Muitos jornais em papel deixaram de circular em Angola por causa da crise económica. Embora desempregados, os jornalistas estão à procura de soluções no mercado online. Os desafios são vários.
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Jornalistas desempregados apostam no empreendedorismo digital para criar sites informativos em Angola. É o caso de Osvaldo do Nascimento, diretor do site "Na Mira do Crime". Este jornalista admite que passou por "uma formação intensa de jornalismo na Internet" antes de criar o projeto juntamente com um grupo de pessoas.
"A Internet é uma das ferramentas que faz com que o nosso trabalho vá para o ar e tem sido uma das principais condicionantes do nosso trabalho na criação de conteúdos noticiosos", admite.
Cada vez mais sites
O mercado dos sites informativos na internet tem crescido a passos largos em Angola. Portais como "Marimba", "O Decreto", "Factos Reais" e "Imparcial Press" surgiram nos últimos tempos e colhem interesse junto do público.
Desde o início da crise económica e financeira, em finais de 2014, agravada com a pandemia da Covid-19, semanários como a "Manchete", "Liberdade", "Visão" e "Continente" deixaram de circular em papel, apesar da lei angolana prever apoios aos órgãos privados.
Na busca por novos conteúdos, os novos portais de informação online deparam-se com a reticência das fontes.
"Boa parte dos governantes está habituada a falar apenas para órgãos públicos. Só dão importância aos sites quando veem os seus nomes divulgados numa ou noutra matéria por má gestão disto ou daquilo", exemplifica Osvaldo do Nascimento.
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Esforços "titânicos"
Osvaldo do Nascimento, que trabalhou como jornalista no jornal "A Capital", não esconde o desejo de ver o seu site evoluir para suporte físico, mas para isso precisa de apoios.
"Nós temos feito um esforço titânico para, pelo menos, todos os dias, publicar duas, três ou seis matérias. Sem apoios do Governo e de quem quer que seja, tem sido um tremendo esforço", relata.
O Estado News é um site angolano que recentemente evoluiu para jornal físico. Porém, a sua manutenção tem sido difícil, conta Jorge Neto, diretor desta publicação quinzenal que já vai na sua segunda edição.
"Os jornais, praticamente, não têm publicidades nenhumas por causa do seu próprio cariz e do sistema político em Angola", diz.
"Os donos das grandes empresas em Angola são titulares de cargos públicos", explica, levando-os a apertar os cordões à bolsa na hora de financiar projetos informativos.
O ex-jornalista e diretor do semanário "Manchete" afirma ainda que a pandemia e a crise económica vieram somar-se a esses desafios.
"Isso fez com que houvesse uma grande dificuldade na aquisição do papel, visto que o papel é importado e, em Angola, quase não se produz papel. O câmbio que nós temos tornou difícil às poucas gráficas importarem o papel", concluiu.
Países africanos que mais violam a liberdade de imprensa
Gana é o país africano mais bem classificado no "<i>Ranking</i> Mundial da Liberdade de Imprensa" dos Repórteres sem Fronteiras. A Eritreia é o pior em África e, a nível mundial, só é melhor que a Coreia do Norte.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
Eritreia - posição 179º lugar
A liberdade de imprensa é considerada "não existente". Em 2001, uma série de medidas repressivas contra <i>media</i> independentes levaram a uma onda de detenções. O Presidente Isaias Afeworki é visto como um “predador” da liberdade de imprensa e usa os meios de comunicação nacionais como seus porta-vozes. Escritores, locutores e artistas são censurados e a informação é escondida dos cidadãos.
Foto: picture-alliance
Sudão - 174º lugar
Na capital Cartum, pratica-se a chamada “censura pré-publicação". O Governo detém jornalistas arbitrariamente e interfere abertamente na produção de notícias. A "Lei da Liberdade de Informação de 2015" é vista como uma outra forma de exercer controlo governamental sobre a informação pública. Os jornalistas têm de passar por um teste e obter uma permissão para trabalhar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Burundi - 159º lugar
Repressão estatal contra a liberdade de imprensa e intimidação de jornalistas é comum no país. <i>Media </i> controlados pelo Estado substituem cada vez mais estações de rádio independentes, depois de a maior parte delas ter sido forçada a fechar, após uma tentativa de golpe de estado há três anos. Centenas de jornalistas fugiram do país desde 2015. Na foto, protesto de jornalistas no país.
Foto: Esdras Ndikumana/AFP/Getty Images
República Democrática do Congo - 154º lugar
Defensores dos <i>media</i> falam em jornalistas mortos, agredidos, detidos e ameaçados desde que Joseph Kabila sucedeu ao pai na presidência do país em 2001. Orgãos de comunicação internacionais queixam-se que o Governo interfere nos sinais de rádio ou corta mesmo a transmissão. Protestos da oposição levaram as autoridades a interromper ou cortar o acesso à Internet.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Suazilândia - 152º lugar
Esta monarquia absoluta tem a reputação de obstruir o acesso à informação e impedir os jornalistas de fazerem o seu trabalho. Os <i>media</i> estão sujeitos a leis restritivas e repórteres são frequentemente chamados a tribunal pelo seu trabalho. Auto-censura é comum. Um editor saiu recentemente do país depois de fazer uma reportagem sobre negócios obscuros ligados ao Rei Mswati III (na foto).
Foto: picture-alliance/dpa
Etiópia - 150º lugar
O Governo tem uma mordaça sobre os órgãos de comunicação e os jornalistas trabalham sobre condições muito restritivas. Com a Eritreia, este país tem uma das mais altas taxas de jornalistas detidos na África subsariana. Na foto, o jornalista etíope Getachew Shiferaw, que foi condenado a 18 meses de prisão por ter falado com um dissidente.
Foto: Blue Party Ethiopia
Sudão do Sul - 144º lugar
Os jornalistas são obrigados pelo Governo a evitar fazer cobertura do conflito. Órgãos de comunicação internacionais denuciaram casos de assédio e foram banidos deste jovem país, onde pelo menos 10 jornalistas foram mortos desde 2011. Na foto, dois jornalistas do Uganda que tinham sido detidos por autoridades no Sudão do Sul.
Foto: Getty Images/AFP/W. Wudu
Camarões - 129º lugar
O Governo chamou às redes sociais uma “nova forma de terrorismo”, e bloqueia frequentemente o acesso às mesmas. Emissões de rádio e televisão foram bloqueadas duas semanas em março, durante o período eleitoral. Jornais que publicam conteúdos que desagradam políticos no poder são banidos e jornalistas e editores são detidos.
Foto: picture alliance/abaca/E. Blondet
Chade - 123º lugar
Os jornalistas arriscam-se a detenções arbitrárias, agressões e intimidações. Nos últimos meses, o Governo tem vindo a reprimir plataformas de <i>social media</i> e ciber-ativistas. A Internet tem estado bloqueada no país desde 28 de março, no seguimento de um “apagão” da Internet devido a manifestações da sociedade civil e protestos dos órgãos de comunicação num chamado “dia sem imprensa”.
Foto: UImago/Xinhua/C. Yichen
Tanzânia - 93º lugar
Críticos dizem que o Presidente John Magufuli tem vindo a atacar a liberdade de expressão deliberadamente, desde que tomou posse em 2015. Jornalistas foram presos ou dados como desaparecidos. Orgãos de comunicação social foram fechados ou impedidos de publicar durante longos períodos de tempo. Leis que podem ser usadas contra os <i>media</i> foram apertadas.