Angola: Jovens vão às ruas "exigir alternância política"
Lusa
3 de fevereiro de 2021
Grupo promete marcha em várias províncias e até aos arredores do palácio presidencial, em Luanda. Com o lema "45 anos é muito, MPLA fora", manifestação é convocada pelo movimento Sociedade Civil Contestatária.
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Esta quinta-feira, 4 de fevereiro, feriado nacional em Angola, em celebração do 60.º aniversário do Dia do Início da Luta de Libertação Nacional, será marcado pela manifestação que pretende exigir a alternância política no país, governado desde 1975 pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).
"Entendemos que 45 anos de governação é muito tempo e, ao longo desse tempo, o MPLA quase nada fez, antes pelo contrário, piorou, com várias assimetrias sociais, brindou o povo com assassínios em série, com desemprego, com uma saúde e educação deficitárias, com a corrupção e outros males", afirmou esta quarta-feira (03.02) o ativista e um dos organizadores da marcha, Geraldo Dala.
Segundo este ativista, o MPLA "já não tem nada para dar para o país", considerando ser este "um projeto político falhado em Angola cujo propósito dos seus dirigentes é apenas a manutenção no poder".
"Despertar os angolanos"
Geraldo Dala disse ser esta a segunda manifestação que o movimento organiza visando "despertar os angolanos" e, por outro lado, "mostrar que o povo quer alternância política", referindo que a mesma deve decorrer igualmente noutras províncias angolanas.
Em Luanda, os ativistas devem concentrar-se às 10h de quinta-feira, no largo do cemitério da Santa Ana, e marchar até perto do palácio presidencial, na Cidade Alta.
De acordo com ativista, o Governo da província de Luanda já foi informado sobre esta marcha e a organização já manifestou um encontro, há duas semanas, com as autoridades policiais. "E pelo menos até ao momento não há nenhum impedimento", realçou, defendendo que é preciso salvar o país das mãos de pessoas cujo único objetivo é a manutenção no poder e sem interesse no bem-estar da população", disse.
Luanda: "Governo assassino, acaba de me matar"
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"Ativistas querem o melhor para o país"
À margem da conferência de imprensa, a ativista Lili da Conceição garantiu, em declarações à agência de notícias Lusa, estar pronta para a manifestação, afirmando que "Angola é um país democrático e os cidadãos/ativistas apenas querem o melhor para o país".
"Somos jovens formados e desempregados, o aumento do nível de preços também é preocupante, o país está a ir de mal para o pior e ninguém faz nada", disse.
Na província do Bengo, o ato central do feriado nacional em Angola vai decorrer sob o lema: "Preservar e Honrar a Memória dos Heróis da Pátria Angolana".
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.