Angola: João Lourenço defende aposta na autoconstrução
Lusa
19 de outubro de 2019
Presidente angolano apelou, este sábado (19.10), no Bié, a um maior envolvimento dos privados para resolver problemas da habitação e pediu aos angolanos que não contem apenas com o apoio do Estado.
Publicidade
O Presidente angolano, João Lourenço, concluiu, este sábado (19.10), uma visita de dois dias ao Bié, onde passou pelos municípios de Cuemba e Cuíto, encontrando-se com a sociedade civil e representantes dos jovens para ouvir as suas principais preocupações.
O encontro do Presidente com a juventude da província era aguardado com expectativa. Interpelado por Virgílio Elias, um dos primeiros jovens a colocar questões a João Lourenço no âmbito do Diálogo com a Juventude, sugerindo a autoconstrução dirigida em loteamentos infraestruturados para colmatar a insuficiência habitacional, João Lourenço mostrou concordância com a sugestão. "É uma boa ideia, é disso que estamos à espera, que a iniciativa venha de vocês", afirmou, salientando que "não é viável ser só o Estado a construir centralidades [bairros sociais construídos pelo Estado]" e que não será esta a solução para os problemas habitacionais em Angola.
"É preciso que o Estado construa, que o setor privado construa e é preciso apostar fortemente na autoconstrução", em terrenos infraestruturados cedidos pelo Estado, uma ideia que pretende levar a cabo em futuras centralidades.
Dirigindo-se aos vários representantes de organizações juvenis e a uma plateia que encheu salão do Instituto Superior Politécnico do Cuíto, João Lourenço disse que está a trabalhar na resolução dos problemas, avisando que "é preciso o empenho de todos", em vez de contarem apenas com o apoio do Estado. "O executivo tem de fazer, os privados têm de fazer, a sociedade civil tem de alertar sobre o que não está feito ou está mal feito", exortou.
Entre os jovens, o desemprego foi outro dos temas centrais, com um dos representantes juvenis a afirmar que "a única escapatória, por vezes, são os concursos públicos" para o Estado. Ao que João Lourenço respondeu que o Estado "não pode ser o único empregador", reafirmando que está a trabalhar para "potenciar o desenvolvimento do setor privado" e convidando os privados "a ocupar o espaço que perderam".
Esta foi a segunda edição dos Diálogos do Presidente com a Juventude (a primeira aconteceu na província do Zaire) tendo sido escolhidos porta-vozes de várias associações juvenis para colocarem as suas questões e apresentarem sugestões.
Antes, João Lourenço tinha também auscultado elementos da sociedade civil local que focaram problemas semelhantes: o custo de vida, a falta de habitação, mas também os cuidados de saúde e assistência e a integração social, numa intervenção do porta-voz dos antigos combatentes.
Ainda durante a manhã, o presidente inaugurou um sistema de reforço de abastecimento de água da cidade do Cuíto, construído pela chinesa CR20, que vai servir mais de 105 mil habitantes, num investimento de cerca de 39 milhões de dólares (35 milhões de euros).
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.