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Angola: Jovens insurgem-se contra maus-tratos a cidadãos

23 de setembro de 2021

Organizações juvenis e da sociedade civil denunciam uma crescente "onda de intolerância política" em Angola. Jovens alertam para agressões e detenções arbitrárias que visam figuras críticas à governação de João Lourenço.

(Foto de arquivo)Foto: Borralho Ndomba/DW

Os líderes das organizações juvenis dos partidos da oposição e outras associações de jovens apartidários denunciaram a "brutalidade policial" exercida contra alguns jovens que protestaram contra o custo de vida nas províncias do Uíge e Zaire, no fim de semana.

Numa declaração conjunta apresentada à imprensa por Agostinho Kamuango, secretário-geral da Juventude Unida e Revolucionária de Angola (JURA), braço juvenil da UNITA, os jovens apelaram ao fim das intimidações aos críticos do Governo.

"Não podemos aceitar que os cidadãos continuem a ser maltratados só por pensarem diferente. Temos exemplos chocantes da atuação brutal dos agentes da Polícia Nacional, como é o caso recente das províncias do Uíge e Zaire", frisou Agostinho Kamuango.

Agostinho Kamuango, secretário-geral da Juventude Unida e Revolucionária de Angola (JURA)Foto: Borralho Ndomba/DW

"Jovens manifestantes indefesos foram agredidos até à beira da morte, numa altura em que o Presidente da República discursa na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Que imagem do país se quer passar afinal? Não vamos aceitar que estas práticas continuem a fazer caminho", garantiu.

Viver em pobreza extrema

Branco Ngola, membro do Movimento Hip Hop Terceira Divisão, diz que o desemprego crescente no país obriga os jovens a submeterem-se a "trabalhos escravos" em Luanda.

"Nas periferias vemos dez jovens a descarregarem cerca de mil sacos de arroz de 25 quilogramas. Eles ganham mil kwanzas (1,41 euros) pela descarga daquela quantidade, que pertence a um estrangeiro. E descarregam mais de mil sacos de arroz. Isso quer dizer que os dez jovens que transportam aqueles sacos de arroz, se juntarem os mil kwanzas não vão conseguir comprar um saco de arroz", denunciou.

"Não vale dizer que o país é independente e que há Governo neste país", acrescentou.

O serviço de táxi é, para muitos jovens desempregados, uma boia de salvação. Mas Alexandre Barros, secretário-geral da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), fala da marginalização da classe que representa.

"Lutamos há onze [anos] pela profissionalização desta atividade. Se o sapateiro, o médico e o engenheiro têm este imperativo constitucional de profissionais, os taxistas transportam o estudante, o médico, o feiticeiro, o político e tantos outros. Gostaríamos que o taxista fosse visto como um profissional primordial para o alavancar da economia em Angola", defendeu.

João Lourenço discursou esta quinta-feira (23.09) na Assembleia Geral da ONU, em Nova IorqueFoto: Timothy A. Clary/AP/picture alliance

Contra o aumento das propinas

Os jovens mostram-se ainda indignados com a decisão do Governo de aumentar o preço das propinas - 15% no ensino geral e 25% nas universidades - num momento em que vários estudantes de vários níveis de ensino abandonam os estudos por falta de condições financeiras. 

"Para nós é uma percentagem absurda. A gente questiona-se sobre o porquê de uma subida se não temos laboratórios. Estamos a encerrar cursos e universidades por falta de condições", adverte Evandra Fortunato, do Movimento dos Estudantes de Angola (MEA).

"Onde é que vamos tirar os 15 e 25%?", questiona.

A ativista apela aos jovens para que participem nas quatro manifestações de repúdio à subida das propinas marcadas para 25 de setembro, 9,16 e 26 de outubro.

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