Depois dos políticos e membros do MPLA, são os jornalistas o alvo das críticas da filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos nas redes sociais. Classe aconselha empresária a evitar guerra com a imprensa.
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A empresária angolana Isabel dos Santos usa cada vez mais as redes sociais para criticar tudo e todos. Primeiro, começou por fazer críticas a membros do Governo e do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido no poder. As críticas de Isabel dos Santos subiram de tom quando José Eduardo dos Santos deixou a Presidência da República.
Em janeiro deste ano, a empresária angolana acusou Manuel Augusto, ministro das Relações Exteriores, de estar a promover o Presidente da República João Lourenço, a presidente do MPLA, que é liderado pelo pai.
Agora, as baterias viram-se contra os jornalistas, que a filha do ex-Presidente classifica como mentirosos e corruptos, nomeadamente, por publicarem artigos sobre a sua gestão na petrolífera estatal Sonangol.
Angola: Isabel dos Santos em guerra com os jornalistas
Em março, Isabel dos Santos acusou o Jornal de Angola de "manter os angolanos mal informados", respondendo às notícias sobre uma rejeição da proposta de José Eduardo dos Santos, na transição na liderança do Movimento Popular de Libertação de Angola.
Afinal, o que se passa com a engenheira Isabel dos Santos? "Vai partilhando algumas coisas nas redes sociais com alguma forma pejorativa de tratar os profissionais, muitos deles com prestígio granjeado. Ninguém venceu a guerra contra a imprensa", responde o jornalista Felix Abias, que fez um trabalho sobre a relação entre os jornalistas e a empresária.
A "mais rica de África" e o "maior mentiroso da SADC"
A ex-presidente do Conselho de Administração da petrolífera estatal Sonangol criticou e acusou de perseguição jornalistas como Gustavo Costa, do semanário português Expresso, e Rafael Marques, do site Maka Angola.
Na lista dos visados constam ainda Vitor Silva, diretor do Jornal de Angola, e o jornalista Ismael Mateus, membro do Conselho da República. E nem o sociólogo Paulo de Carvalho foi poupado.
O último a ser chamado de "mentiroso" foi diretor do jornal Expansão, Carlos Rosado de Carvalho. Na origem da polémica, um subsídio de mais de 18 milhões de dólares que terá sido pago à Niara Holdings, empresa pertencente a Isabel dos Santos.
Na sua conta no Facebook, o jornalista tinha ameaçado com um processo judicial contra a empresária. Mas em declarações a DW África disse tratar-se de "uma brincadeira". Agora, está à espera do processo que será movido contra o seu jornal por Isabel dos Santos pela publicação da matéria.
"Ela diz que eu sou mentiroso e respondi dizendo que ia processá-la porque não aceitava ser apenas o maior mentiroso de Angola. Se ela é a mulher mais rica de África eu tinha de ser pelo menos o maior mentiroso da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral]", ironiza.
Uma guerra perdida
Para o jornalista Félix Abias, esta "guerra" contra a imprensa pode colocar a imagem da empresária em xeque: "Esta postura pode macular a imagem que a sociedade tinha sobre ela. Não estou a falar da forma como ela enriqueceu. Falo da postura, da forma como ela comunicava com a sociedade. Era diferente, mais objetiva."
O jornalista entende, no entanto, que Isabel dos Santos tem o direito de "partilhar coisas nas redes sociais" e até "divertir-se com as pessoas". Mas Félix Abias condena "o tipo de publicações a fazer ataques aos jornalistas", que "não é muito bom, porque ninguém no mundo venceu a luta contra a imprensa".
Félix Abias deixa ainda alguns conselhos à empresária: "Evitar que continue a fazer estes ataques aos jornalistas, por exemplo, chamar os jornalistas de mentirosos, corruptos. É uma postura que não abona muito a figura que ela tem estado a construir ao longo destes anos."
Desde a sua saída da Sonangol, em novembro de 2017, a mulher mais rica de África só se envolve em polémicas. Em fevereiro deste ano, no julgamento que está a decorrer em Paris, após acusações sobre negócios polémicos na operadora angolana Unitel, Isabel dos Santos disse que o seu forte "não são as contas". A brasileira Oi exige aos sócios de Angola uma indemnização de 2700 milhões de euros.
Mesmo sem a Sonangol, Isabel dos Santos ainda tem um império empresarial
A mulher mais rica de África, filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, foi exonerada da liderança da petrolífera estatal angolana. Mas continua a ter uma grande influência económica em Angola e Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Bilionária angolana diz adeus à Sonangol
A 15 de novembro, Isabel dos Santos teve de renunciar à presidência do conselho de administração da Sonangol. Em meados de 2016, o seu pai, o então Presidente José Eduardo dos Santos, nomeou-a para liderar a companhia petrolífera estatal. A nomeação era ilegal aos olhos da lei angolana. O novo Presidente angolano, João Lourenço, estava, por isso, sob pressão para demitir Isabel dos Santos.
Foto: picture-alliance/dpa
Carreira brilhante à sombra do pai
Isabel dos Santos, filha de José Eduardo dos Santos e da sua primeira mulher, a jogadora de xadrez russa Tatiana Kunakova, nasceu em 1973, em Baku. Durante o regime do seu pai, no poder entre 1979 e 2017, Isabel dos Santos conseguiu construir um império empresarial. Em meados de 2016, a liderança da Sonangol, a maior empresa de Angola, entrou para o seu currículo.
Foto: picture-alliance/dpa
Conversão aos princípios "dos Santos"
Isabel dos Santos converteu o grupo Sonangol, sediado em Luanda (foto), às suas ideias. Nomeou cidadãos portugueses da sua confiança para importantes cargos de gestão e foi muito criticada pela ausência de angolanos em posições-chave na empresa.
Foto: DW/N. Sul d'Angola
Presença firme nas telecomunicações
Mesmo após o fim da sua carreira na Sonangol, Isabel dos Santos continua forte no meio empresarial: possui 25% da UNITEL desde o seu lançamento, em 2001, a empresa tornou-se a principal fornecedora de serviços móveis e de internet em Angola. Através da UNITEL, dos Santos conseguiu estabelecer vários contactos comerciais e parcerias com outras empresas internacionais, como a Portugal Telecom.
Foto: DW/P. Borralho
Redes móveis em Portugal e Cabo Verde
Isabel dos Santos detém a participação maioritária na ZON, a terceira maior empresa de telecomunicações de Portugal, através de uma sociedade com o grupo português Sonae. Também em Cabo Verde, dos Santos - com uma fortuna estimada em 3,1 mil milhões de dólares, segundo a revista Forbes - está presente nas telecomunicações com a subsidiária UNITEL T+.
Foto: DW/J. Carlos
Expansão com a televisão por satélite
Lançada em 2010 por Isabel dos Santos, a ZAP Angola apresenta-se como o maior fornecedor de televisão por satélite no país. Desde 2011, a ZAP está presente também em Moçambique, onde conquistou uma parcela importante do setor. Em Moçambique, a empresa compete com o antigo líder de mercado, a Multichoice (DSTV), da África do Sul.
Foto: DW/P. Borralho
Bancos: o segundo pilar do império
Atrás das telecomunicações, o setor financeiro é o segundo pilar do império empresarial de Isabel dos Santos. A empresária detém o banco BIC juntamente com o grupo português Américo Amorim - o empresário português conhecido como "o rei da cortiça" que morreu em julho de 2017. É um dos maiores bancos de Angola, com cerca de 200 agências. É também o único banco angolano com agências em Portugal.
Foto: DW/P. Borralho
Com a GALP no negócio do petróleo
Também no petróleo, dos Santos fez parceria com Américo Amorim. Através da empresa Esperanza Holding B.V., sedeada em Amesterdão, a empresária angolana está envolvida na Amorim Energia que, por sua vez, é a maior acionista da petrolífera portuguesa GALP. A GALP também administra os postos de gasolina em Moçambique (na foto) e em Angola onde, curiosamente, compete com a Sonangol.
Foto: DW/B.Jequete
Supermercado em Luanda
Em 2016, abriu em Luanda o Avennida Shopping, um dos maiores centros comerciais da capital angolana. Várias empresas do império dos Santos operam neste centro comercial, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL. Assim, a empresária beneficia em várias frentes do crescente mercado de bens de consumo em Luanda.
Foto: DW/P. Borralho
350 milhões de dólares em supermercados
Uma das maiores lojas do Avennida Shopping é o hipermercado Candando. É operado pelo grupo Contidis, controlado por Isabel dos Santos. Nos próximos anos, deverão ser construídos em Angola vários Candando. No total, a Contidis quer investir mais de 350 milhões de dólares nas filiais.