O conflito no país terminou há 12 anos, mas a colaboração continua. Se antes se tratavam ferimentos causados pela guerra, hoje as doenças são causadas pela pobreza. A mortalidade infantil é uma das mais altas do mundo e metade da população vive abaixo do limiar da pobreza. O crescimento económico e os petrodólares não se refletem na saúde.
Foto: DW/M. Sampaio
Diagnósticos problemáticos
Os problemas de saúde das crianças são de vários tipos: infeções ósseas, malformações congénitas, queimaduras graves, luxações, fraturas expostas, subnutrição. Algumas sofreram acidentes e não foram devidamente tratadas na altura. E os pequenos corpos escondem também outros problemas não visíveis. Diagnósticos precisos sobre o seu estado de saúde também são um problema, segundo a Friedensdorf.
Foto: DW/M. Sampaio
Kimbo Liombembwa
Criada há 13 anos, a organização parceira angolana tem equipas de voluntários por todo o país para identificar crianças com doenças que não podem ser tratadas localmente. Já foram beneficiadas cerca de três mil crianças de várias regiões de Angola. A viagem das províncias até Luanda chega a durar três dias. Para as ações de ajuda a “Aldeia da Paz” conta também com o apoio da Embaixada da Alemanha.
Foto: DW/M. Sampaio
Comunicação sem fronteiras
A maior parte das crianças não sabe falar alemão, mas a comunicação não é um problema. "Sabemos algumas palavras em português, como 'tá fixe'. E quando querem ir à casa de banho, xixi todos entendem!", explica a porta-voz da Friedensdorf. Além disso, as crianças comunicam por sinais. A bordo costumam também seguir crianças que viajam para a Alemanha pela segunda vez e que servem de tradutoras.
Foto: DW/M. Sampaio
Ciclo da ajuda continua
No Aeroporto de Luanda, dois autocarros transportam as crianças até ao avião. Durante a viagem, redobram-se os cuidados com os novos pacientes. Quando chegam à Alemanha, os casos mais graves são imediatamente encaminhados para os hospitais. As restantes crianças seguem para a Friedensdorf, em Oberhausen. O ciclo da ajuda não fica por aqui. A próxima viagem já está agendada para maio de 2015.