Angola: João Lourenço quer MPLA focado nas autárquicas
Lusa | tms
16 de junho de 2019
No encerramento do VII Congresso Extraordinário do MPLA, João Lourenço apelou aos membros que se mantenham focados nas autárquicas de 2020. E disse que o partido está "rejuvenescido" com quadros superiores de qualidade.
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Num discurso no encerramento do VII Congresso Extraordinário do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), este domingo (16.06), em Luanda, o também Presidente de Angola referiu-se à estratégia do partido até às eleições previstas para 2020, apelou ao resgate dos valores e da cidadania, exigiu o cumprimento das obrigações fiscais por parte das grandes empresas e pediu maior apoio para as micro, pequenas e médias empresas.
Na esfera económica, o líder do MPLA, eleito em 2018 como substituto de José Eduardo dos Santos, apelou também ao aumento da produção nacional, de forma a diminuir as importações e aumentar a autossuficiência alimentar, e garantiu que o Governo a que preside "está a criar condições para o investimento do setor privado" no país.
"O aumento da produção nacional só se conseguirá se o setor privado se envolver. O Estado não foge das suas responsabilidades para ajudar a criar as infraestruturas - água, energia e acessos rodoviários e ferroviários -, mas cabe ao privado crescer e gerar emprego", disse João Lourenço.
Nesse sentido, lembrou estar em curso um processo de privatizações de empresas públicas "ociosas, que nada ou pouco produzem", pelo que a intenção é "descolar dessa prática" e "mostrar ao mundo" que Angola está a sair das "intenções para a ação".
"Temos de fazer chegar o crédito, ou o microcrédito, a todo o país, para que as pessoas não sejam obrigados a deslocar-se a Luanda, tarefa que cabe aos bancos, que têm de passar a ter dimensão nacional para ir ao encontro dos cidadãos", defendeu João Lourenço, entrando, por aí, na questão da descentralização do poder e as inéditas eleições para as câmaras municipais, previstas para 2020.
O líder do MPLA disse que todo este processo tem de deixar de ser conjuntural, limitado no tempo, "para se tornar para sempre", de forma a evitar o "muito peso" do Estado, nomeadamente nas empresas públicas, tirando "pressão" ao emprego na administração pública: "O Estado não pode ser o empregador número um", afirmou.
Eleições e desenvolvimento
Nesse sentido, mostrou-se convicto de que, com a entrada de novos 134 membros para o Comité Central do MPLA (decisão aprovada no sábado no conclave e que aumentou o número de elementos deste órgão para 497), na maioria com menos de 45 de idade anos e com formação superior, o rejuvenescimento do partido está garantido, preparando-o para os desafios do desenvolvimento e eleitorais.
João Lourenço negou que a entrada de novos membros para o Comité Central implique a saída da "velha guarda" e recorreu a nova analogia futebolística, ao afirmar que um treinador faz normalmente duas ou três substituições num jogo e que nunca viu um técnico a fazer oito ou nove, alertando, porém, que "poderá haver substituições, "que vão acontecer quando tiverem de acontecer e no tamanho que tiverem de acontecer".
"A meta é a ambição da produção, da exportação e do fomento do emprego e esse é um dever que cabe, antes de mais, aos militantes do MPLA, a todos. É um dever que temos de fazer pela pátria", concluiu.
O VII Congresso Extraordinário do MPLA, iniciado no sábado, terminou também com a eleição do novo secretário-geral do partido - entrou Paulo Pombolo, até agora secretário para a Informação e porta-voz do "Éme", para o lugar de Boavida Neto, no cargo desde setembro de 2018 - e com a votação para o novo Bureau Político, de 72 membros.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".